Riscos de Vida - #PrimeiroEpisódio #Estréia
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INTRODUÇÃO:
O motorista liga a sirene da ambulância e os carros abre espaço na Ponte
Hercílio Cruz. Na parte traseira, Rebeca tenta controlar a crise convulsiva do
paciente e responde a Soraia.
Rebeca – Soraia me
ajude com esse rapaz! Ele está com a pressão caindo devido essa crise
convulsiva.
Soraia – O que você
aplicou na veia desse rapaz?
Rebeca – Tive que
colocar morfina, eu achava que ele estava tendo outra coisa.
Soraia – Ficou
doida? Não pode dar qualquer remédio para o paciente?
Rebeca – Eu não
sabia onde estava o Gadernal de quarenta miligramas [...].
Soraia
procura em seu nécessaire o diazepam e aplica a injeção no acesso do paciente
com o remédio e diz:
Soraia – Agora é
esperar que o remédio faça efeito e que paciente não venha a óbito.
Rebeca
abaixa a cabeça sem direito de resposta. Ao chegar no Hospital San Marino,
Soraia abre a porta da traseira da ambulância junto com a equipe médica e
Rebeca deixa o prontuário do paciente na recepção. A maca com o paciente é
levado para a sala amarela. Entrando na sala dos médicos residentes, Amanda
comenta:
Amanda – O hospital
está um Deus no acuda.
Susana – Porque está
dizendo isso? Nem parece que conhece a nossa rotina.
Amanda – Mas hoje
está fora do normal. A Soraia acabou de levar um paciente para a sala amarela.
Pelo visto, o estado é instável.
Susana – Então o
negócio está bem feito para ir a sala amarela.
Nicolas
entra na sala e responde a colega:
Nicolas – O rapaz
teve uma crise convulsiva, não é nada demais para a gente se preocupar.
Amanda – Susana
pode dar uma licencinha? Preciso conversar com o Nicolas.
Susana – Ok, mas
não se matem!
Susana
deixa a sala e Amanda rebate Nicolas:
Amanda – Como pode
ser tão frio assim? Chegar aqui e dizer que o paciente tem convulsão e afirma
que não é nada demais?
Nicolas – Querida
Amanda, quando a pessoa tem crise epilética ou convulsiva, seja como for,
precisa agendar uma consulta para saber se tomará remédio de uso continuo e
pelo visto, esse paciente nunca procurou um acompanhamento médico.
Amanda – E como você
sabe que ele não tem acompanhamento médico? Sabe da vida dele?
Nicolas – Pesquisei o
número da ficha do paciente no sistema operacional do hospital e a mãe dele
conversou comigo e disse que ele nunca foi ao médico e não tomava o
Fenobarbital regularmente. A gente fez uma campanha recente no hospital, mas
parece que esse povo pouco se importa.
Amanda – Embora você
tenha corrido atrás de informações, não seja acido, tenha amor às vidas. O seu
juramento vale mais que o seu sadismo. Com licença!
Amanda se
retira da sala e Nicolas diz sozinho:
Nicolas – É, foi
promovida ontem agora paga de patroa. [Risos]
Nicolas tira o celular do bolso, se joga no sofá e entra no aplicativo de mensagens instantâneas e conversa com amigos da balada.
CENA 002.
HOSPITAL SAN MARINO. SALA DE REUNIÃO. INTERIOR. DIA/TARDE
Com todos
os acionistas presentes, Anália inicia a reunião presidencial:
Anália – Bom dia
acionistas! Essa reunião foi marcada para debatermos o assunto quanto à
presidência do Hospital San Marino. Num voto unânime entre os colaboradores,
Vitória foi escolhida para assumir este cargo.
Rodolfo – Dona
Vitória posso te fazer uma pergunta?
Vitória – Pode sim,
prossiga!
Rodolfo – Você
realmente está interessada de assumir o San Marino? Como todos sabem, o
hospital tem faltado insumos e temos dificuldades de acertar um acordo
vantajoso com algum plano de saúde [...].
Anália
interrompe e diz:
Anália – Doutor
Rodolfo, essa pauta iremos debater depois.
