Capítulo 01
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São Paulo - 2021
O dia já estava claro no céu, Ana estava indo para o seu carro com um terno sorriso e óculos escuros para disfarçar as olheiras de ter trabalhado durante a noite no hospital, plantão noturno sempre é agitado, principalmente quando a gente substitui uma amiga, parece que todo mundo e universo conspira para que seja um dia estressante.
Ela entrou no carro, pegou o celular e viu algumas mensagens, para variar havia mensagem de sua filha Nanda falando de seu casamento, mas nada de seu marido Gustavo, nem um bom dia, nem mesmo um boa noite, nem nada.
Um pouco triste ela apenas coloca o celular no canto e liga o carro para ir embora dali.
Enquanto isso, em um apartamento na zona nobre de São Paulo, Nanda estava tomando seu café da manhã toda animada, a empregada do apartamento falou.
- Você está muito agitada durante esses dias sabia Nanda?
- Ah, casamento está chegando, ainda tenho que ir na Itália ver o hotel, as coisas, minha nossa parece até um sonho sabe. - Falou Nanda sorridente. - ai, parece que estou vivendo um verdadeiro conto de fadas, é tão emocionante.
- Contos de fadas em pleno século 21 minha filha? Nem tudo é "felizes para sempre"! - Falou Gustavo vindo para a mesa tomar seu café da manhã.
- Esse homens, só mudam de endereço, são todos iguais, não dão mais nem amor, nem carinho, nem afeto...
- Opa, papo doce demais, vou acabar tendo diabetes. - Falou Gustavo. - minha romântica princesa, aproveita o dia do casamento e desejo muita felicidade para você e paciência para o noivo. - Falou ele rindo.
- Pai. - Falou ela abraçando seu pai.
Ana estava dirigindo seu carro, ela parou na frente de uma livraria e viu sua amiga Daniela, logo ela disse.
- Dani, o que faz por aqui?
- Comprando um livro, ja tomou café? - Perguntou Daniela.
- Ainda não. - Respondeu Ana.
- Vamos então, o bolo daqui é incrivel. - Falou Daniela.
Ana deu um sorriso e foi estacionar o carro, as duas entraram na livraria que tinha uma cafeteria la dentro, cada uma pediu um pedaço de bolo e um café.
Daniela percebeu que sua amiga estava meio para baixo e falou.
- Não ta sendo a Ana que eu conheço, aconteceu alguma coisa?
- Adianta eu mentir? - Indagou Ana.
- Lógico que não. - Respondeu Daniela sorrindo. - o que houve?
- Sabe quando você vive com uma pessoa que parece que não está nem ai para você. - Falou ela. - nenhuma mensagem, ou um carinho, ou sei lá, parece que eu sou uma desconhecida dentro de casa com o meu próprio marido.
- Minha amiga, ja parou para conversar com ele? Deve ter uma explicação, vocês são um casal tão lindo, a filha de vocês em breve vai casar e...
- E o que? Sinto falta de amor, de carinho, de cuidado, de paixão, parece que ele não gosta mais de mim. - Falou Ana.
- Espera Ana, ai você esta indo longe demais. - Falou Daniela. - você pelo menos deveria tentar conversar com ele, esfria a tua cabeça, não precisa desse alarde todo e você sabe disso.
- É difícil, é como se eu estivesse vivendo sozinha sendo que estou casada. - Falou Ana. - estou vivendo uma solidão sabe? É complicado explicar.
- Imagino muito bem como é isso, mas ainda acho que você deveria esfriar a cabeça e falar com ele e resolver isso. - Falou Daniela. - tudo com uma conversa pode se resolver.
- Será? - Indagou Ana.
Enquanto isso, no centro comercial paulistano estava a construtora Mota Rangel, Gustavo era um dos sócios majoritários e o presidente do grupo era Paulo Mota Rangel, os dois estavam em uma sala falando do casamento de ambos os filhos.
- A minha filha não fala de outra coisa a não ser esse bendito casamento. - Falou Gustavo. - as vezes sinto até pena do Lucas sabia?
- Para ser sincero, eu também. - Falou Paulo rindo. - esse relacionamentos de hoje em dia eu não entendo, tudo muito superficial, através de fotos e mais fotos como se isso comprovasse a felicidade de algo, na verdade não passa de uma verdadeira perda de tempo.
- Digo o mesmo, tudo é questão de seguidores e mais seguidores nas redes sociais. - Falou Gustavo.
