ALMA GUIA - CAPÍTULO 10
CENA 01 - CAMPO DAS UVAS / RECANTO / MANHÃ
Meratriz - Me desculpa Renato, não foi minha intensão! (fica de costas) - Estou muito envergonhada do que acabei de fazer…
Renato - Não fique com vergonha, só por causa de um beijo!
Meratriz (olha para Renato) - Então podemos continuar tendo a nossa conversa?
Renato - Claro que sim, e foi justamente por isso que te liguei… pois eu preciso muito da sua ajuda!
Meratriz - Pela ligação dizia estar precisando de uma quantia…
Renato - Sim! Acabei fechando um contrato de antecipação que não devia e agora, o cliente está pedindo o dinheiro de volta. O problema que o banco de Recanto está fora de área e ninguém consegue mexer na conta para fazer uma transação, nem se quer, sacar na agência.
Meratriz - E como posso te ajudar?
Renato - Por você ser de fora, sua conta deve ser de outro banco. Então eu preciso que faça uma transferência em meu nome para meu cliente e assim que minha conta estiver liberada, lhe devolvo cada centavo.
Meratriz - Está bem, eu te ajudo! Mas poderíamos acrescentar um café, comer alguma coisa, enquanto fazemos o acordo da transferência?
Renato - Claro, algum lugar específico?
Meratriz - Estava aqui pensando de irmos na sua casa. Assim, aproveito para conhecer mais sobre o dono das uvas! Que tal?
Renato (dá uma risadinha) - Se faz questão, então vamos!
Enquanto Meratriz olha para o Campo das Uvas como se fosse todo seu, Renato cumprimenta seus funcionários com seu jeitinho bobo e logo entra no carro para ir embora.
Na mansão Vallere, Meratriz desce do carro e começa analisar cada detalhe da casa.
Meratriz - Que casa mais linda! (expressa fascinação)
Renato - Se está achando minha casa linda aqui por fora, imagina quando estiver dentro dela!
Ao entrarem… Meratriz deixa a bolsa no sofá e se encanta mais ainda com tamanha luxuosidade.
Renato - O que achou?
Meratriz - Estou encantada! (rodeia a sala toda) - Se eu não tivesse certeza que fosse uma casa, apostaria que tinha entrando num palácio. (vê um porta retrato de Aline Ventura na estante de vinhos) - Quem é essa?
Renata - Um grande amor do passado, que me deixou por causa de um terrível acidente de carro, bem no dia que íamos nos casar.
Meratriz - Eu sinto muito Renato!
Renato - Isso foi há muito tempo! O que sobrou de Aline foram boas lembranças.
No decorrer da conversa (Henrique, Vera e Melissa) descem a escada.
Renato - Inclusive, a maior lembrança dela está aqui, minha filha Melissa!
Meratriz - Essa é sua filha?! (demonstra surpresa)
Melissa - Você aqui!
Renato - Ué, vocês já se conhecem?
Meratriz - Uma vez nos esbarramos na rua por acaso! (dá um sorriso) - Sua filha é um amor de pessoa, muito amável; um anjo!
Melissa - Mas naquele dia…
Meratriz - Desculpa interromper, mas esses quem são?
Renato - São os pais de Aline!
Meratriz - Um enorme prazer e satisfação em conhecer vocês! (cumprimenta com beijinhos no rosto) - Meu nome é Meratriz!
Vera - Sou Vera e esse é meu marido Henrique, o novo prefeito da cidade.
Henrique - As eleições nem começaram e já sou o prefeito, vê se pode!
Vera - Não interessa! O importante é que o povo de Recanto te escolha e faça da sua imagem um homem intrigo, formal e sem rótulos como dizia minha filha. E quem sabe futuramente, não seja convocado para ser o presidente do país!
Renato - Gente, vamos parar de falar tanta besteira que preciso resolver um assunto urgente com Meratriz, e não pode atrasar mais nenhum minuto.
Vera - Claro, já estávamos de saída! (ajeita a postura) - Vamos Melissa, te deixo na aula de dança e de lá, vou acompanhar a reunião das eleições.
Henrique - Então vamos, que estamos atrasados!
Vera - Ah Meratriz, venha jantar conosco esta noite, será uma honra ter sua companhia.
Meratriz - Claro, venho sim!
