Voz da Bossa - #PrimeiroCapítulo #Estréia
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Personagens
deste capítulo
Anderson Viriato Astolfo
Eleonora Valentina Cláudio
Otávio Omar Maria Luísa
Lorena Assis Mirian
CENA 001.
RÁDIO MORADA. CORREDOR. INTERIOR. DIA/TARDE
[IMAGEM]:
PERNAMBUCO – 1946
Cena
introdutória: Várias pessoas na rua, carros buzinando e Anderson atravessa a
rua e entra na Rádio Morada.
Omar flagra Anderson dançando no corredor da Rádio Morada e
pergunta:
Omar – O que tu
fazes aqui homem? Não era para estar trabalhando?
Anderson – Já
encerrei meus trabalhos! Aqui estás as anotações das vendas dos horários.
Omar se
assusta com os valores e diz:
Omar – Vão
investir cinquenta mil cruzeiros na nossa programação?
Anderson – Oxente,
tu acha pouco? Nossa rádio é campeã de audiência e a mais ouvida de Pernambuco,
visse?
Omar – Estou
muito feliz com o crescimento da nossa rádio! Ah, eu tenho que ter uma conversa
contigo.
Anderson e
Omar seguem vão até o escritório e Omar propõe:
Omar – Cabra,
agora tu tem uma missão a partir de hoje.
Anderson – Eita
porra, que missão é essa?
Omar – Então, o
Viriato está enfrentando uma forte Tuberculose e os pulmões dele estão
praticamente comprometidos. Como ele só tem a Valentina como herdeira, você
quer assumir a presidência junto com a patroa a Rádio Morada?
Anderson
fica tenso, aceita a proposta e comemoram no escritório.
CENA 002.
MANSÃO CHATEAUBRIAND MANHÃES. QUARTO. DIA/TARDE
Valentina entra
no quarto nervosa e repreende Viriato:
Valentina – Eu não
acredito que você fez isso!
Viriato – O que foi
amor? Porque está tão nervosa?
Valentina – Você
repassou a nossa rádio para aquele rapaz, o Anderson.
Viriato – Mas amor,
não basta você ter todo o controle desse palacete?
Valentina – Não é isso
Viriato, a questão é colocar um roceiro matuto e ingênuo a frente de uma rádio
que lidera na audiência no Estado. Eu tento entender o que você viu naquele
menino.
Viriato – Eu vi um
talento grandioso. Valentina, esse rapaz, o Anderson nos ajuda na rádio de
forma extraordinária. É carismático e veste a camisa do nosso negócio.
Valentina – Talento
não enche barriga dos cinquenta mil funcionários que são pais e mães de
família. Aliás, porque não pensou em nomear o Assis para o cargo?
Viriato – Você sabe
tão bem quanto eu que o Assis não tem mais condições de estar à frente de um
negócio. Ele está em idade avançada e precisa de descanso.
Valentina – Embora
você não nomeie algo com calibre para o cargo, aqui está a minha contestação.
Viriato – Amor tenha
calma, tudo vai dar certo. Acredite em mim!
Valentina – Se você
confia no taco desse rapaz, eu vou ficar tranquila. Com licença, vou dar uma
saída e pedirei para Odicéa preparar sua sopa.
Valentina se retira do quarto. Sozinho, Viriato fica pensativo, enfraquece e desfalece em sua cama.
CENA 003.
RÁDIO MORADA. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA/TARDE
Olegário
questiona a decisão do Capitão Viriato com Omar
Olegário – Custa
acreditar que o Anderson vai assumir a rádio Morada.
Omar – É uma
questão de honra para o capitão Viriato, visse?
Olegário – É uma
questão de burrice, como ele pode colocar um roceiro bobinho e sem nenhum
cacife para comandar os negócios da família dele?
Omar – Ai não é
comigo rapaz, a minha parte já faço.
Olegário – E a
Valentina? Ela está ciente disso?
Omar – Não faço
a menor ideia, mas para tu teres uma noção... Dê uma olhada nessa pasta.
Olegário
abre a pasta e fica pasmo com os valores.
