Voz da Bossa - Cap 010
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CENA 001.
CEMITÉRIO LA PAZ. EXTERIOR. DIA/MANHÃ
Inconsolável,
Letícia se despede de Madre Eufrásia.
Letícia – Madre, eu
levarei comigo todos os seus ensinamentos e conselhos que aprendi no
Educandário. Te agradeço por tudo, a senhora foi como um a segunda mãe e avô
para mim. Eu te amo.
Letícia joga
a rosa em cima do caixão. Ao enterrar a madre superiora, Padre Felício inicia a
leitura do testamento:
Padre Felício – Bom dia amigos, a minha grande amiga, Eufrásia
Carvalho Martins veio a óbito. Em respeito e consideração anos prestados, Irmã
Margarida dos Anjos Freira assume o cargo de madre superiora do Educandário
Religioso Nossa Senhora de Guadalupe.
Todos
aplaudem irmã Margarida e diz:
Margarida – Eu fico
muito feliz pela consideração que a madre teve comigo. Ela me criou como uma
irmã mais velha e levarei comigo os aprendizados durante todos esses anos. A
sua devoção à Deus é incomparável e cumpriu sua missão com maestria na terra.
Desse mundo, a madre levou consigo o conhecimento e o amor ao próximo.
Após os
aplausos a nova madre superiora, o padre Felício finaliza a leitura do
testamento:
Padre Felício – Em consideração aos bons ensinamentos e ao exemplaríssimo
comportamento como aluna e ser humano, eu, Eufrásia Carvalho Martins, entrego
este documento docente da formação de Letícia Conceição Moreira. E como
lembrança prometido há algum tempo, lhe ofereço um anel de brilhantes para
levar consigo, as boas lembranças que teve no Educandário durante dezessete
anos. Finalizo este testamento com louvores a Deus e aos querubins.
Letícia se
emociona com a declaração de Eufrásia e diz:
Letícia – Estou
muito feliz com a consideração da madre sobre minha pessoa. Não consigo
imaginar a minha vida sem ela e fora do Educandário. Agora é hora dela
descansar em paz e que Deus a acolha num lugar muito especial.
Letícia é
consolada por Selma e todos deixam o cemitério:
Selma – Agora é
hora de recomeçar a sua vida na cidade.
Letícia – Vai ser
difícil de recomeçar, mas vou tentar.
Selma – Entre ai
no carro, o seu irmão está varado de fome e temos que voltar a cidade ainda.
Letícia
entra no carro e olha o Educandário e o cemitério lado a lado e se despede do
interior. Vendo tudo, o espírito de Eufrásia diz:
Eufrásia – Agora meu
caro Felipe, irei descansar num novo plano.
Felipe – Você
merece Madre, aliás, você veio para o lugar certo.
Eufrásia – Pois é!
Agora posso dizer de peito aberto: Se o mundo fosse bom, não estaríamos aqui
tendo uma visão ampla do sofrimento daqueles que vivem nele.
Felipe dá as mãos para Eufrásia e o espírito desaparece.
CENA 002.
MANSÃO DOS OLIVEIRA CHAGAS. SALA. INTERIOR. DIA/TARDE
Horas depois: Eleonora chega a mansão com bolsas de mercado e
Charles ironiza.
Charles – Você
demorou no mercado para fazer essas compras mixurucas?
Eleonora – E desde
quando você se interessa se eu saio ou deixo de sair? Se preocupa com seu
escritório de advocacia que ainda nem saiu do papel.
Charles – Já dei
entrada nas documentações, só falta eles me mandarem a correspondência... Mais
alguma coisa madame?
Eleonora – Si, eu
quero que você tome conta da sua vida. Apenas isso!
Charles – Pode
deixar madame, seu desejo é uma ordem.
Eleonora – Acho
muito bom! Com licença.
Eleonora vai
para a cozinha e Astolfo entra em casa.
Astolfo – Sua mãe já
chegou?
Charles – Chegou
atacada e nervosa.
Astolfo – Você
provoca ela ou você acha que não percebo as coisas?
