Novela de Brunoh Franco
Primeira Fase
CENA 01/MANSÃO DE WELLINGTON/SALA/INTERIOR/DIA
Trilha: Instrumental Suspense Frio
LUCIANA — Do que você está falando? Isso não é possível, você está perfeito.
WELLINGTON — É o que todos dizem.
LUCIANA — Todos? Mais alguém sabe? Quanto tempo faz que descobriu?
WELLINGTON — Ontem, antes da festa. Mas isso é mais um motivo para adotarmos essa criança.
LUCIANA — Você vai morrer?
WELLINGTON — Eu não sei. Eu realmente não sei.
Luciana abraça Wellington.
LUCIANA — Vai ficar tudo bem.
Luciana muda sua expressão para um olhar sombrio.
CENA 02/MANSÃO DE WELLINGTON/QUARTO DE MATHEUS/INTERIOR/DIA
Zara volta para o quarto. Matheus está sentado na cama, de terno e colocando um sapato social preto.
ZARA — Fico feliz que tenha repensado em ir.
MATHEUS — Sabe que eu detesto restaurante chique.
ZARA — É por mim, querido. Essa reunião vai definir se eu entro ou não para essa agência.
CENA 03/COMUNIDADE SÃO REMO/BAR DE LULAICA/INTERIOR/DIA
Lulaica está atrás do balcão. Débora está sentada em um banco, sobre o balcão.
DÉBORA — Está cada vez mais difícil conviver com minha mãe.
LULAICA — É porque vocês pensam diferente. Entenda o lado dela, a gente não pode mudar a cabeça das pessoas. Cada um enxerga a vida de uma forma diferente.
DÉBORA — Não é só o fato de ela querer que eu aborte a Barbara. Ela fica me obrigando a pedir alguma coisa para o Wellington Moraes.
LULAICA — Amiga, por que não pede uma casa? Assim você deixa sua mãe sozinha e você vai viver sua vida longe dela.
DÉBORA — Ela é uma pobre ambiciosa, tenho medo do que ela possa fazer por dinheiro.
LULAICA — Já que você não quer denunciar o Wellington, então arranca alguma coisa dele. Culpado ou não, o Carlos morreu por culpa dele, mesmo que ele não tenha o matado.
DÉBORA — Não posso fazer isso. Seria como trair o Carlos. Prometi para mim mesmo que eu não iria me envolver com mais ninguém, eu não posso fazer isso com ele.
LULAICA — Credo, você fala como se devesse alguma coisa para o Carlos. É difícil, eu sei. Mas ele se foi, você não deve nada à ele.
DÉBORA — Na verdade eu devo, amiga. Muito. O Carlos foi um anjo na minha vida.
LULAICA — Por quê? O que ele fez que você deve tanto?
DÉBORA — Promete não contar para ninguém?
LULAICA — Prometo. Claro que prometo.
DÉBORA — Lembra aquela vez que o Carlos e eu nos separamos?
LULAICA — Sim, logo em seguida vocês voltaram a ficar e você engravidou, foi a Baah que uniu vocês novamente.
DÉBORA — Eu fiquei com outro cara, na época. Ele ficou com outra mulher, eu sei. Mas no meu caso, resultou na gravidez.
LULAICA — Como assim? Está me dizendo que a Barbara é filha de outro homem?
DÉBORA — Sim. E o Carlos sabia, mas ele não se importou, disse que foi um erro, mas todos cometeram erros, ele me perdoou.
Selma entra.
SELMA — Como é a história, Débora?
Débora e Lulaica se olham surpresas.
CENA 04/RESTAURANTE/INTERIOR/NOITE
Zara e Matheus estão sentados sobre a mesa. O local é bem chique. Matheus vira uma taça de champanhe na boca de uma vez.
ZARA — Meu Deus, Matheus. Você já está na segunda garrafa.
