Voz da Bossa - #SextoCapítulo

 

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Produção Original Star TV

Escrita e criada por Leonardo Lima

Capítulo 006

PERSONAGENS DESTE EPISÓDIO

Anderson              Jonatan            Adriano                    Murilo 

Marília               Alma Dana          Madre Eufrásia             Mirian  

Maria Luísa           Selma              Irmã Margarida             Eustáquio 

Clara                 Letícia            Laura                      Angeluce

Ereoades              Eleonora           Astolfo                    Solano

CENA 001. MANSÃO MAGALHÃES ARANTES. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA/MANHÃ

Anderson acerta a negociação dos discos de platina com Eustáquio.

Anderson – Assinado! Eu acho esse preço muito salgado para os discos de platina, visse?

Eustáquio – Esses discos vieram da Europa e tem também suas qualidades.

Anderson – Entendo como são as coisas, enfim, o senhor estará livre hoje à noite?

Eustáquio – Sim, porque a pergunta?

Anderson – Irei fazer um show especial de trinta e três anos do Clube de Musica Garota de Ipanema. Aceita o convite?

Eustáquio – É óbvio que aceito, espero que não comece tarde.

Anderson – O evento começará às cinco horas, bem cedo.

Eustáquio – Perfeito e qualquer coisa irei te ligar.

Anderson cumprimenta Eustáquio que é acompanhado por Alma Dana até a saída da mansão. Sozinho, o cantor escuta o som alto de vitrola vindo do quarto de Clara.

[MÚSICA DO QUARTO DA CLARA]: Mamã... Mamãe eu quero, mamãe eu quero

                             Mamãe eu quero mamar

                             Dá a chupeta, dá a chupeta

                             Dá a chupeta pro bebê não chorar [...].

Ao chegar ao quarto da filha, Anderson desliga a vitrola e Clara reclama:

Clara – Porque desligou a vitrola?

Anderson – Eu quero saber que bagunça é essa aqui?

Clara – Ué, você me colocou de castigo para não ir ao carnaval, eu faço o meu aqui no quarto.

Anderson – Pode tratando de arrumar essa bagunça e vá estudar, agora [GRITO].

Clara deixa o quarto bufando e vai para o quintal enquanto Anderson grita com a filha descendo as escadas:

Anderson – Clara, eu não terminei de falar com você.

Marília entra na sala junto com Alma Dana e pergunta

Marília – O que está acontecendo aqui?

Anderson – Dona Clara fez do quarto um carnaval e está uma verdadeira bagunça, visse?

Marília – Você vai provocar um caos porque nossa filha está se divertindo?

Anderson – Para de passar mão na cabeça de Clara, ela já está bem grandinha pra isso.

Marília – Sobre a Clara, eu preciso ter uma conversa contigo no escritório. Alma chame a Miriam para arrumar o quarto lá.

Alma Dana – Pode deixar senhora. Com licença.

Alma Dana se retira e Marília diz a Anderson:

Marília – Te espero no escritório Anderson.

Marília e Anderson entram no escritório.

CENA 002 MANSÃO MAGALHÃES ARANTES. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA/MANHÃ

Marília repreende Anderson pela atitude com Clara e o cantor rebate:

Marília – É inadmissível você castigar a Clara por bobagens [...].

Anderson se aborrece e mostra o bilhete do colégio para Marília.

Anderson – Está vendo este bilhete? Clara matando aula e ainda descubro que foi a praia. Eu sei disso porque o Murilo a viu com as amigas, visse?

Marília – Mas precisa ser grosseiro com ela? Você como pai deveria conversar e não agredir com palavras.

Anderson – Você passa muito a mão na cabeça da Clara. Uma hora ou outra ela vai agredir a gente e você vai dizer que é apenas uma menina. Acorda Marília!

Marília – E você sempre protegeu o Jonatan e nunca disse um nada. Ele sempre fez coisas erradas, aprontava e você fingia que não era contigo. Agora arranjou a ideia estapafúrdia de ser vereador e não vi você falar nada.

Anderson – Ele é maior de idade, portanto, ele faz o que quer da vida dele. E não se engane, eu nunca passei a mão na cabeça dele. Já o repreendi diversas vezes, coisa que você, como mãe nunca fez e nunca fará.

Marília chora e responde Anderson:

Marília – Eu nunca iria imaginar que os problemas dos nossos filhos iriam nos afetar dessa forma.