Rodolfo – Depois?
Até quando iremos deixar de pautarmos esse assunto? Estou no hospital há doze
anos, já passamos por uma terrível crise e o que nos falta é um amparo do
município de Santa Catarina e dos consórcios.
Os
acionistas concordam com Rodolfo e Vitória rebate:
Vitória – Doutor
Rodolfo, sim eu tenho interesse em assumir a presidência do Hospital San
Marino. Fui criada pela família Vidal que detém cinquenta por cento das ações
deste lugar no mercado. E sobre a falta de insumos, tenho um planejamento
eficaz e menos custoso. Se o doutor e todos não sabem, sou dona da Promed, um
dos planos de saúde que tem mais de sete milhões de beneficiários. Sendo eu a
presidente do hospital, irei fazer o possível para manter a ordem.
Todos os
acionistas aplaudem o discurso de Vitória e Rodolfo sussurra:
Rodolfo – Quero só
ver se vai manter a ordem.
Do outro
lado, Anália encerra a reunião:
Anália – A
reunião está encerrada. Parabéns Vitória pela conquista!
Vitória – Eu que
tenho agradecer a senhora pela oportunidade.
Sulamita
entra na sala de reuniões e comemora:
Sulamita – Parabéns
filha! Fico muito feliz por ter conquistado o posto de presidente.
Vitória – Obrigada
mãe, se não fosse você e a senhora Anália, eu não estaria aqui.
Vitória, Sulamita e Anália deixam a sala de reuniões e conversam no corredor.
CENA 003.
HOSPITAL SAN MARINO. REFEITÓRIO. INTERIOR. DIA/TARDE
Gutemberg
deixa a lanchonete e comenta sobre a promoção de Vitória com Regiane:
Gutemberg – Está
sabendo da novidade Regiane?
Regiane – Não
acredito que deixou a chapa para fazer fofocas [...].
Gutemberg – Mas essa
fofoca é boa!
Regiane – Diga-me
qual é a fofoca do momento?
Gutemberg –
Dona
Vitória Bezerra é a nova presidente do Hospital San Marino.
Regiane se
engasga com o suco e Gutemberg pergunta:
Gutemberg – O que
houve para ficar nervosa?
Regiane – Essa dona
Vitória, segundo dizem, é um cão em pessoa.
Gutemberg – Estranho
que ela sempre foi tranquila com todos daqui.
Regiane – Ah meu
filho, tudo é flores quando a pessoa quer votos, quando assume o cargo é outra
história. Agora com a saída de Anália, o hospital sofrerá com ondas de
demissões.
Gutemberg – Mas o
hospital não está em crise, a Dona Anália deixou a presidência com todas as
contas pagas.
Regiane – Nem parece
que você trabalha aqui há anos Guto. Já tivemos um entre e sai de presidente do
hospital e vive entrando em colapso financeiro, não sei o que eles fazem.
Gutemberg – Acredito
eu que dessa vez, tudo vai ser diferente.
Regiane – Assim eu
espero!
Regiane
volta a lanchar e Gustavo repreende Gutemberg:
Gustavo – O que
faz aqui ao invés de trabalhar? Está cheio de clientes no balcão.
Gutemberg – Estava
aqui conversando com a Regiane. Vou retornar o trabalho. Até mais.
Gutemberg
segue até o balcão e Gustavo diz:
Gustavo – Regiane,
a doutora Soraia precisa da sua ajuda. Um rapaz teve convulsão e precisa de um
acompanhamento.
Regiane – A Rebeca
deveria estar responsável pelo paciente. Fui escalada para uma cirurgia para
daqui a duas horas, não dá tempo.
Gustavo – Eu te
cubro, fique tranquila. Vai lá cuidar do rapaz!
Regiane deixa o refeitório e Gustavo segue a cirurgiã.
CENA 004.
HOSPITAL SAN MARINO. SALA DA PRESIDÊNCIA. INTERIOR. DIA/TARDE
Na sala da
presidência, Sulamita questiona a nova rotina de Vitória como presidente do
hospital:
Sulamita – Minha
filha estou muito preocupada com a sua rotina daqui para frente.