Olegário – Os
patrocinadores vão investir tudo isso na nossa rádio?
Omar – Sim e
graças à negociação com o Anderson. Se não fosse ele, continuaríamos tirando
dinheiro do nosso bolso para investir nos programas daqui.
Olegário – Só de ver
essa pasta, senti uma confiança nesse rapaz.
Omar – É por
isso que o Viriato tem um carinho especial por ele.
Olegário – Vamos
brindar por essa conquista?
Omar – É claro.
Pegue o uísque ai!
Olegário
pega a garrafa de uísque, enchem os copos em brindam.
CENA 004.FAZENDA
ARANTE MAGALHÃES. QUARTO. INTERIOR. DIA/MANHÃ
Eleonora
conversa com Astolfo na sala sobre Anderson
Astolfo – Bom dia
meu amor, tenho uma novidade fresquinha para te contar.
Eleonora – Diga!
Astolfo – Seu
enteado amado será vice-presidente de finanças da Rádio Morada na capital. Ele
viajará de trem ainda essa tarde.
Eleonora
muda o semblante e diz:
Eleonora – Espero
muito que o trem descarrilhe para esse infeliz morrer.
As velas dos
santos se apagam e as janelas se batem. Assustado, Astolfo rebate:
Astolfo – Palavras
tem poder Eleonora! Nunca mais diga isso, nem de brincadeira. O que você deseja
hoje para Anderson, amanhã ou depois retorna para você.
Eleonora – Astolfo,
não sejas sonso! Ele vivo, ficará toda com a fortuna do velho.
Astolfo – Mas não é
rogando praga para o seu algoz, que você conseguirá alguma coisa. Falando no
velho, como está ele?
Eleonora – Está com
o pé na cova, mas essa cabra da peste não morre.
Astolfo – Entendi,
mas reze para o velho não ter um lampejo de memória, senão, Anderson retornará
para cá.
Eleonora – Nem por
cima do meu cadáver esse verme retorna para a fazenda.
Eleonora e
Astolfo conversam e Augusta escuta a conversa atrás da parede.
CENA 005.APARTAMENTO
CHATEAUBRIAND. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA/MANHÃ
Valentina
reclama com Assis sobre a decisão de Viriato:
Valentina – É um absurdo
o Viriato não passar a nossa rádio para você.
Assis – Mas é
compreensível, eu nunca fui muito com a cara do Viriato e nem ele com a minha.
Além disso, não tenho tempo para administrar a Rádio Morada.
Valentina – Está cheio
de compromisso em Brasília?
Assis – Sim e
estive conversando severamente com o presidente Eurico Gaspar Dutra. Em meio a
prozas, consegui verba para fortalecer a infraestrutura do Diários Associados.
Valentina – Que maravilha,
eu fico muito feliz por você.
Assis – Obrigado
minha querida!
Um carteiro
toca a campainha do apartamento de Assis e entrega uma correspondência para o
empresário.
Assis – Valentina
chegou uma correspondência para você e da sua residência.
Valentina – O que será
que houve?
Valentina
abre correspondência e fica nervosa com o conteúdo:
Valentina –
Não estou acreditando que isso aconteceu!
Assis – O que houve
Valentina? Diga-me.
Valentina – O Viriato
falece, a Odicéa o encontrou sem vida na cama.
Assis – Calma minha
querida, seja forte! Estou aqui para te consolar.
Valentina – Eu não sei o
que será da minha vida sem ele.
Assis – Onde ele
estiver, estará te protegendo de todos os males.
Valentina abraça Assis completamente chorosa e o empresário consola.
CENA 006.
CASA DOS GUIMARÃES. QUINTAL. EXTERIOR. DIA/MANHÃ
Maria Luísa
lava as roupas no tanque e é surpreendida por capitão Miranda
Maria Luísa – O que tu
fazes aqui homem?
Capitão
Miranda – Vim lhe trazer um agrado!
Capitão
Miranda coloca um simples colar no pescoço de Maria Luísa e diz:
Maria Luísa – Tu sabes
que meu pai não gosta de ti [...].
Capitão
Miranda – Pouco me importo com o que o seu pai acha de mim, visse? Eu te
amo e é isso que importa.