Anderson – O problema não está somente neles, você precisa largar a ideia de família perfeita e isso não existe em lugar nenhum, visse?

Marília – Eu só queria um lar tranquilo, uma família respeitosa perante a sociedade. Nada mais além do que isso.

Anderson – Mas para conquistar a confiança da sociedade, não precisa forçar e tampar os olhos para a realidade. Bom, eu tenho que trabalhar, chegarei um pouco tarde em casa, com licença.

Marília fica sozinha no escritório e pensativa. No corredor, Anderson abre a carta de Maria Luísa e diz consigo mesmo:

Anderson – Se soubesse o quanto eu te amo, jamais me teria casado com Marília.

O cantor deixa a mansão e entra no seu carro.

CENA 003. APARTAMENTO DOS AMARAL. SALA DE ESTAR. INTERIOR. DIA/MANHÃ

Durante o café da manhã, Laura pergunta a Murilo sobre seu namoro com Clara:

Laura – Como anda o seu namoro com a Clara?

Murilo – Estás um pouco parado! A rapariga não é fácil de lidar.

Laura – Você precisa ser o macho do namoro, daqui a pouco ela está te engolindo vivo por falta de pulso firme.

Murilo – Ora pois, eu sou o gajo da relação, mas tento entende-la, entendes? 

Laura – Murilo meu irmãozinho querido, você precisa dominar a Clara, mostrar o poder que o homem tem sobre uma pessoa como ela. O seu maior problema é que age como esses príncipes desses contos portugueses que você lê.

Murilo – Irei de marcar um encontro com ela para conversar.

Laura – Já é um grande passo tendo essa atitude.

Murilo – Bom, preciso sair, estou atrasado para o trabalho.

Laura – Mas você nem comeu direito, preparei esse café da manhã com muito amor e carinho.

Murilo – É porque estou um pouco atrasado, depois eu passo aqui para almoçar.

Laura – Se você está atrasado, tudo bem, e espero seu retorno no horário do almoço.

Murilo – Pode deixar!

Murilo beija a testa de Laura e sai. Sozinha, Laura fala:

Laura – Ai esses meninos, estão muito frouxos para chama-los de homem.

Laura pega o jornal e toma o seu café.

CENA 004. APARTAMENTO DOS BOICAUVA MOREIRA. SALA. INTERIOR. DIA/MANHÃ

Selma prepara as malas para viajar e Davi pergunta:

Davi – Porque essas malas? Iremos viajar para algum lugar?

Selma – Iremos ir ao Educandário onde sua irmã viveu em todos esses anos. Ela completa dezoito anos hoje.

Davi – Que legal, finalmente irei conhecer a minha irmã mais velha.

Selma – E o seu pai? Ele mandou alguma correspondência?

Davi – Ele teve que sair cedo para trabalhar, mas disse que só vai resolver umas coisas na gravadora.

Selma – Ótimo, eu preciso dele aqui em casa.

Angeluce chega ao apartamento e acelera Selma:

Angeluce – Anda logo Selma, o carro está a nossa espera.

Selma – Calma Angeluce, o Davi ainda tem que tomar banho.

Davi – Já tomei banho.

Selma – Então se arruma, o carro nos espera.

Davi vai para o quarto e Angeluce ajuda Selma arrumar as malas.

CENA 005.GRAVADORA BRAMAR. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA/MANHÃ

Capitão Godofredo oferece o grupo de jovens para cantar na gravadora e Adriano questiona:

Godofredo – Aqui está o nome dos rapazes que quer gravar as músicas aqui.

Adriano olha para a lista e responde:

Adriano – De onde eles são?

Godofredo – São do Cantagalo e eles estão em busca de uma oportunidade.

Adriano – Não acredito que quer colocar esses cantores de botequim aqui dentro.

Godofredo – Que isso rapaz? Não foi isso que te ensinei. Seja humilde e tragam esses rapazes. Eles têm talento e isso que importa.

Adriano – A questão não é essa. A gravadora está segurando as pontas para não se endividar novamente. Tendo eles aqui e gravando, teríamos que gastar com salários polpudos.

Godofredo – E quem disse que eles querem salários polpudos?

Adriano – Ah pai, não seja inocente! Eles são do morro e óbvio que vão pensar em ter um salário altíssimo. Aliás, não é o talento que importa? Talento custa muito caro e pesa no nosso bolso.