Vitória – Porque
essa preocupação? Você sempre quis que eu fosse promovida a presidência do
hospital.
Sulamita – Agora
tenho outra visão quanto a isso. Você é casada e aproveitará pouquíssimo tempo
com o seu marido.
Vitória – Ah por isso
que está preocupada? Mãe, o Carlos segue ocupado cuidando dos angolanos no
hospital de campanha. Já doou um real para o povo carente de lá?
Sulamita – Faço isso
toda semana. Falando no Carlos, ele voltará quando ao Brasil?
Vitória – Dentro de
alguns dias. Irei o aguardar no meu apartamento.
Sulamita – Que
ótimo! Filha irei me retirar para não te atrapalhar com os trabalhos. Vou a
Promed para ver como anda as coisas por lá.
Vitória – Vai lá
mãe!
Sulamita beija a
testa de Vitória e deixa a sala. A nova presidente do hospital recebe uma
chamada de vídeo de Carlos e atende:
Vitória – Meu amor,
tu não morre tão cedo, minha mãe acabou de falar de você.
Carlos – Ora,
falasse bem ou mal?
Vitória – Ela está
preocupada com o nosso casamento. Assumi a presidência hoje e a rotina promete
ser puxada.
Carlos – Entendo!
Dentro de alguns dias estarei ai no Brasil, estou finalizando os trabalhos no
hospital de campanha.
Vitória – Que
maravilha e como anda as coisas ai?
Carlos – Bem
tranquilo! Amor terei que desligar, depois nos falamos.
Vitória – Se cuida
hein? Tchau!
Carlos retorna ao hospital de campanha e Vitória fica pensativa na sala da presidência.
CENA 005.
HOSPITAL SAN MARINO. ÁREA EXTERNA. DIA/TARDE
Nicolas se
aproxima de Rodolfo e ironiza derrota do cirurgião à presidência do Hospital
San Marino.
Nicolas – Ser ou
não ser, eis a questão! Adorei essa frase de William Shakespeare no TCC de
medicina que tu fez e na campanha a presidência. É aquilo né? Nadou para morrer
na praia.
Rodolfo – O que tu
quer porra? Não enche o meu saco que estou sem paciência hoje.
Nicolas – Olha só
que curioso, o maior cirurgião de Santa Catarina renomado no mundo está
xingando, nervoso e ainda por cima, fumando faltando duas horas para uma
cirurgia. Que belo exemplo. Esse ódio todo é porque a Vitória foi escolhida
para ser a presidente?
Rodolfo – Velho o
que tu tem haver com isso? Porque não volta a trabalhar?
Nicolas – Eu não
tenho nada a ver com isso, aliás, estou passeando porque em horário de almoço.
E você se prepare, a nova presidente vai cortar suas regalias brevemente.
Rodolfo
enfrenta Nicolas e responde:
Rodolfo – Você
acha mesmo que aquela negrinha não vai cortar o seu barato? A partir de agora,
os médicos residentes trabalharão dobrado e farão plantões se for preciso.
Nicolas – Eu não
temo de fazer plantões, até porque, me formei em medicina para isso mesmo,
trabalhar e salvar vidas. Agora você só está no hospital porque sua mãe quis.
Toda ala médica sabe que o cirurgião máster comprou diploma e não tem nenhum
cacife nem pra segurar um bisturi.
Rodolfo – Você
está me chamando de incapaz, moleque?
Nicolas – Eu não
preciso te responder isso, basta escutar o que os outros dizem de você que
saberá. Ah e antes de se referir à nova presidente, cuidado com as palavras,
racismo é crime e se pegarem você no pulo, irão te prender pelo ato condenável
e por exercer a função sem nenhuma qualificação no ramo. Com licença.
Nicolas
entra no hospital e Rodolfo é abordado por Susana.
Susana – Doutor
Rodolfo, a cirurgia está marcado para as seis horas.
Rodolfo – Já
preparam o centro cirúrgico?
Susana – Está
pronto e fizemos a higienização.
Rodolfo –
Perfeito! Espera-me lá dentro, irei te passar as instruções.
