Novela de Brunoh Franco
Primeira Fase
Cena 01/Praia de São Remo/Exterior/Dia
Trilha: ANAVITÓRIA_Rita Lee - Amarelo, azul e branco
CAM: Mergulha por cima do mar, com a trilha de fundo, mostrando imagem aérea do píer de São Remo.
Letreiro: São Remo - Litoral Norte de São Paulo
Débora e Carlos estão correndo na areia, Débora usando um vestido branco de renda que balançava junto ao vento daquela manhã. Carlos está de bermuda branca, sem camisa e ambos descalços e felizes. Eles se olham e encostam a testa e o nariz, se encarando, sentindo a respiração ofegante.
CARLOS — Eu te amo.
DÉBORA — Eu também te amo, meu amor.
CARLOS — Eu vou te dar o mundo!
DÉBORA — Não preciso de muito. Você é tudo o que eu tenho.
Carlos sorri e beija Débora.
CARLOS — (ABRE OS BRAÇOS, OLHANDO PARA CIMA) Eu te amo, Débora!
Gritou.
CAM: Imagem aérea.
Cena 02/Mansão de Wellington/Quarto/ Interior/Dia
O quarto está bagunçado, há várias garrafas de Champanhe caídas sobre o tapete. A janela da sacada está aberta, é possível sentir o vento adentrando com a brisa e o barulho do mar. Wellington está jogado, debruço em sua cama, completamente pelado, apenas com o edredom cobrindo da cintura para baixo. Luciana se levanta, está usando sua langerie branca, vai até o toca disco e coloca o disco para tocar.
Trilha: Irma Thomas - Anyone Who Knows What Love Is
Ao som da trilha, Luciana caminha até a sacada do quarto, acende seu cigarro Black e fuma, olhando o mar do outro, fora do condomínio que mora. A mansão fica entre as montanhas, então é possível ter toda visão do mar logo a frente.
Wellington surge atrás, está de cueca e sem camisa.
LUCIANA — Eu te acordei?
WELLINGTON — Já são meio-dia. Um homem de negócios nunca fica na cama até esse horário!
LUCIANA — É dia primeiro, amor. Ano novo! Não pense em negócios. Além do mais hoje é seu aniversário. Está ficando mais velho.
Luciana muda o semblante para triste.
WELLINGTON — Isso te preocupa?
LUCIANA — Um pouco. Tenho medo que me troque por uma mulher mais madura. Eu só tenho vinte e cinco anos, eu sei que sou nova demais para você.
WELLINGTON — Eu jamais faria isso! Quando te conheci naquele hotel, foi amor a primeira vista. Eu que tenho medo de você me trocar por um novinho.
LUCIANA — Não fala besteira, Wellington! Enfim... Animado para a festa?
WELLINGTON — Outra? Já tivemos a festa da virada de ano.
LUCIANA — Quem mandou nascer dia primeiro de janeiro, mocinho? Coloca roupa, te espero para o café da manhã.
Luciana apaga o cigarro no cinzeiro e sai. Wellington observa o mar.
Cena 03/ Mansão de Wellington/Mesa do Café da Manhã/Interior/Dia
Corta trilha
Wellington e Luciana estão sobre a mesa, tomando café. Matheus desce com duas garotas, aparentemente prostitutas. Ele está todo amarrotado, com uma camiseta social branca, manchada de vinho e com os botões colocados de forma errada.
MATHEUS — Eu ligo para vocês, gostosas!
Matheus entrega um envelope para cada garota. As garotas saem.
WELLINGTON — Eu não vou admitir isso!
MATHEUS — (sentando) Admitir o quê?
WELLINGTON — Sabe que não é da nossa índole trazer garotas de programa para essa casa.
MATHEUS — Não faz isso porque está casado com a Luciana.
LUCIANA — Pensei que estivesse noivo da Zara.
WELLINGTON — Depois da forma que ele a tratou ontem na festa, duvido que ainda estejam.
MATHEUS — Com a Zara eu me resolvo depois. Não precisam se preocupar.
WELLINGTON — Você já está com vinte anos, Matheus. Já está na hora de se preocupar com sua parte da empresa e começar a administrar junto comigo.
MATHEUS — (ri ironicamente) Vinte porcento? Essa merreca que seu pai me deixou?
WELLINGTON — Nosso pai.
MATHEUS — Seu pai! Me tirou do abrigo pra quê? Pra me deixar nada!
WELLINGTON — Ele só preferiu deixar para quem ele sabia que iria administrar da forma correta.
MATHEUS — E tem alguma coisa correta nessa empresa? Ah, sim, claro que tem. A forma correta que vocês são corruptos, não é?