Quase saindo da mansão, Melissa inventa uma desculpa para os avós que esqueceu algo em seu quarto e volta para buscar.
Chegando na sala, Melissa não encontra ninguém e logo avista a bolsa de Meratriz no sofá.
Olhando para os lados com medo de ser pega, Melissa abre a bolsa e começa vasculhar até achar o que tanto procura.
Na cozinha, Renato escreve em seu notebook pequenas informações num documento sobre o favor… para que não haja nenhum mal entendido futuramente.
Renato - Só vou precisar do seu documento de identidade para finalizar o acordo.
Meratriz - Vixi, deixei a minha bolsa lá no sofá da sala; só um minutinho que vou buscar!
A mulher das garras caminha até a sala e pega Melissa no flagra quase saindo pela porta de saída.
Meratriz - Ei garotinha, achei que estivesse ido para sua aula de dança com seus avós. O que faz aqui ainda?
Melissa - É que acabei esquecendo um acessório importante no quarto e resolvi voltar para pegar-lo.
Meratriz - Interessante, pois não vejo nada em suas mãos! Cadê o acessório?
Melissa - Eu até te mostraria, se não fosse uma estranha e intrometida! (sai e bate a porta)
Meratriz - Ah sua pirralha esquelética… (pega a bolsa com raiva) - O seus dias estão contados!
Do lado de fora da casa, Melissa pega a chave de ouro que está em sua cintura e corre pro carro toda contente.
CENA 02 - SERGIPE BRASIL / MANHÃ
Com bons disfarces, Andressa e William fazem compras no shopping da cidade.
Andressa - Está na hora de irmos para rodoviária, senão perdemos o ônibus.
William - Tem certeza que viajar de ônibus é mais seguro?
Andressa - É a única opção que temos, assim ninguém desconfiará da gente!
Chegando na rodoviária, o casal entrega as passagens com maior discrição e entram no ônibus.
Em seguida, Minerva entra no mesmo ônibus com um lenço na cabeça (cobrindo maior parte do rosto), usando também um óculos preto de sol e senta nos primeiros assentos.
Com um pequeno espelho nas mãos, Minerva observa o casal no fundo do ônibus.
Minerva - Aproveite seus últimos momentos príncipe encantado, pois a sua hora está chegando.
CENA 03 - CASA DE VIDRO / RECANTO / MANHÃ
Com o salão vazio… Melissa vai até a porta de espelho para encaixar a chave de ouro na fechadura.
Após escutar um estralo e tirar a chave… ela puxa a porta com toda as suas forças e entra rapidamente.
Ao encostar a porta, seu grande espanto é saber que sua mãe continua viva todos esses anos.
Melissa - Mãe?!
Aline Ventura que está deitada no chão quase sem forças (enrolada por um pano de cortina cetim), levanta aos poucos sem acreditar no que está vendo.
Até o colar de um coração vermelho que estava quase sem cor em seu pescoço, fica mais iluminado e cheio de cor.
Sem demora, Melissa joga sua mochila no chão e corre para os braços de sua mãe, dando um abraço bem apertado, daqueles que é capaz de salvar qualquer alma em desespero.
Aline - Minha filha, que vontade enorme que eu estava em querer te abraçar, te tocar, de sentir a sua respiração como nos velhos tempos. (solta algumas lágrimas) - A ultima vez em que te vi, foi na noite do meu casamento, quando você ainda era pequena de colo. (passa a mão no cabelo de Melissa sem parar) - E agora você está aqui na minha frente, crescida, linda e cheia dos talentos. Ou acha mesmo, que eu não te observava dançar todos os dias?
Melissa - Era por isso que a minha intuição sempre dizia, que alguém muito especial estava aqui dentro. (segura nas mãos de Aline Ventura) - Pois agora eu sei, que um amor de mãe, o filho sente de longe. Era isso que eu sentia todas as vezes que notava uma presença aqui dentro.
Aline (olha toda emocionada) - Sempre soube que seria uma filha de ouro! Poderia me dá mais um abraço? (elas se abraçam) - Eu te amo muito!
Melissa - Também te amo!
Depois de alguns minutos, elas notam que ficaram presas dentro da sala de Âmbar por tempo indeterminado, pois os alunos de dança, estavam no salão.