Susana – Sim
senhor!
Rodolfo joga o maço de cigarro no lixo e entra no hospital.
CENA 006.
HOSPITAL SAN MARINO. SALA AMARELA. INTERIOR. DIA/TARDE
Regiane
chega à sala amarela e pergunta a Soraia o estado de saúde do paciente:
Regiane – Como está
o estado de saúde do paciente?
Soraia – Ele está
estável. Logo assim que chegamos tivemos que fazer uma bateria de exames e
constatamos entupimento em uma das artérias do coração.
Regiane – Gustavo
me disse que o paciente teve convulsão [...].
Soraia – Sim, ele
teve convulsão e consegui controlar.
Regiane – E a
Rebeca? Não era para estar aqui contigo?
Soraia – Eu a
afastei da função, infelizmente.
Regiane – Porque
fez isso? Ela é uma ótima enfermeira.
Soraia – Ela é uma
ótima enfermeira e uma péssima socorrista, acredita que deu morfina para o
paciente em vez do Diazepam?
Regiane –
Misericórdia! Mas conseguiu limpar o organismo do paciente?
Soraia – Consegui,
agora ele será submetido a cirurgia e você foi escalada.
Regiane – Ah então
ele era o paciente? Qual é o nome dele
Soraia – Teodoro
Benevenuto Braga, ele tem sessenta e cinco anos.
Regiane – Ótimo, vou
ali dar uma olhada no Teodoro, pode ficar tranquila.
Soraia – Obrigada,
irei autorizar a cirurgia e estarei de volta daqui a pouquinho.
Soraia
deixa a sala amarela e Regiane se aproxima de Teodoro que acorda.
Teodoro – Onde
estou? O que faço aqui?
Regiane – O senhor
teve uma crise convulsiva e está sob orientação médica.
Teodoro – Eu não
senti nada, estou bem doutora.
Regiane – O senhor
Teodoro não teve alta. Ficará aqui até o estado de saúde se estabilizar cem por
cento.
Teodoro – Preciso
ir para minha casa doutora.
Regiane – Só irá
para casa com autorização médica.
Teodoro conversa com Regiane e os médicos observam.
CENA 007.
HOSPITAL SAN MARINO. SALA DOS ENFERMEIROS. INTERIOR. DIA/TARDE
Leandro
cobra satisfações à Nicolas e o enfermeiro residente estranha o comportamento
do colega de trabalho.
Leandro – Onde você
estava? Doutora Soraia estava te procurando.
Nicolas – Eu estava
dando uma voltinha e o que Doutora Soraia quer comigo?
Leandro – Ela te
escalou para a cirurgia do paciente que teve convulsão. Segundo ela, detectaram
uma fissura na artéria do coração.
Nicolas – Mas a
Rebeca não tinha sido escalada?
Leandro – Doutora
Rebeca foi afastada do cargo. Ela trocou os remédios e deu morfina em vez do
Diazepam para o paciente.
Nicolas – Essa
doutora Rebeca é desatenta para remédios e ágil quando vê um macho de jaleco.
[Ironiza].
Leandro – Nicolas
não seja irônico, a situação é séria.
Nicolas – Só quis
descontrair. Hein, me encontrei com Rodolfo e ele está muito puto por não ter
assumido a presidência do hospital.
Leandro – O que tu
fez quando o viu?
Nicolas – Tirei
sarro da cara dele e joguei umas verdades na cara.
Leandro – Rapaz
não se meta com Rodolfo. Esse ai gosta que fuder com a vida dos outros. Quase
que perdi o emprego aqui por causa dele.
Nicolas – Comigo
ele não cresce, mas se fizer algo contra mim, eu o denuncio para o Sindicato
dos Enfermeiros. Só eu sei que ele comprou diploma para seguir carreira como
cirurgião e ganhou prêmios desmerecidamente.
Leandro – É melhor
deixa-lo quieto!
Nicolas – A doutora
Soraia o escalou para essa cirurgia?
Leandro – Escalou e
estará à frente da cirurgia, por quê?
Nicolas – Nada não,
só queria saber mesmo.