Charles – Só estou
brincando com ela, só isso.
Astolfo – Sei...
enfim, vou para o quarto, qualquer coisa é só me chamar.
Charles – Pode
deixar pai.
Astolfo deixa a sala e Charles continua lendo o jornal
CENA 003.
MANSÃO DAS MAGALHÃES ARANTES. SALA. INTERIOR. DIA/MANHÃ
Marília
chega em casa e Mirian pergunta:
Mirian – Dona
Marília, onde estava? Fiquei preocupada.
Marília – Não
precisava ficar preocupada, fui à praia de Copacabana para esfriar um pouco a
cabeça.
Mirian – Quer um
chá para tranquilizar?
Marília – Não
precisa. Cadê o povo dessa casa? Alma Dana e a Clara?
Mirian – Dona Alma
Dana foi liberada por Anderson para limpar o terreiro e Clara está no quarto.
Marília – Até que
fim não verei essa velha macumbeira hoje. Bom, vou me banhar.
Mirian – Ah, o
senhor Anderson disse que chegará um pouco mais tarde.
Marília – Não me
surpreende, ele vive enfurnado nesses clubes de músicas mequetrefes.
Mirian – Dona
Marília, posso preparar o jantar dessa noite?
Marília – Pode e já
que o Anderson chegará tarde, traga o jantar somente para mim. Se o Jonatan e
Clara quiserem comer, é só esquentar a comida.
Mirian – Pode
deixar patroa.
Marília sobe
as escadas e Mirian vai para a cozinha. No quarto, Clara escreve uma
carta romântica Murilo invade:
Clara – Que
susto? Como entrou aqui? E o que faz aqui?
Murilo – Vim
conversa contigo sobre o nosso matrimônio.
Clara – Ih
começou! Primeiro é a Laura que vem aqui, agora você [...].
Murilo – Ora pois,
o que a Laura estavas a fazer aqui?
Clara – Para
debater o mesmo assunto, o nosso noivado, mas não estou disposta para falar
disso.
Murilo – Você
nunca está disposta para a gente, como sempre.
Clara – Se estou
mantendo esse namoro contigo, é por causa do meu pai, porque se dependesse de
mim, não iria querer te ver nem pintado a ouro.
Murilo – Como
podes me tratar desta maneira?
Clara – Você faz
por merecer Murilo. Não posso respirar que você vai atrás. Bom, agora preciso
estudar, depois conversamos sobre isso.
Murilo – Está
certa, tenha uma boa tarde, senhorita.
Murilo deixa o quarto e Clara se aborrece.
CENA 004.CÂMARA
MUNICIPAL. SALÃO. INTERIOR. DIA/TARDE
Jonatan
apresenta proposta de pavimentação para políticos:
Jonatan – Em
contribuição a população carioca, entrego a pasta de pavimentação nos bairros
da Baixada Fluminense.
Ricardo
analisa e diz:
Ricardo – Esse
projeto de pavimentação é um absurdo. Quinhentos mil cruzeiro para pavimentar
um espaço tão pobre? Eu reprovo.
Jonatan – Mas senhor
Ricardo, a população desses bairros sofrem com a falta de pavimentação e
saneamento básico.
Ricardo – Eu não
posso fazer nada por eles. Se fosse ao menos um lugar que desse bons frutos,
investiria, mas nem isso.
Ricardo
oferece a pasta aos políticos presente no recinto e Jonatan rebate.
Jonatan – É
inadmissível essa reprovação. Vocês são uma vergonha para esta classe a qual
represento neste recinto. A população sofre com os males por ausência do poder
público e vocês viram as costas para os necessitados.
Ereoades
debocha e diz:
Ereoades – Aqui não
é uma associação para moradores. E eu te disse que esse projeto é patético.
Jonatan – Então
você comprou todos desse recinto para reprovarem o projeto.
Todos os
políticos provocam alvoroço com a fala de Jonatan e Ricardo diz:
Ricardo – Ninguém
aqui foi comprado pelo Ereoades, é pífio esse projeto de pavimentação.
