Escrita por Walef Cardech
ALMA GUIA - TERCEIRO CAPÍTULO
CENA 01 - CATEDRAL APARECIDA DO NORTE / BRASIL / NOITE
Durante a noite, o carro de aluguel percorre numa estrada totalmente deserta e escura (tendo apenas como iluminação o farol do veículo), e em volta, varios pinheiros enormes esconde a terrível Catedral Aparecida do Norte.
Após atravessar um portão de ferro fundido da corte real, quase enferrujado (de dois lados), Meratriz desce do carro e puxa Andressa a força.
Meratriz - Bem-vinda a Catedral Aparecida do Norte! Garanto que a partir de hoje, sua vida estará entrelaçada neste lugar para sempre! (debocha)
A menina Andressa olha para a construção antiga, com varias janelas, tochas de fogo e decorações religiosas; e não pensa duas vezes em querer fugir.
Ao entrar, Meratriz chama as freiras de cargos maiores para levar Andressa na sala de ambulatório.
As freiras tira tudo que Andressa têm no corpo (roupas, acessórios, etc...) e dá um banho de água fria com sabão. Em seguida, as freiras esfregam o corpo da gêmea com uma bucha áspera pra tirar todo pecado; deixando marcas vermelhas por todas as partes.
Numa sala reservada, Andressa é jogada perante um altar sagrado cheio de velas, com uma estátua gigante religiosa, e benzida pelas freiras.
Jogada no quarto trancado, vestindo apenas um pijama de pano, Andressa analisa cada canto com seus olhos cheios de lágrimas e resolve bolar um plano.
Sala da Diretoria...
A diretora Minerva, escuta cada palavra sobre a vida de Andressa pela boca de Meratriz; e nisso, vai preenchendo uma ficha de perfil.
Meratriz - Tudo que você precisa saber da menina... já te contei! (levanta da poltrona) - Agora quero a minha liberdade!
Minerva - Acha que é tão fácil trazer uma menina e querer exigir por liberdade?
Meratriz - Você prometeu!!! (bate na mesa com força) - Não me faça cometer nenhuma loucura aqui dentro agora, porque senão, sangue vai rolar por toda parte, principalmente o seu! (encara com um olhar sombrio)
A diretora da Catedral Aparecida do Norte fica com medo pela primeira vez e não tem outra saída, há não ser dar a tal liberdade.
Enquanto isso, no segundo andar da Catedral, Andressa abre a janela e sai por ela sem pensar nas consequências.
Andando cuidadosamente numa pequena passarela estreita que há entre as divisas dos quartos, Meratriz avista a menina pela janela da diretoria.
Meratriz - A pirralha está fugindo! (sai da sala desesperada)
Com um pouco de dificuldade, Andressa desce por uma barra de ferro enorme no qual segura uma bandeira e começa correr sem parar.
Entrando no meio de uma pequena floresta, a gêmea começa encontrar dificuldades, pois a escuridão é seu maior inimigo.
O som dos morcegos, das corujas, e de alguns insetos, deixa o clima ainda mais assustador.
A menina Andressa caminha segurando onde consegue e de repente, Meratriz se joga contra a gêmea, e as duas ficam jogadas no gramado.
Meratriz - Achou mesmo que ia fugir pirralha?! (segura Andresa com força pelos braços)
Andressa - Me solta, me solta!!!
Meratriz - Eu vou te soltar, mas lá dentro no porão, onde vai ter o castigo que merece.
Alguns minutos depois, Andressa aparece amarrada e amordaçada numa cadeira de madeira (com as mãos para trás dentro do porão), e Meratriz aparece possuída pelo ódio, segurando um acessório apropriado para o qual deseja realizar sua maldade.
Meratriz - Está na hora de arrancar esse dedinho! (destrava o acessório) - Garanto que não vai doer nada!
Cada segundo que passa é um pingo de suor frio escorrendo, é o coração acelerado causando mais falta de ar, pois o medo que habita é extremamente surreal.
Andressa grita em silêncio e tenta se soltar enquanto o terrível momento se aproxima.
Sem chances, Meratriz pega o dedo anelar esquerdo de Andressa e se prepara para arrancá-lo sem piedade.
Meratriz - É uma pena ter que arrancar este lindo dedinho, pois com ele, você poderia encontrar uma grande paixão como nos contos de fadas e se casar para viver felizes para sempre. (ri) - Mas como a vida não é um conto de fadas, é realista, temos que aceitar o que ela nos proporciona. (ajeita o acessório no dedo de Andressa) - Não se preocupe, farei um enterro especial do seu dedinho no jardim, e poderá visitar o túmulo quantas vezes quiser!
Minerva (entra) - Pare com essa palhaçada Meratriz!!! Largue esse acessório ou terá sérios problemas quanto a sua liberdade!
Meratriz olha com raiva por ser interrompida e acaba largando o acessório sem questionar.
Minerva - Faça sua mala e vai embora daqui, antes que eu me arrependa!
Meratriz - E quanto a menina?
Minerva - Pode deixar que eu mesma termino o serviço!
Quando Meratriz sai do porão, Minerva desamarra Andressa da cadeira as pressas, e dá um abraço de conforto.
CENA 02 - SERGIPE / NOITE
No hospital, Luciana dá todo apoio para seu marido Edgar Menezes, que está todo incubado esperando por melhoras.
Luciana - Desculpa por ter que sair no meio da noite meu amor, mas vou na delegacia dar queixa da freira que levou nossa filha embora. (veste uma blusinha de frio) - Estava esperando elas aparecer... mas vou ter que tomar novas decisões cabíveis. (dá um beijo em Edgar enquanto dorme e sai do quarto)
Antes de chegar na delegacia, Luciana resolve passar numa casa abandonada que acolhe entulhos de latas de tintas.