Leandro – Olha o
que tu aprontar. Vou preparar a escala e já volto.
Leandro deixa a sala dos enfermeiros e Nicolas manda mensagem pedindo o afastamento de Rodolfo.
CENA 008.
HOSPITAL SAN MARINO. RECEPÇÃO. INTERIOR. DIA/TARDE
Danielle
chega à recepção nervosa e Érica atende:
Érica – Boa
tarde, o que a senhora deseja?
Danielle – Eu
preciso ver o meu pai!
Érica – Qual é o
nome do paciente?
Danielle – Teodoro
Benevenuto Braga, ele tem sessenta e cinco anos. Aqui estão os dados.
Érica acha
o nome de Teodoro no sistema e diz:
Érica – Ele não
pode ser atendido agora, foi submetido a uma cirurgia.
Danielle –
Cirurgia? O que houve com meu pai e o que fizeram com ele?
Érica – Aqui nos
sistema o senhor Teodoro fará uma cirurgia dentro de cinco minutos. A causa não
foi informada por segurança do hospital.
Danielle – Essa saúde
brasileira é uma merda. Como pode não saber o motivo da cirurgia do meu pai?
Érica – Estou
seguindo protocolos das diretrizes do hospital. Essa informação você terá
apenas com a doutora responsável pela realização da cirurgia do seu pai.
Danielle – Quem está
à frente da cirurgia?
Érica – Doutora
Soraia Fontana Valente.
Danielle – Muito
obrigada pela informação.
Érica atende
outro paciente e Danielle vê os enfermeiros levando Teodoro para o centro
cirúrgico e pergunta à Nicolas.
Danielle – O que
houve com meu pai, doutor?
Nicolas – Ele teve
uma fissura na artéria do coração, mas ele ficará bem.
Danielle se
desespera e os enfermeiros entram no centro cirúrgico com Teodoro. Soraia
anestesia o senhor e Nicolas higieniza o bisturi. Ao tentar entrar no centro
cirúrgico, Rodolfo é barrado por Leandro.
Rodolfo – Ei estou
na escala da cirurgia.
Leandro
olha para a escala no tablet e diz:
Leandro – Você não
foi escalado para a cirurgia. Com licença!
Leandro entra no centro cirúrgico e Rodolfo fica incrédulo. Anestesiado, Nicolas e Soraia iniciam a cirurgia. A câmera se afasta com os enfermeiros operando o senhor de idade.
CENA 009.
HOSPITAL SAN MARINO. JARDIM. EXTERIOR. DIA/TARDE
Rodolfo
flagra Rebeca sozinha e chorando e o cirurgião se preocupa com a colega de
trabalho:
Rodolfo – O que
houve Rebeca? E porque está chorando?
Rebeca – Eu fui
afastada do meu cargo de enfermeira. Acidentalmente dei morfina para um
paciente que estava tendo crise convulsiva.
Rodolfo – Oh Beca,
tu deu mole hein? Como dar um remédio pesado para um paciente epilético?
Rebeca – Ele não é
epilético e pelo histórico, o paciente já teve outras crises convulsivas e
dessa vez, foi radical, não se me medicava regularmente.
Rodolfo – Conseguiu
aplicar o Gadernal nele?
Rebeca – A doutora
Soraia aplicou nele e me tirou da lista do plantão de hoje.
Rodolfo – Filha da
puta! Essa mulher foi promovida para fuder com a gente. Agora a pouco fui
barrado de operar esse paciente ai.
Rebeca – Como
assim? Você é um dos principais cirurgiões desse hospital.
Rodolfo
tira do seu bolso um maço de cigarro acende e diz:
Rodolfo – Pra você
ver Rebeca, mas creio eu que tem dedo do Nicolas no meio disso.
Rebeca – Mas o
Nicolas é incapaz de fazer isso. Ele não tem poder nenhum aqui dentro.
Rodolfo – Aquele
ali é pilantra, não vale nada e me detesta.
Rebeca – Nossa não
sabia que vocês tem uma rixa.
Rodolfo – Isso é
uma longa história! Quer um cigarro?
Rebeca – Não
obrigada. Acabei de chamar um Uber e agora terei que ir pra casa. Tenha uma boa
tarde.