MATHEUS — (meio alterado) Cadê esse homem? Tô dizendo, rico só atrasa. Rico nunca chega no horário. Por isso eu queria voltar a ser pobre.
ZARA — Fala baixo, Matheus. Você está me deixando com vergonha.
MATHEUS — Sabe de uma coisa? Vamos embora.
Matheus se levanta, meio tonto, ele esbarra na garrafa de Champanhe e derruba em Zara. Todos olham.
ZARA — Meu Deus, olha só!
MATHEUS — Em casa você limpa.
O dono do restaurante e um segurança se aproximam.
DONO — Senhor, peço que se retire, por gentileza.
MATHEUS — (gritando) O quê? Você sabe com quem está falando? Eu sou Matheus Mendonça de Moraes.
SEGURANÇA — Belo nome, moço. Agora, saia!
MATHEUS — Eu não vou sair! (Aponta o dedo na cara do segurança) Eu tenho muito dinheiro, sabia que na minha carteira, hoje tem o triplo do que você recebe? Eu posso mandar fechar essa espelunca!
ZARA — (envergonhada) Matheus, chega. Vamos embora.
DONO — Escute sua mulher.
MATHEUS — (bêbado) Minha mulher não sabe de nada. Ela é uma otária, acha que vai ser modelo.
O segurança segura Matheus pelo braço.
SEGURANÇA — Aqui você não vai ofender sua mulher.
O segurança arrasta Matheus pelo braço. Zara sai completamente envergonhada.
/Corta para área externa do restaurante
Matheus está sentado na calçada, vomitando. Zara está na frente do restaurante conversando com o dono da agência. Ela implora por algo, mas o homem entra em seu carro e sai. Zara se aproxima chorando.
ZARA — Tá vendo?! Ele estava lá dentro o tempo todo, me vigiando, olhando meu jeito. E sabe por que eu não fui aprovada? Por causa do seu vexame!
MATHEUS — Essa palhaçada de ser famosa não é pra você! Chega, o motorista já foi buscar o carro. Nós vamos embora!
CENA 05/MANSÃO DE WELLINGTON/QUARTO DE WELLINGTON/INTERIOR/NOITE
Trilha: Instrumental Suspense
O quarto está escuro, apenas a claridade da lua ilumina metade do ambiente. É possível ouvir o barulho do chuveiro ligado, é Wellington quem está lá.
Luciana caminha lentamente pelo quarto, usa sua camisola preta e fuma seu cigarro Black. Ela olha pela sacada, diretamente para o mar.
LUCIANA — Não vai viver! Se essa doença não acabar com você, eu acabo.
Luciana olha para a lua.
LUCIANA — Eu sei que não é o Deus do evangelho, mas tem algum Deus me ajudando nessa hora. E eu espero que seja o Deus das trevas!
Luciana olha com olhar macabro para o mar. A porta de acesso à sacada fecha com tudo e bate. Luciana se assusta e olha para trás.
CENA 06/COMUNIDADE SÃO REMO/BAR DE LULAICA/INTERIOR/NOITE
SELMA — Vamos, começa a falar!
DÉBORA — Isso não é da sua conta.
SELMA — Claro que é! Você é minha filha, é nova. Mora debaixo do meu teto, come da minha comida. Eu exijo uma explicação.
LULAICA — Dona Selma, não é melhor conversarem em casa?
SELMA — Cala a boca, sua imprestável. Vá cuidar do seu bar falido.
Lulaica sai de trás do balcão e pega Selma pelo braço.
LULAICA — Escute aqui, sua velha infeliz. Não é porque você é velha e mãe da Débora que eu não vou tratá-la da forma que você merece. Aqui no meu bar, vaca barraqueira como você não são bem-vindas, e você está proibida de pisar os pés no meu bar falido.
Lulaica arrasta Selma e lhe joga no chão, na porta do bar.
SELMA — Sua falida! Ninguém me trata dessa maneira. Eu desejo que você sofra, seus próximos dias sejam de dor e sofrimento. Desgraçada!