LUCIANA — Chega! Matheus, como mulher do Wellington, eu exijo respeito comigo dentro desta casa!
MATHEUS — Vocês são chatos e caretas! Mas fiquem tranquilos, eu vou me mandar, não vou depender do seu dinheiro, Wellington.
WELLINGTON — Matheus, toda essa fortuna também é sua. Nossos pais deixaram para nós.
MATHEUS — Agora você forçou, Wellington. Eu nem conheci essa mulher que chamei de mãe. Quando fui adotado, ela já havia morrido. Nosso pai morreu alguns anos depois. Não precisa forçar afeto, eu não sei o que é isso!
Matheus se levanta e sai da mesa. Luciana e Wellington ficam apreensivos.
Cena 04/Praia/Exterior/Dia
Barulho das ondas ao fundo
Débora e Carlos estão deitados na areia, a praia estava vazia. Carlos está encostado em um tronco, e Débora está deitada entre suas pernas.
DÉBORA — Essa foi a melhor virada de ano da minha vida!
CARLOS — Eu queria poder ter levado você para outra praia. Já conhecemos todas as praia aqui de São Remo, mas foi de coração.
DÉBORA — Eu sei que foi.
CARLOS — Amanhã é um grande dia. É o dia em que finalmente Wellington Moraes e eu estaremos cara a cara!
DÉBORA — Ainda está com essa história, Carlos?
CARLOS — Eu não vou desistir, querida. Eu tenho provas suficiente para botar Wellington e sua quadrilha na cadeia!
DÉBORA — Sabe dos riscos que isso lhe propõe?
CARLOS — Fique em paz. Nada de ruim vai me acontecer.
Enquanto conversam na areia. Enzo está dentro de um carro preto, observando os dois.
ENZO — (TEL.) É só me dar um ok e eu executo o plano, senhor!
Cena 05/Consultório de Walmir/Interior/Dia
Wellington entra no consultório.
WELLINGTON — Eu sabia que você estaria trabalhando hoje, Walmir.
WALMIR — Eu lutei para abrir este consultório, não consigo ficar com ele fechado.
WELLINGTON — Meus parabéns, meu amigo. Eu fico feliz em ver que você conseguiu abrir seu consultório. E pode deixar, eu vou trazer todos meus amigos para se consultarem aqui.
WALMIR — A ideia é abrir uma clínica particular. Está no topo das minhas prioridades futuras.
WELLINGTON — Quero estar aqui para celebrar com você!
Cena 06/Mansão de Wellington/Quarto de Matheus/Interior/Dia
Trilha: Instrumental Suspense Frio (Maldades)
Luciana entra no quarto de Matheus. Ele está deitado, só de cueca e todo aberto na cama.
CAM: pega imagem por cima, exibindo todo o corpo de Matheus.
Luciana começa a bater em Matheus com o travesseiro.
LUCIANA — Acorda, seu imbecil! Acorda!
MATHEUS — Ei! Que merda é essa?
LUCIANA — Se não bastasse eu ter que aturar você com a sonsa da Zara, agora tenho que ver duas vagabundas dormindo com você?!
Matheus se levanta e agarra Luciana pega cintura.
MATHEUS — Tá com ciúme, minha gata?
LUCIANA — (Se esquiva) Não vem, não! Quantas vezes eu vou ter que falar que não quero você brigando com o Wellington? Já falei que falta pouco, falta bem pouco para colocarmos as mãos em tudo.
MATHEUS — Está me falando isso desde o dia em que o velho me adotou naquele abrigo!
LUCIANA — E veja aonde já chegamos. Eu consegui me casar com o Wellington, mesmo ele sendo mais velho, pelo menos eu consegui. Você acha que eu suporto deitar na mesma cama que ele? Eu não suporto a respiração dele, mas tudo faz parte do plano.
MATHEUS — Sinto falta da gente, mesmo que a época do abrigo era difícil, sinto falta de quando você eu estávamos juntos. Éramos Bonnie e Clyde daquele lugar.
LUCIANA — Nunca mais repita isso! Aquele lugar é um inferno, aquela mulher é uma desgraçada! Nunca mais repita isso! Nunca mais!
Abrigo/Quarto/Interior/Noite
Luciana, ainda adolescente, está deitada na cama. Augusta entra.
AUGUSTA — Você ainda está deitada?! O homem está esperando.
LUCIANA — Não sei se devo fazer isso.
AUGUSTA — Você sabe que já tem quinze anos, ninguém te adotou, Luciana! Ninguém vai te dar emprego. As coisas estão faltando na geladeira, pense nas crianças mais novas que também vivem aqui e precisam comer.