Luciana - Alguém? (anda segurando na parede por causa do escuro) - É Luciana que está falando! Você está aqui filha?
Do nada Luciana escuta um barulho estranho e reforça sua busca.
Luciana - Cristina, é você?!
Um rato passa correndo pelas pernas de Luciana e em seguida um gato; ela dá um grito e acaba derrubando uma lata de tinta no chão.
Ao sair da casa sem resultados, do outro lado (pelos fundos), entra Cristina e Marcos com varias sacolas.
Marcos - Que loucura foi isso, achei que seríamos pegos! (ri)
Cristina - Também achei! (acende algumas velas) - Agora vamos comer porque estou faminta!
Marcos - Depois de tudo, ainda pensa em ir atrás dos seus pais e da sua irmã?
Cristina - Claro, eles são minha família e por mais que Andressa as vezes seja insuportável, ela é minha irmã e nada melhor que estarmos reunidos.
Marcos - Achei que desta vez ficaria comigo para sempre! (expressa decepção)
Cristina - Qual motivo eu teria para fazer isso Marcos Antônio?! (morde um pedaço da maçã que pega na sacola)
O silêncio permanece e Cristina acha estranho seu companheiro ir em determinado local e ficar olhando fixamente.
Marcos - Alguém esteve aqui, e derrubou esta lata de tinta!
Cristina - Será que foi a polícia?
Marcos - Coisa boa não foi; precisamos achar outro canto pra ficar o mais rápido possível.
Cristina - Está falando sério?
Marcos - Sim! Precisamos ir para alguma cidade vizinha antes do amanhecer, até a poeira abaixar. Pega suas coisas e vamos!
Enquanto isso na delegacia...
Delegado - Está me dizendo que a freira que esteve aqui te procurando, raptou sua filha?
Luciana - Isso mesmo, você precisa fazer alguma coisa para me ajudar!
Delegado - Como consegue ter tantos problemas? Primeiro foi os bandidos querendo matar sua família, causando maior alvoroço na cidade; tive até que chamar o exército para interferir, e agora sua filha é raptada! Por acaso está me escondendo alguma coisa?!
Luciana - Eu também não consigo entender o por quê essa gente está atrás da minha família. (olha a placa na mesa com um nome) - Então te suplico Delegado Adilson Torres, que me ajude a solucionar este problema!
Delegado - Claro que vou te ajudar, e com certeza nunca mais teremos que perder nosso tempo. (assobia) - Sargento Figueiredo, prenda esta mulher e depois dê um jeito de levar o marido dela também para qualquer cela, assim que tiver alta do hospital.
Luciana - O quê?
Delegado - Se pensa que vai sujar minha imagem está muito enganada!
Luciana - Seu, seu filho da puta!
Assim que Luciana é retirada da sala a força, Adilson Torres responde um telegrama: "Está feito, eles não será mais nenhum problema para você"
DOZE ANOS DEPOIS...
CENA 3 - MANSÃO VALLERE / VILA RECANTO / TARDE
Toda preparação para o café da tarde está sendo feita por Vera; e sua neta desce a escada correndo.
Melissa - Alguém viu minha pulseira da sorte? Não acho em nenhum lugar!
Vera - Se ficar descendo a escada desse jeito, vai acabar caindo e quebrando a perna! Daí quero ver como vai fazer para dançar.
Melissa - Aí vó, para de ficar jogando praga! (vasculha as tigelas) - Apenas estou atrasada. (olha por baixo das estantes) - Fala pra ela pai, parar de ser ranzinza.
Renato - Não me envolva na briga de vocês! (toma um pouco de vinho enquanto assina alguns papéis)
Vera - Que absurdo! Só estou querendo que minha neta mude a postura.
Melissa - E eu quero que minha avó também mude, vestindo algo mais alegre, cheio de vida, e pare de ficar usando preto, preto...
Vera - Sabe muito bem o por quê só uso preto! (treme o olhar)
Melissa - Achei minha pulseira, sabia que tinha deixando cair por aqui! Tchau, e mil beijos!!!
Vera - Não vai comer ou beber alguma coisa?! (escuta a porta bater) - Você precisa dar um jeito nessa menina, antes que as atrapalhadas dela nos traga sérias complicações.
Renato não se importa muito e continua assinado seus papéis.
Na casa de vidro, Melissa chega toda alvoraçada e encontra sua melhor amiga de companhia.
Melissa - Nem acredito que vamos começar a dançar aqui!
Kimberly - Será ótimo para aprendermos novos passos e; aconteceu alguma coisa?
Melissa - E esse espelho?
Kimberly - O que têm?
Melissa - Parece que estou vendo alguma coisa através dele, algo se mexendo, como se tivesse alguém do outro lado.
Kimberly - Ai Melissa, você não deve estar em seu juízo perfeito; só pode estar de brincadeira.
Melissa - Olha aqui embaixo, bem no canto, tem uma fechadura; onde será que está a chave?
Em certa distância (de frente para um hotel), um carro branco de luxo estaciona e dele, desce uma mulher toda poderosa, segurando uma chave de ouro na mão.
Concierge - Seja bem-vinda madame, garanto que sairá de Recanto mais rica do que entrou, este é o dilema da cidade.
Meratriz - Disso tenho certeza! (dá um sorriso sarcástico com seus lábios vermelhos)
(Congela em Meratriz)
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