Godofredo – E o que falarei para eles? Eles estavam esperançosos [...].

Adriano – Podem traze-los que irei negociar um piso salarial.

Godofredo – Maravilha! Agora precisamos ir porque minha neta completa dezoito anos hoje.

Adriano – Já ia me esquecendo da viagem. Vamos logo, a Selma e Angeluce nos espera.

Godofredo e Adriano fecham a gravadora e entram no carro.

CENA 006. EDUCANDÁRIO NOSSA SENHORA DE GUADALUPE. SALÃO. INTERIOR. DIA/MANHÃ

Madre Eufrásia presenteia Letícia com um colar.

Madre Eufrásia – Gostou do presente?

Letícia – Amei madre superiora. Esse colar com a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe.

Madre Eufrásia – Quando eu for partir para outro plano, essa será a minha lembrança para você.

Letícia – Bate na madeira madre, a senhora está bem saudável e forte. Os médicos te deram uma resposta positiva?

Madre Eufrásia rebate Letícia e diz

Madre Eufrásia – Não quero jamais te dar uma notícia ruim e tão menos estragar o seu aniversário, mas meu pulmão está comprometido pelo enfisema. Minha saúde está muito frágil

Letícia pega nas mãos e profetiza:

Letícia – Se Deus quiser e ele quer, você vai melhorar. A nossa fé não pode se abalar nesses momentos difíceis. A senhora é uma mulher forte e me ensinou a ser assim.

Madre Eufrásia – Muito obrigada minha menina. Agora preciso descansar, não posso fazer muito esforço.

Letícia abraça a madre e Irmã Margarida chega:

Irmã Margarida – Leticia aproveite o seu aniversário, eu ficarei cuidando da madre.

Letícia – Obrigada Irmã Margarida! Qualquer coisa ou ajuda é só me chamar.

Irmã Margarida – Pode deixar, a nossa madre será bem cuidada e com todo o amor e carinho.

Madre Eufrásia – Tchau Letícia e tenha um feliz aniversário.

Letícia – Amém madre.

Letícia caminha para o pátio tomada pela emoção.

CENA 007. CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. SALA. INTERIOR. DIA/MANHÃ

Ereoades se opõe ao projeto de Jonatan e os dois discutem:

Ereoades – Não vou aprovar esse projeto de urbanização no Cantagalo. Ficou maluco?

Jonatan – Não fiquei maluco. Os moradores não possuem um saneamento básico, vivem sentindo cheiro de lixo e o esgoto é a céu aberto.

Ereoades – Uma pena que não posso fazer nada por eles.

Jonatan – Você é o deputado municipal e você deveria investir nesse projeto.

Ereoades – Não temos orçamento para isso, já investimos na educação e saúde [...].

Jonatan – Investiu na educação e saúde? Jura? Porque vejo muita gente reclamando de falta de remédio e a educação continuar bem aquém do desejado.

Ereoades – Esse povinho reclama de barriga cheia e não sabem aproveitar o bem e bom.

Jonatan se revolta e ameaça:

Jonatan – Se você continuar com esse relaxamento, irei me esforçar para investigar para onde vão esses investimentos. 

Ereoades – Se você fizer essa gracinha comigo, pode dizer adeus à vida política, farei questão de te reduzir a pó. Com licença, eu tenho mais o que fazer.

Jonatan – Faça o que quiser, uma hora a verdade a de aparecer.

Ereoades – Saia daqui agora!

Jonatan deixa a sala e Ereoades diz sozinho:

Ereoades – Ainda darei um fim nesse rapaz. Oh se vou!

Ereoades acende o cigarro e olha para a Orla de Copacabana.

CENA 008. MANSÃO MAGALHÃES ARANTES. PISCINA. EXTERIOR. DIA/MANHÃ

Clara reclama das imposições de Anderson e Alma Dana defende o cantor:

Clara – Meu pai está insuportável. Não tenho liberdade para fazer absolutamente nada.

Alma Dana – Senhorita Clara, o seu pai não está errado. Porque matou aula para curtir a praia?

Clara – A aula estava chata, a professora não vai muito com a minha cara. E outra, não gosto do colégio onde estudo, é cheio de pessoas com não me toques.

Alma Dana – Por mais que não goste do colégio, o seu pai pensa no seu futuro e você deveria pensar como ele. Estudar nessa época é para poucos, é para quem tem dinheiro.