Aline - E seu pai, como está? Arrumou alguém para substituir meu lugar?
Melissa - Sempre sozinho, desde do dia que você partiu; nunca mais quis se envolver com ninguém, somente com as uvas. Apesar que agora…
Aline - O que houve?
Melissa - Apareceu uma mulher estranha na cidade, e seu nome é Meratriz! Ela usa garras nas mãos, e aos poucos está conseguindo conquista-lo. Marcaram até um jantar hoje à noite lá em casa.
Aline - E sabe quais são as intenções dessa mulher?
Melissa - As intenções não sei, mas a chave de ouro que abriu essa porta… estava em poder dela.
Aline - Precisamos dar um jeito de livrar Renato das garras dessa mulher antes que seja tarde demais! (pensa um pouco sobre o que fazer) - Já sei, vou precisar que me arrume algumas roupas quando sair daqui…
Melissa - E pra quê?
Aline - Assim que escurecer, vou dar um susto nela, a ponto de nunca mais querer pisar os pés em nossa casa e continuar se envolvendo com Renato!
Melissa - E vai dar certo isso?
Aline - Confia em mim!
CENA 04 - PALACETE DA PREFEITURA / RECANTO / MANHÃ
Enquanto a empregada Emma termina de colocar os últimos talheres na mesa, Kimberly se prepara para enfrentar sua madrinha.
Kimberly - Emma querida, faz um misto no capricho, recheado de queijo com catupiry!
Emma - Tudo bem!
Kimberly - Pensando melhor, traz um baguete com carne e um suco de laranja.
Emma - Mais alguma coisa?
Kimberly - Que cabeça minha; esqueci que estou de dieta! (pensa um pouco) - Então traz uma pequena porção de tomates secos e atum, e de praxe, um copo de iogurte sem nenhum glúten. (arruma o cabelo) - E não abusando muito, aproveita também para passar aquela jaqueta prata que tenho, a que têm brilhos, e passar uma graxa de silicone no meus sapatos de dança. Espero que tenha conseguido decorar tudo, pois as obrigações desta casa precisa ser cumpridas.
Emma - Decorei tudo sim, senhorita!
Kimberly - Ótimo, agora pode ir… antes que eu perca minha paciência.
Emma - Com licença!
Kimberly aproveita o momento de estar sozinha para tomar seu comprimido. Em seguida, Judith aparece toda arrumada para reunião de eleição.
Judith - Pelo visto, o comprometimento com a dança anda de mal a pior. (olha no relógio de pulso) - É sentada desse jeito que vai fazer eu ter orgulho de uma porcaria que só serve para dar gastos?
Kimberly - Fique sabendo madrinha, que a dança é uma arte cultural, no qual te passa vários princípios e valores. E podemos sim, ter um ótimo sustento.
Judith - Se formos levar em conta os princípios básicos e os valores do indivíduo, então você não aprendeu nada até agora, porque gentileza com o próximo e cordialidade, está fora do seu alcance de vida.
Kimberly - Pelo menos não fico roubando as pessoas e vivendo a custo delas com uma parasita.
Judith - Como é? (expressa indignação)
Kimberly - É isso mesmo madrinha, e da próxima vez que chegar querendo dar lições de moral, pelo menos diga primeiro um bom dia! (levanta) - Ah, e avisa Emma que perdi a apetite, e que a espero no meu quarto.
A primeira dama segura toda sua raiva no olhar e momentos depois finge que nada aconteceu.
Raul (aparece) - O que faz aqui ainda? O pessoal da eleição estão na sala à sua espera!
Judith - Claro meu amor, vamos!
Chegando na sala… Judith encara Vera (sua arqui-inimiga), e assume seu posto para dar início o debate dos candidatos.
Judith - A tradição de Recanto perante uma política em pose de poder, enquadra-se no termo da cidade 40.R.C que no máximo três candidatos podem concorrer a prefeitura e estabelecer sua nova ordem. Neste ano, temos apenas dois candidatos presentes na disputa; e conforme o termo 60.R.C, a falta de um terceiro… dará em justo, o controle total a quem já se encontra no cargo político.
Vera - Isso é um roubo! Onde já se viu, reeleger alguém sem votação só porque fizeram um termo ridículo.
Judith - Como estava dizendo, existe uma tradição em Recanto e ela precisa ser cumprida. Ou seja, nem mais e nem menos, Raul continua sendo o prefeito da cidade.