Rebeca se levanta do banco e Rodolfo fuma sozinho e no meio do jardim.
CENA 010.
HOSPITAL SAN MARINO. SALA DOS ENFERMEIROS. INTERIOR. NOITE.
Algumas
horas depois: Nicolas e Soraia comemoram a cirurgia de Teodoro.
Soraia –
Conseguimos operar o Teodoro com sucesso. E ai Nicolas, como se sentiu em sua
primeira cirurgia?
Nicolas – Senti uma
adrenalina e olha que tenho pavor de sangue. Como é incrível o corpo do ser
humano.
Soraia – Aliás,
tem algo muito mal explicado, porque diabos você pediu o afastamento do Rodolfo
da cirurgia?
Nicolas – Ih é uma
história muito longa. Ultimamente ele tem desrespeitado os protocolos
hospitalares, por isso que pedi o afastamento dele.
Soraia – Espero
que esse afastamento não tenha nada a ver por implicância sua com ele.
Nicolas – Nem
parece que me conhece, sei separar o profissional e o pessoal.
Soraia – Ótimo e
lembrando, você está apenas trabalhando por período de experiência, uma
esparrela é olho da rua na certa.
Nicolas – Estou
fazendo o possível para ser contratado para o corpo de médicos e reconheço o
meu trabalho e dos meus colegas. Já o Rodolfo, não se pode dizer o mesmo.
Soraia – Esqueça o
Rodolfo, não vale a pena vocês ficarem brigando em ambiente de trabalho.
Nicolas – Eu estou
super de boas. Terei mais algum trabalho hoje?
Soraia – Não, você
está dispensado.
Nicolas – Obrigada
Soraia, tenha uma boa noite!
Soraia – Boa noite
querido!
Nicolas deixa
a sala e Rodolfo ouve a conversa e diz:
Rodolfo – Miserável
você está me devendo essa.
Rodolfo anda pelo corredor assoviando.
CENA 011.
HOSPITAL SAN MARINO. CORREDOR. INTERIOR. NOITE
Soraia
aborda Leandro e entrega a escala de trabalho.
Soraia – Leandro
aqui está à escala da madrugada. O Rodolfo está suspenso dos trabalhos.
Leandro – Porque
Rodolfo foi suspenso do trabalho? O que houve?
Soraia – Ele está
descumprindo os protocolos do hospital. Tem chegado atrasado, não tem batido
ponto. Essas coisas que nunca foram contabilizados.
Leandro – Ah, mas
isso ele fazia sempre aqui e nunca interveio.
Soraia – Agora com
a nova gestão, as coisas estão mais rígidas.
Leandro – Essa
Vitória pelo visto, vai tirar a paz de muita gente por aqui.
Soraia – E
conseguiu tirar a paz do Rodolfo. Falando nisso, você o viu por aqui?
Leandro – Ele
passou agora a pouco no corredor dois. Ele estava com uma cara nada agradável.
Soraia – Imagino!
Ah amanhã eu estarei aqui, fui transferida para o Anexo Hospitalar da Promed.
Lá eles estão treinando cirurgiões para o hospital de campanha na África.
Leandro – Que
legal, gostaria de fazer parte desse projeto.
Soraia –
Infelizmente você não pode, mas quem sabe não role outra oportunidade.
Leandro – Tomara,
enfim, quem ficará no seu lugar?
Soraia – Você
ficará no meu lugar e a Regiane irá te cobrir pela madrugada.
Leandro – Beleza
vou repassar essa escala para os demais.
Soraia e
Leandro se cumprimentam e o enfermeiro esbarra em Regiane.
Leandro – E ai
Regiane, se liga hoje você fará plantão.
Regiane – De novo?
Já faz duas semanas que saio daqui às seis horas da manhã. Praticamente não
tenho vida própria.
Leandro – Amanhã te
cubro, pode ficar tranquila.
Regiane – Que
ótimo, eu preciso de um descanso. Vou cuidar do senhor Teodoro. Boa noite!
Leandro –
Boa noite doutora.
Regiane entra no CTI.