Selma sai andando. Lulaica passa as mãos entre os ombros.
LULAICA — Misericórdia, eu senti até um arrepio. Meu Deus.
DÉBORA — Não liga, amiga. Minha mãe acha que é alguma pessoa importante, que pode jogar praga em alguém.
LULAICA — Credo, mas eu senti uma energia ruim. Enfim, me diga, quem é o cara?
DÉBORA — Ah, a gente se conheceu em um bar. Fomos para um motel. Duas vezes, mas nunca mais o vi.
LULAICA — Qual nome dele?
DÉBORA — Ele se apresentou como Miguel. Mas esses homens mentem o nome. Só que não foi especial, foi só um lance.
LULAICA — Bom, pelo menos você não mentiu para o Carlos.
CENA 07/MANSÃO DE WELLINGTON/SALA/ INTERIOR/NOITE
Zara e Matheus entram em casa.
Matheus, bêbado, se esbarrando em tudo.
MATHEUS — (bêbado) Vamos dar um festa? Agora!
ZARA — Não começa! Vamos dormir. Você precisa de um banho.
Matheus liga o som.
Trilha: Um tapinha não dói
Matheus aumenta o volume, sobe em cima do sofá e começa a dançar. Luciana e Wellington estão dormindo e acordam com o funk alto.
WELLINGTON — O que é isso?
LUCIANA — Que palhaçada é essa?
Wellington e Luciana levantam e saem do quarto. Eles surgem no alto da escada. Matheus está só de cueca, rodando a calça para o alto.
WELLINGTON — Matheus, o que está acontecendo?!
MATHEUS — Sua festa, parte dois!
LUCIANA — Ah, não. De novo não.
WELLINGTON — Chega com essa bagunça!
MATHEUS — Agora vem a melhor parte!
Matheus tira a cueca e fica pelado. É possível apenas ver sua bunda. Ele dançando no alto do sofá, dançando e balançado o órgão genital para Zara. Ela completamente envergonhada. Luciana gostando da cena, Wellington irritado. Ele desce as escadas e segura Matheus.
MATHEUS — (bêbado) Você está encostando lá. Cuidado, irmão adotivo não é irmão de sangue.
WELLINGTON — Me poupe, Matheus!
MATHEUS — Dá um beijinho, seu gostoso!
Wellington arrasta Matheus, escondendo sua bunda e seu pênis com a calça. Eles sobem as escadas.
/Corta
Matheus embaixo do chuveiro, Wellington lhe dando banho.
WELLINGTON — Sinceramente, não dá.
MATHEUS — Eu já estou bem! Me deixe sozinho.
WELLINGTON — Toda vez é a mesma palhaçada! Ninguém aguenta mais, Matheus!
MATHEUS — Me joga na rua de novo!
WELLINGTON — Não vou discutir com você.
Wellington sai do banheiro. Luciana encara Matheus de longe e lhe olha com cara feia. Ele percebe. Wellington se aproxima de Luciana.
LUCIANA — Conversa com ele amanhã. Senão eu desisto de morar nessa casa.
Luciana sai andando.
CENA 08/BAR DE LULAICA/INTERIOR/NOITE
LULAICA — Você pode dormir aqui quanto tempo precisar.
DÉBORA — Obrigada, amiga.
LULAICA — Vamos fechar o bar e por o Esdras pra dentro. Ele está jogando bola no campinho.
Uma criança se aproxima do bar, desesperada.
CRIANÇA — Tia Lulaica! Tia Lulaica! O Esdras! O Esdras!
LULAICA — O que foi, garoto! Eu, hein. Calma.
CRIANÇA — O Esdras, ele foi atropelado. Está estirado na avenida.
LULAICA — O QUÊ?!
Débora e Lulaica saem correndo.
Congelamento na imagem aérea da comunidade
FIM DO CAPÍTULO
Comentários
Postar um comentário