Clara – Você nunca estudou na vida Alma? Porque a forma que a senhora fala dá a entender isso.

Alma Dana – Eu estudei, mas num quilombo. Fui criada em meio aos escravos traficados e quando vi a oportunidade de crescer na vida, eu deixei meu local de origem, mas jamais os abominei. As minhas raízes eu carrego comigo.

Clara – Nossa! Nunca soube que estudou num quilombo, mas a senhora não era rica?

Alma Dana – Fiquei rica assim como o seu pai, mas gastei dinheiro porque fiquei com depressão e o tratamento custou muito dinheiro. Eu perdi uma menina que esperava, mas Iansã me deu forças para continuar vivendo.

Clara – Eu nem sei o que dizer... É uma história muito triste.

Alma Dana – É uma história triste e luto para superar sempre. Já a senhorita, aproveite sua juventude, da maneira correta, pois a vida é muito curta.

Clara – Pode deixar Alma Dana. Sempre que possível, eu irei te escutar.

Alma Dana – Que bom e fico muito feliz. Agora irei voltar ao trabalho, tenha uma boa tarde.

Alma Dana retorna a cozinha e Clara nada na piscina.

CENA 009. MANSÃO MAGALHÃES ARANTES. QUARTO. INTERIOR. DIA/MANHÃ

No quarto, Marília desabafa com Miriam sobre discussão com Anderson.

Marília – Não consigo acreditar que discuti com Anderson por causa da Clara.

Mirian – Dona Marília, me desculpe se intrometer, mas precisa colocar limites nela, visse?

Marília – A Clara é apenas uma menina que quer curtir a vida, eu não a julgo e o Anderson quer trava-la o tempo todo.

Mirian – Ela pode ser apenas uma menina, mas também que estudar. Todos os empregados estão cientes das saídas sorrateiras da senhorita Clara do colégio para a praia.

Marília – Vocês deveriam fazer os seus trabalhos e não vigiar a vida dos patrões.

Mirian – A gente não vigiamos a vida dos patrões, pelo contrário, fora do trabalho sempre deparamos a Clara em lugares estranhos e rodeado de homens.

Marília – A minha filha jamais iria ficar rodeada de homens, ela é comprometida com aquele português rico.

Mirian – Bom, a minha parte como amiga e empregada eu faço. Você está muito cega quanto a Clara e nunca foi assim. Irei trabalhar e é desse emprego que dependo para pagar minhas contas.

Mirian deixa Marília sozinha no quarto e chorosa.

CENA 010.CLUBE GAROTA DE IPANEMA. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA/MANHÃ

Anderson conversa com Marília no Clube de Musica:

Maria Luísa – O que houve meu amor?

Anderson – A Marília, como sempre, passando a mão na cabeça de Clara, mesmo estando errada.

Maria Luísa – O que a menina aprontou dessa vez?

Anderson – O Colégio mandou um bilhete que ela matou aula.

Maria Luísa – Nossa, mas você deu um corretivo nela?

Anderson – A Marília impediu, mas enfim, como anda as coisas aqui?

Maria Luísa – Vão de ventre e poupa e com você melhor ainda

Anderson – Olha, sou tão especial assim?

Maria Luísa – Você é a razão do meu viver.

Anderson – Te amo, Maria Luísa!

Maria Luísa – Eu também te amo e muito.

Anderson e Maria Luísa se beijam e os dois tiram a roupa um do outro.

CENA 011. EDUCANDÁRIO NOSSA SENHORA DE GUADALUPE. SALÃO. INTERIOR. NOITE

Letícia fica emocionada com a presença dos pais e avós.

Letícia – Meu pai, minha mãe, vovó Alma e meu vô capitão, fico feliz em ver vocês.

Selma – Estamos felizes de você completar dezoito anos e ir morar com a gente.

Letícia – Sentirei tanta falta daqui. Aliás, cadê o Davi que tanto vocês falavam?

Adriano – Ele está conhecendo o Educandário.

Letícia – Para não ficar tarde, iremos cantar parabéns.

Letícia une todos os amigos, familiares e irmãs do Educandário e cantam parabéns. Num canto, a jovem vê Madre Eufrásia que desmaia. Letícia grita e todos socorrem a madre superiora.

A câmera se afasta com o povo ajudando as irmãs e a madre

Fim do capítulo 06