Neste momento entrou uma na sala a secretaria de Gustavo que falou.
- Tem uma visita para o senhor lá na sua sala Dr. Gustavo, disse que é urgente.
- Já até imagino quem seja. - Falou Paulo. - cuidado, a patroa chegando aqui de repente e vendo vocês dois...
- Relaxa, tudo no confidencial. - Falou ele saindo da sala.
Enquanto isso, em um apartamento na zona sul, Marcos estava em seu escritório vendo alguns documentos do grupo Mota Rangel, logo entrou uma enfermeira que falou.
- Senhor Marcos, a sua esposa quer falar com o senhor.
- Estou indo agora mesmo. - Falou ele levantando-se da cadeira e indo em direção ao quarto.
No quarto, Violetta estava deitada, monitorizada, parecia uma UTI, cuidadosamente ele aproximou-se dela e falou.
- Meu amor, estou aqui.
Violetta olhou para ele e falou.
- Alguma noticia do Bruno?
- Ainda não meu amor, mas estão ainda a procura, ele vai estar bem, quando você menos esperar, ele vai estar aqui com a gente. - Falou Marcos pegando na mão frágil dela.
- Quero meu menino de volta, quero ele longe das drogas, por favor, promete que vai ajudar ele. - Falou ela com lágrimas nos olhos.
Marcos olhou para o lado, tentando disfarçar as lágrimas em seus olhos.
- Eu te prometo meu amor. - Falou ele olhando para ela. - vou trazer nosso menino de volta.
Ela continuou olhando para ele.
- Eu te amo Marcos, haja o que houver, quero que você seja muito feliz. - Falou ela.
- Seremos meu amor, seremos! - Falou Marcos.
A enfermeira veio e falou.
- Está na hora da quimioterapia dela, desculpa.
- Tudo bem. - Falou Marcos saindo dali, soltando aos poucos a mão de sua esposa.
Ao sair do quarto, Marcos foi até a sala e ao ver uma foto de sua família, Bruno, Violetta e ele em uma festa, o choro foi inevitável.
A empregada veio e falou.
- O senhor quer alguma coisa? Uma ajuda?
- Me diz, como pode tudo isso acontecer? - Indagou Marcos. - minha esposa morrendo por causa dessa doença maldita, meu filho sumido por causa dessa droga! Eu só queria tudo de volta.
- Isso é uma fase apenas, Deus está com o senhor, isso vai passar. - Falou a empregada aproximando-se dele.
- Eu fui um péssimo marido, eu não dei o devido valor pra minha esposa, pro meu filho, eu perdi o que há de mais precioso na vida de um homem, eu perdi minha família. - Falou ele chorando.
"Pra aqueles que querem fugir da realidade
Cuidado com aquilo que te faz voar
Mas depois tira o seu céu
E o que sobra
É só o inferno"
Enquanto o pai chorava, enquanto a mãe estava na cama lutando contra o câncer terminal, Bruno estava sentado em um beco escuro, uma latinha de refrigerante, um isqueiro, ali começou a ilusão, a fuga da realidade que destrói a vida real de muitas pessoas.
Gustavo entrou na sua sala e falou.
- Não é uma boa ideia você vir aqui Milena.
- Você não atende minhas ligações, não se importa comigo. - Falou Milena indo abraçar ele e dando um beijo apaixonado.
- O que houve? Para você vir aqui, deve ter sido alguma notícia, de preferência muito urgente! - Falou Gustavo.
- Eu tô gravida Gustavo, gravida de você. - Falou ela sorrindo, Gustavo logo ficou sério.
Na mansão, Agatha estava tomando um chá ao lado de sua amiga Isabel que falou.
- Você está sabendo a barra que o Marcos está passando?
- Aquilo é uma cruz e que parece não ter fim, só tenho pena do Marcos que não merecia passar por tudo isso. - Falou Agatha.
- A esposa do Marcos, está de mal a pior e o filho deles...
- Vamos ser sinceras uma para outra, a Violetta está fazendo hora extra aqui na terra, morrer para ela seria a melhor opção, mais prático. - Falou Agatha bebendo um gole do chá.
- Você me assusta falando assim Agatha, é como você não se importasse. - Falou Isabel.
- Mas eu me importo, com vestido que vou para o velório. - Falou Agatha sorrindo. - por favor, vamos ser práticos, que ela vai morrer não vai ser surpresa para ninguém, só questão de tempo.
- Mas falar de uma maneira tão fria...