Maria Luísa – É melhor
ir embora antes que o pior aconteça.
Capitão
Miranda – Fica calma mulher, tudo vai dar certo!
Capitão
Miranda beija Maria Luísa e ambos vão para o quarto. O clima entre o casal
esquenta. Ao ouvir os gemidos da filha no quarto, Claudio invade o local armado
e diz:
Claudio – É uma
vagabunda mesmo. Deixei bem claro para não se enrabichar com este homem e tão
menos, antes do teu casamento.
Capitão Miranda – Senhor
Claudio, eu amo sua filha e desejo em assumir um compromisso com ela.
Claudio – Ama porra
nenhuma, está aqui para desfrutar da pureza de minha filha. E sabe qual é o
salário do pecado? É a morte!
Maria Luísa – Pai, não
faça nada que possa se arrepender.
Claudio – Cala a
sua boca, não quero ouvir a tua voz. Vou fazer a mesma coisa que fiz com o pai
desse infeliz.
Ao tentar se
aproximar de Claudio para conversar, Capitão é baleado pelo pai de Maria Luísa
e a jovem entra em desespero.
Maria Luísa – Amor, por
favor, acorde!
Claudio – Já
estavas esperando para acertar os ponteiros com este rapaz.
Maria Luísa
se levanta e confronta Claudio:
Maria Luísa – Como pode
ser capaz de matar uma pessoa inocente?
Claudio – Inocente?
De inocente esse rapaz não tem nada, visse?
Maria Luísa – Eu te
abomino como homem e te odeio como pai.
Claudio – Odeia é?
Então vou te colocar no lugar que você merece.
Claudio pega
Maria Luísa pelo braço, abre o portão de casa e a joga na rua.
Claudio – Lugar de
vagabunda é na sarjeta. E nunca mais volte a pisar nesta casa.
Lorena chega
próximo a filha e diz:
Lorena – O que
está acontecendo aqui?
Claudio – A sua
filha estava se engraçando com aquele miserável da família rival. E se você
ajudar ela vai sobrar para você também.
Claudio
retorna para a casa e Lorena aconselha Maria Luísa:
Lorena – Eu farei de
tudo para te ajudar, visse? Nem que sejas escondido do teu pai.
Maria Luísa – Não
arrisque sua vida, não vale a pena.
Lorena abraça Maria Luísa e a consola.
CENA 007.
CEMITÉRIO DE SANTO AMARO. EXTERIOR. DIA/TARDE
Horas
depois: Valentina e Assis se despedem de Viriato
Valentina – Viriato, o
capitão mais poderoso de Pernambuco, agora, chegou a sua hora de ser recebidos
nos braços de Deus. Descanse em paz meu amor, sempre te levarei na minha vida
como um exemplo de homem. Te amo e sempre vou te amar!
Valentina
beija a testa do falecido e pede para fecharem o caixão. O caixão é colocado no
túmulo e Assis a consola:
Assis – É querida
Valentina, o que farás daqui pra frente?
Valentina – Vou fazer
o que prometi ao Viriato, irei para a Europa e passarei uma temporada lá.
Deixarei a mansão para Odicéa cuidar enquanto estiver no exterior.
Assis – É uma
decisão acertada a se fazer.
Valentina – Eu ainda
fico transtornada com esse falecimento do Viriato. A tuberculose tirou a vida
da pessoa que mais amo, além de Deus e dos meus pais de criação.
Assis – Valentina,
você pode contar comigo enquanto estiver vivo. Estarei de braços abertos para
lhe receber em minha residência.
Valentina – Obrigada
Chatô, nem sei como te agradecer.
Assis – Não
precisa me agradecer, eu estou aqui para isso. Agora vamos para casa, você
precisa arrumar suas malas para voltar para a Europa.
Valentina e
Assis deixam o cemitério e entram no carro.
CENA 008.
HOTEL MARDOCE. QUARTO. INTERIOR. DIA/TARDE
Adriano
chega ao quarto e Selma questiona o marido:
Selma – Conseguiu
encontrar um cantor para fechar um acordo?