Edgar (entra na sala) - Desculpa chegar atrasado, mas estou aqui para ser o terceiro candidato.
Todos que estão presentes começam a murmurar e olhar para Edgar como se ele fosse uma grande ameaça.
Judith - Desculpa, mas qual é seu nome?
Edgar - Me chamo Saullo!
Judith - Então senhor Saullo, para ser um candidato, é preciso ter um registro partidário e ser indicado a vaga. Claro, que o nosso sistema político se encaixa um pouco fora da realidade. Sem contar também, que é essencial um registro seu na justiça eleitoral e ter o pedido de registro de candidatura apresentados aos respectivos juízes eleitorais.
Edgar - Por isso, eu já me antecipei e trouxe comigo todos os registros possíveis.
Os documentos como: declaração de bens, identidade, certidões criminais para fins eleitorais, de desincompatibilização e entre outros… são lidos e analisados minuciosamente por toda a equipe de jurídicos da cidade.
Judith - Sem mais nenhuma dúvida e delongas, o senhor Saullo tem o direito de preencher a terceira vaga e concorrer a prefeito da cidade. Portanto, abro as votações!
Enquanto todos vão digerindo a notícia de um estranho virar o terceiro candidato, Edgar comemora o seu novo passo.
CENA 05 - MANSÃO VALLERE / RECANTO / NOITE
Um vinho Vallere é aberto e servido em gratidão pela confiança e livramento de uma grande confusão.
Renato - Agora que o sistema do banco de Recanto voltou ao normal… aqui está o comprovante da minha transferência. Estou te devolvendo os centavos.
Meratriz - Acha Renato, nem precisava me devolver esse dinheiro tão cedo; sabe que te ajudei por admiração a sua pessoa, pelo seu trabalho, pela sua paixão com as uvas.
Renato - Mesmo assim, muito obrigado! (eles brindam)
Com certas pretensões maliciosas, Meratriz acaba derrubando vinho em sua roupa.
Meratriz - Droga, o que eu fiz? (entrega a taça para Renato) - Tem algum lugar mais privado que eu possa estar tirando minha roupa para limpar esta mancha?
Renato - Se quiser, pode usar o banheiro do meu quarto!
No quarto…
Renato - Bom, enquanto o pessoal não chega e você dá um jeito nessa mancha, vou descer para terminar de preparar os aperitivos.
Meratriz - Tudo bem, assim que eu terminar já desço para te ajudar… vai ser coisa rápida!
Assim que Renato sai do quarto, Meratriz dá uma risada patológica.
Meratriz - Até parece que vou descer… ficarei aqui te esperando, deitada na sua cama, com nenhuma peça de roupa.
Numa mesa, Meratriz pega um acendedor e acende as três velas vermelhas que estão no castiçal de prata.
Do lado de fora da casa, Aline caminha cuidadosamente para não ser vista.
Meratriz - Agora passar um batom vermelho nestes lábios carnudos, pra despertar aquele desejo de quero beijar sua boca!
Enquanto Meratriz termina de fazer seus últimos retoques… a luz da casa se apaga, deixando tudo escuro.
Meratriz - Era só o que faltava! (pega o castiçal na mesa) - Renato?!
Andando no corredor de quartos, com algumas luzes acessas encaixadas no teto (com pouca luminosidade) percebe-se, vultos.
Meratriz - Renato? Se isso for uma brincadeira… é bom parar!
Chegando na beira da escada para descer, Meratriz escuta um barulho de porta logo atrás rangendo.
Meratriz (olha) - Quem está aí?
Aline Ventura sai do quarto, deixando Meratriz totalmente amedrontada.
Aline - Surpresa! (encara) - O que faz na minha casa? Sabe muito bem que não é bem-vinda, pois não é!
Meratriz - Não chegues perto de mim assombração! (ameaça com as velas)
Aline - Eu sei das suas intenções, das suas artimanhas, mas se pensa que vai roubar o Renato de mim, está muito enganada!
A luz volta ao normal e Meratriz não pensa duas vezes. Ela joga o castiçal no chão para descer as pressas, mas por um descuido acaba tropeçando em si mesma e vai rolando escada abaixo.
(Congela em Meratriz toda paralisada)
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