CENA 012.
HOSPITAL SAN MARINO. CTI. INTERIOR. NOITE
Após a
cirurgia, Teodoro acorda e se depara com Danielle e pergunta:
Teodoro – O que faz
aqui filha? Você não deveria estar em Porto Alegre?
Danielle – O meu
trabalho resolveu os trabalhos depois de uma crise viral por lá. E o senhor?
Porque não tomava os remédios regularmente?
Teodoro – Ah minha
filha, estou cansado de tomar esses remédios. Olha pra mim, estou bem.
Danielle – Não está
bem não, o senhor acabou de sair de uma cirurgia no coração.
Teodoro – Cirurgia?
No coração?
Danielle – O senhor
não se lembra de que foi operado?
Teodoro – Não me
lembro, agora que estou tomando ciência das coisas. O que houve com meu
coração?
Regiane
interrompe e responde Téo:
Regiane – Me desculpe a intromissão, mas o senhor teve uma
fissura em uma das artérias do coração. Para o sangue bombear melhor, colocamos
uma ponte de safena e conseguimos cicatrizar essa pequena fissura. Agora é se
cuidar para não ter nenhuma complicação.
Danielle – Muito
obrigada doutora por ter salvado a vida do meu pai.
Regiane – Não
precisa agradecer senhorita Danielle, não faço mais que minha obrigação.
Deixarei vocês dois a sós. Com licença.
Regiane se
retira e Teodoro diz a Danielle:
Teodoro – Gostei
dessa doutora, muito simpática.
Danielle – Pelo
menos nesse hospital tem médicos simpáticos.
Teodoro – Estou
doido para ter alta logo.
Danielle – Aquieta o
facho homem, você acabou de ser operado.
Teodoro e Danielle conversam e Regiane cuida dos pacientes na UTI com ajuda dos auxiliares.
CENA 013.
HOSPITAL SAN MARINO. SALA DOS ENFERMEIROS. INTERIOR. NOITE
Ricardo
conversa com Gustavo sobre nova escala.
Ricardo – Soube que
mudou toda a escala de plantão?
Gustavo – Soube sim
e pelo visto ficarei preso a esse hospital.
Ricardo – Nem
reclame, a Regiane está a duas semanas de plantão.
Gustavo – Faz duas
semanas que não sei o que é beijar na boca, transar com Regiane. Esse
troca-troca de presidente, diretor geral e clínico está cansativo.
Ricardo – Essas
mudanças faz parte, o hospital está em crise, ai já viu.
Gustavo – Porra
estou há cinco anos nesse hospital e não conseguiram sanar as dívidas?
Ricardo – É foda
amigo! Cada gestor que passa, deixa mais dívidas. A Vitória assumiu a
presidência hoje, vamos ver como ela liquidar todas essas pendências.
Gustavo – Pelo que
soube ela tem uma empresa de assistência médica.
Ricardo – A Promed
pode nos ajudar no necessário, mas duvido muito ela querer tirar uma parte da
fortuna de lá para pagar as dívidas daqui.
Gustavo – Agora é
esperar pra ver. Vai ficar no plantão hoje?
Ricardo –
Infelizmente! Eu e a Regiane ficaremos por aqui e você? Vai pra casa?
Gustavo – Sim e
infelizmente sem a Regiane. A Amanda está ai ainda?
Ricardo – Foi
dispensada mais cedo, mas vou ver o que posso fazer para livrar a Regiane desse
plantão.
Gustavo – Valeu
brother! Agora vou embora, estou cansadão e preciso dessa noite para dormir.
Ricardo – Vai lá!
Tenha uma boa noite.
Gustavo
deixa a sala e caminha até a saída. Ao sair da sala amarela, Regiane vê o
namorado e lamenta:
Regiane – Como
queria eu passar mais tempo com você.
Regiane limpa as lágrimas e retorna a sala amarela.
CENA 14. FAZENDA
BRADOVSKI. SALA. INTERIOR. NOITE.
Solana
chega em casa com Breno e Miriam pergunta:
Miriam –
Finalmente hein? Pensei que iriam morar na casa de Cidinha.