- Fria Isabel? - Indagou Agatha. - isso que me irrita nesse pais, tudo que você fala é agressivo, se falo a verdade sou fria, se não gosto de gay, sou homofóbica, se não gosto de negro, sou racista, se não gosto de coisa tal e coisa tal, já tem um rótulo para pôr. Acho isso uma idiotice e perda de tempo.
- E seu filho Leonardo? - Perguntou Isabel. - não vai ligar para ele vir ao casamento do irmão?
- Para mim, ele morreu! - Falou Agatha friamente.
Gustavo não falou nada, apenas ficou olhando para Milena que ainda animada disse.
- Que foi meu amor? Não é boa essa noticia? Vamos ter um filho!
- Que história maluca é essa? - Indagou Gustavo. - isso é impossível.
- Não, não é impossível, eu estou grávida de você e vamos ter esse filho juntos meu amor, não é incrível! - Falou ela sorrindo.
- Não, agora não, com que cara eu vou falar com minha mulher? Com que cara eu vou resolver as coisas? Isso não podia ter acontecido. - Falou Gustavo. - isso não era para ter acontecido, ta errado!
- Errado? Você não vai se separar dela, essa é a verdade, como eu fui burra ne? - Indagou ela com lágrimas nos olhos, a felicidade sumiu em poucos minutos.
- Também não é desse jeito, vamos conversar e juntos...
Milena deu um tapa em Gustavo.
- Desgraçado, maldito dia que eu te conheci e me apaixonei por você! - Falou ela saindo da sala e fechando a porta com força.
Gustavo sentou em uma cadeira e falou.
- Como vou explicar essa história pra Ana? Como?
Curitiba
Leonardo estava dando aula na faculdade, ele é professor de direito e muito querido pelos alunos.
Após a aula, os alunos se aproximavam para tirar duvidas e mais duvidas, o que já era de praxe basicamente.
Depois ele saiu da sala e de surpresa estava lá esperando ele Júlio, seu namorado, os dois deram um beijo e logo Júlio falou.
- Então decidiu se vai para o casamento de seu irmão?
- Sabe como é, enfrentar minha mãe é complicado, mas eu vou pelo meu irmão e ele sabe muito bem que eu estaria lá. - Falou Leonardo.
- Meu amor, você tem que ir por você mesmo, por que você ama seu irmão, honestamente o casamento não será uma boa hora de explanar tudo. - Falou Júlio. - tudo em seu devido tempo se resolve, confie em mim.
- Confiarei. - Falou Leonardo dando outro beijo em Júlio.
Leo notou que seu celular estava tocando, ele viu o nome " Agatha " .
- Falando nela, deixa pra lá. - Falou Leonardo guardando o celular.
São Paulo
Anoiteceu...
Lucas chegou na mansão, logo ele deu de cara com sua mãe no celular ligando incansavelmente para alguém.
- É quem eu estou pensando? - Perguntou ele.
- Para o bizarro do teu irmão. - Falou Agatha. - nem para atender a porcaria do celular ele serve!
- Por que será não é mãe? - Indagou Lucas. - ele não tem culpa de gostar de pessoas do sexo e pelo que sei ele é muito feliz e isso me deixa bem!
- É errado! - Gritou Agatha. - imagina o escândalo que seria em nossa família? Nós temos costumes a zelar, costumes esses que não cabe porcarias de gays ou qualquer coisa do tipo, Deus deixou o homem e a mulher, não foram essas aberrações que existem hoje.
- Não mãe, Deus deixou o amor, o respeito, coisa que você nunca teve por ninguém, nem pelos seus filhos e nem por você mesma. - Falou Lucas. - eu amo meu irmão, só quero que ele seja feliz, o que você faz é abominável!
- Abominável é o que ele faz! Isso sim é abominável! - Falou Agatha séria.
- Se ser feliz é abominável como você diz, parabéns então o problema é você. - Falou Lucas indo para o seu quarto.
Gustavo chegou no apartamento, Ana estava no sofá e falou.
- Meu amor que bom que você chegou, será que a gente podia...
- Agora não, estou com dor de cabeça, não estou muito afim de nada. - Falou Gustavo frio.
Ana deu um sorriso sem graça e falou.
- Qual o teu problema? Me diz, não gosta mais de mim? Não sente mais amor, tesão? Qual teu problema?
- Discutir a relação agora? Por favor não né, já basta...
- O que?! - Gritou ela. - eu quero ser amada, ouvida, ter um companheiro, eu quero a separação, pra mim chega!
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