LUCIANA — Não era assim que eu queria perder minha virgindade.
Augusta pega Luciana pelo braço e aperta com força.
AUGUSTA — Escute aqui, sua putinha! Você não é nenhum bebezinho, já tá na hora sim de se deitar com um homem como uma mulher de verdade! Se quiser sobreviver aqui, vai ter que trabalhar para mim! Você vai se deitar com ele, e vai trazer o dinheiro contado, entendeu?
Fim do Flashback: Atualmente
Continuação da cena 06
LUCIANA — (Chorando) Depois que você se foi, a minha vida virou um inferno. Eu tinha você, lá eu tinha você. Quando vi você saindo por aquela porta, entrando no carro de David Moraes. Eu achei que minha vida acabaria naquele momento.
MATHEUS — Esses três anos nós sempre estivemos juntos. Mesmo longe, veja só. Agora você se casou com o Wellington. Esquece o que te aconteceu naquele abrigo.
LUCIANA — Eu daria tudo para voltar lá e esfregar na cara daquela velha como eu estou agora.
Cena 07/Consultório de Walmir/Interior/Dia
WALMIR — Bom, Wellington. A conversa está boa, mas está na hora de abrirmos o exame.
WELLINGTON — Já quero começar o ano com a certeza de que minha única preocupação será em ganhar dinheiro.
Walmir abre o exame, analisa e muda a expressão.
WELLINGTON — Então?
WALMIR — Meu Deus. Seu fígado está todo comprometido. É um câncer avançado. Wellington, como está vivendo assim?
Wellington olha preocupado e assustado para Walmir.
Cena 08/Consultório de Walmir/Interior/Dia
Continuação da cena 07
Trilha: Instrumental Tensão Triste
WALMIR — Wellington, sabia sobre este câncer?
WELLINGTON — Não. Sim, na verdade, não. Eu sentia algumas coisas, mas pensei que fosse excesso de Whisky que eu tomo no meu escritório.
WALMIR — Isso motiva seu inchaço abdominal.
WELLINGTON — Eu vou morrer?
WALMIR — Não sei se tem como tratar, é impossível que esteja bem, com um câncer quase se espalhando pelo seu corpo.
WELLINGTON — Não me sinto tão mal. Pensei que algumas coisas fossem excesso de trabalho.
WALMIR — Esse "pensei" é o que acaba com todo mundo. Vamos iniciar um tratamento, mas não posso garantir que durará muito tempo. Geralmente pessoas com este nível de câncer conseguem sobreviver em até cinco anos, mas você já está em um nível avançado, Wellington. Bastante avançado.
Cena 09/Mansão de Wellington/Quarto de Matheus/Dia
Luciana está sentada na ponta da cama. Matheus sai do banho.
MATHEUS — Meu Deus, Luciana! Você ainda está aí.
LUCIANA — Estou aproveitando que o Wellington não está em casa e quero ficar mais com você.
MATHEUS — Ih, lá vem. Tem coisa ai.
LUCIANA — Como assim?
MATHEUS — Você está rodeando muito, Luciana. O que está pegando?
LUCIANA — Sabe de uma coisa, eu não vou conseguir esconder. Eu estou grávida!
Matheus olha surpreso para Luciana. Os dois se encaram.
Cena 10/Praia/Exterior/Dia
Carlos e Débora forraram uma toalha na areia e comeram os petiscos que eles haviam comprado no Quiosque
DÉBORA — Amanhã tenho que voltar para casa, ter que enfrentar minha mãe novamente.
CARLOS — Aguenta mais um pouco. Sei o quanto sua mãe é chata, mas eu vou tirar você de lá o mais rápido possível.
DÉBORA — Eu vou entrar na água. Você vem?
CARLOS — Vou terminar de saborear esse petisco. Eu te amo, meu amor.
DÉBORA — Eu também te amo, querido.
Débora caminha até a água, Carlos a observa ir lentamente, entrando na água e nadando entre as ondas. Dentro do carro, Enzo estava no telefone e olhando Débora e Carlos na areia.
ENZO — (TEL.) Tudo certo? Perfeito!
Enzo sai do carro e se aproxima de Carlos.
ENZO — Ei, Wellington Moraes lhe mandou um presentinho.
Carlos olha assustado para Enzo. Enzo atira várias vezes contra Carlos. Algumas pessoas que estavam pelas redondezas saem correndo. Débora vê tudo de dentro d'água.
DÉBORA — NÃÃÃOOO!!!!!
Congela na vista aérea da praia
FIM DO CAPÍTULO
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