Adriano –
Infelizmente não... Pernambuco padece de bons talentos no ramo musical.
Selma – É uma pena
não ter conseguido, enfim, voltaremos ao Rio de Janeiro?
Adriano – Ainda não,
eu tenho alguns assuntos para resolver aqui.
Selma – Amor, não
podemos ficar mais tempo aqui e com pouco dinheiro. Temos que amamentar nossa
filha.
Adriano – Selma,
tenha calma, eu farei o possível e o impossível para fechar contrato com algum
cantor, nem que seja aqueles cantores baratos de botequim.
Selma – Assim eu
espero e torço para que dê tudo certo.
Adriano – Se Deus
quiser vai dar certo e reze muito!
Selma – Agora vou
preparar o café e fazer a mamadeira de Letícia.
Adriano – E o nosso
campeão? Está se comportando?
Selma – O menino
Davi nem nasceu e já está fazendo a festa no meu ventre.
Adriano se aproxima da barriga de Selma e beija.
CENA 009.FAZENDA
DOS ARANTES MAGALHÃES. QUARTO. INTERIOR. DIA/TARDE
Eleonora
entra no quarto e pede para Otávio assinar o testamento:
Eleonora – Amor, você
pode assinar este testamento?
Otávio – Pra que
amor? Não estava tudo certo?
Eleonora – Houve um
erro na hora de registrar. O advogado pediu uma nova assinatura.
Otávio
assina o testamento e rebate a esposa:
Otávio – Quem é
esse tal de Anderson?
Eleonora – É um
filho seu que faleceu num acidente por ai.
Otávio
começa a se sentir mal e se rebate. Ao tentar pedir socorro para Eleonora, o
fazendeiro sente dores fortes no peito e ao se levantar bate de cabeça no
criado mudo perto de sua cama e morre. Eleonora coloca um sorriso no rosto de
Astolfo diz:
Astolfo – O que
houve com o velho?
Eleonora – Morreu!
Simplesmente ele morreu e deixou tudo para a gente.
Astolfo – Não acredito
que conseguiu tirar tudo de Anderson.
Eleonora – Quero
deixa-lo na merda e consegui. Agora vamos fugir desse fim de mundo antes que
nos descubram.
Astolfo – E a
Valdeia? Vai fazer o que com ela?
Eleonora – Deixa
comigo, mas antes, leve o corpo deste traste daqui e enterre logo.
Astolfo
chama os capangas que entram na fazenda e retiram o corpo de Otávio. No
corredor, Valdeia é surpreendida por Eleonora e é baleada pela patroa, não
resiste aos ferimentos e morre.
CENA 010.
TREM JAÇANÃ. VAGÃO. INTERIOR. DIA/TARDE
Um
passageiro senta ao lado de Anderson e puxa assunto:
Passageiro – Esse
senhor ai da foto é o seu pai?
Anderson – Sim e
infelizmente eu não tenho notícias dele.
Passageiro – Porque
não o procura? Dialogar é a melhor solução.
Anderson – Meu pai
sofre com mal de Alzheimer e a esposa dele e eu, não nos gostamos.
Passageiro – Entendi e
sua mãe? Aceitou o divórcio.
Anderson – Ela
faleceu com um câncer quando eu tinha seis anos.
Passageiro – Te desejo
meus sentimentos. Deve ser triste ter uma vaga lembrança de uma pessoa que
amamos.
Anderson – Ela foi
minha protetora enquanto esteve viva.
Passageiro – E agora?
Qual é o seu destino?
Anderson – Vou para a
capital conhecer a sede da Rádio Morada.
Passageiro – Que legal!
Te desejo boa sorte.
Anderson – Muito
obrigado!
O passageiro
estranha a locomoção do trem e diz:
Passageiro – O trem
está se movimentando estranho e um cheiro forte de queimado.
Anderson – Com
certeza, algum motor deve está com defeito.
Ao se
levantarem, um vagão do trem explode com todos dentro e Anderson se joga para
fora.
FIM DO CAPÍTULO 1
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Comentários
Ja quero Eleonora morrendo em um descarrilamento kkkkk
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