Solana – Estávamos
conversando sobre as novas safras de cafés e a modernização da nossa cidade.
Miriam – E o
Breno? Comportou-se?
Breno – É claro! Já sou um rapazinho, não tem
o porquê não me comportar.
Solana – Muito bem filho! Agora vá para o
banheiro que você precisa tomar banho pra dormir cheiroso.
Breno – Pode deixar mãe!
Breno sobe
as escadas e Solana sente falta de Renê:
Solana – Cadê o
seu pai? Ele não era para estar aqui?
Miriam – Adivinha
[...].
Solana se
desespera e diz:
Solana – Não
acredito que ele foi lá.
Miriam – E foi.
Sabe lá Deus quando vai voltar pra cá.
Solana – Seu pai é
muito teimoso. Se o Nicolas não veio nos visitar mais, é porque ele está
trabalhando.
Miriam – Ah mãe,
mas não justifica esse sumiço dele né?
Solana – Você não
tem por dever definir o certo do errado. Vá dormir porque amanhã iremos acordar
cedo para iniciar a colheita de arroz na outra cidade.
Miriam – Como diz
aquele ditado, manda quem pode, obedece quem tem juízo. Boa noite.
Miriam
segue caminha aos fundos onde encontra o seu quarto e Solana sobe as escadas.
Chegando ao quarto, tira a manga do casaco e vê as manchas na pele.
Solana – Espero
muito que essas manchas seja apenas reação alérgica aos remédios de ansiedade.
Solana olha para a foto da família unida no porta retrato e abraça.
CENA 015.
APARTAMENTO SPARTACUS. CORREDOR. INTERIOR. NOITE
Amanda e
Nicolas chegam ao apartamento de mãos dadas e a médica pergunta:
Amanda – Tem
alguma programação para essa noite?
Nicolas – Nenhum
amor, precisamos descansar. Estamos quatorze horas no hospital e com pouco
tempo para relaxar.
Amanda – Nem me
fala. Será que irão nos chamar amanhã?
Nicolas – Amanhã é
dia de plantão, torça para que não sejamos convocados.
Amanda – Tomara!
Amanhã preciso visitar minha mãe e nunca tenho tempo.
Nicolas – Se Deus
quiser, você vai conseguir visita-la.
Amanda e
Nicolas se beijam e se despedem um do outro. Ao entrar no apartamento e acender
a luz, Nicolas toma um susto com Renê.
Nicolas – Pai? O
que o senhor faz aqui?
Renê – Vim te
visitar já que não se lembra da família.
Nicolas – Sempre me
lembro de vocês! E pouco tempo que tenho é para acertar a agenda médica. Não
posso para os trabalhos, sou um médico em período de experiência, qualquer
vacilo, sou mandado embora.
Renê – Eu lhe
entendo, mas tira um tempinho para a família. A sua mãe é mais a mesma depois
que você veio morar no centro da cidade.
Nicolas – Como ela
está? Como os meus irmãos estão?
Renê – Sua mãe
está doente, volta e meia ela se sente mal. A sua irmã não ajuda em nada e o
seu irmão sente a sua falta.
Nicolas – Você a
levou para algum médico ou especialista?
Renê – Os
médicos do campo são muito caros e não tem como paga-los.
Nicolas – E aquela
pensão que mando para vocês? Não é suficiente?
Renê – O
dinheiro que você nos manda deu para pagar todas as despesas da casa. Agora a
sua mãe precisa de você mais do que nunca.
Nicolas – Vou fazer
o possível para ir lá à casa de vocês.
Renê – Obrigado
meu filho, não sei como te agradecer.
Renê vira
as costas e Nicolas diz:
Nicolas – Vai pra
onde?
Renê – Vou para
um hotel mais barato, só vim aqui para te dar um ok.
Nicolas – Não vai
para lugar nenhum. Esse apartamento tem quatro quartos, pode dormir em um
deles. Não quero ver você pagando hotel caro.
Renê – Muito
obrigado filho. Irei me acolher. Boa noite!
Renê vai para o quarto e Nicolas entra no banheiro e vai ao espelho com olhar de tristeza.
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