Perdoe-nos, mas não somos idiotas. Gastar o pouco dinheiro que temos em caixa
para isso é bobagem [...].
Jonatan – Bobagem?
Ricardo você se ouviu? Problemas sociais nunca foram bobagens.
Ricardo – A minha
reprovação já tem! Com licença.
Ao deixar o
recinto após Ricardo, Jonatan é abordado por Ereoades:
Ereoades – Eu te
disse, você é um rapazote sem futuro aqui dentro da câmera.
Jonatan – Vai se
fuder, eu sei que tem dedo seu por trás disso. Agora, você ganhou um inimigo
poderoso. Tenha uma péssima tarde.
Ereoades se aproxima de Ricardo e oferece quinhentos mil cruzeiros ao político e os dois comemoram.
CENA 005.
APARTAMENTO CASTILLO. PRÉDIO 1. SALA. INTERIOR. DIA/TARDE
Ana abre a
porta e se depara com Renato.
Ana – Bom dia
Renato? Quer alguma coisa?
Renato – Queria
bater um papo com o seu irmão.
Ana – Pode
entrar, o Oscar só está meio ocupado.
Renato – Ah, ok,
talvez eu volte em outra hora.
Oscar vê
Renato diz:
Oscar – Pode
entrar Renato e sinta-se a vontade.
Ana estranha
a aproximadade de Oscar e Renato e responde:
Ana – Bom
meninos, vou trabalhar, tenham uma boa tarde.
Renato entra
na casa de Oscar e pergunta:
Renato – Conseguiu algum emprego?
Oscar –
Infelizmente não, embora eu tenha sido chamado pelos donos dos comércios.
Renato pega
nas mãos Oscar e diz:
Renato – Se Deus
quiser vai dar tudo certo
Oscar e
Renato mostram proximidade e Lilian se incomoda e invade a sala:
Lilian – Bom dia
Renato, quer um copo d’água?
Renato – Não
obrigado! Eu já estou me retirando, terei que ir para a redação. Tchau!
Lilian – Tchau e
tenha uma boa tarde!
Renato se
retira e Lilian questiona:
Lilian – O que esse
rapaz queria contigo?
Oscar – Está me
ajudando a arranjar emprego.
Lilian – Espero que
seja só isso mesmo.
Oscar – O que a
senhora está insinuando?
Lilian – Nada! Não estou
insinuando nada. Vou fazer umas compras e tome conta da casa.
Oscar – Pode
deixar comigo.
Lilian deixa o apartamento e Oscar estranha o comportamento da mãe.
CENA 006.
GRAVADORA BRAMAR. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA/TARDE
Adriano
chega com Vanderlei e o anuncia para Anderson:
Adriano – Esse é o
rapaz que meu pai nos indicou.
Anderson – O famoso
Vanderlei do Cantagalo.
Vanderlei – Que isso
senhor, ainda não sou famoso não.
Anderson – Mas você
vai ficar se depender de mim, visse?
Vanderlei – Obrigado
pelo apoio.
Anderson – Adriano
prepare as papeladas para mim, por favor.
Adriano – Pode
deixar Anderson e qualquer coisa é só me chamar.
Adriano
deixa o escritório e Anderson inicia as negociações com Vanderlei:
Anderson – Então quer
dizer que é um excelente cantor.
Vanderlei – Eu só gosto
de cantar, saber mesmo, eu não sei.
Anderson – Eu disse
isso uma vez para o Adriano e agora olha onde estou? Sendo reconhecido com a
voz da bossa nova. Você não pode deixar que seus medos atrapalhem seus sonhos
rapaz. Mostre para todos que tu és talentoso, visse?
Vanderlei – Mas e se
eu não der certo como cantor profissional?
Anderson – Rapaz, me
escute. Eu estarei aqui para te ajudar e te fazer dum homem reconhecido no
Brasil inteiro, quiçá, no planeta. Comigo não tem essa de não conseguir, visse?
Vanderlei – Você
confia tanto assim em mim?
Anderson – Confio e
já fui como você um dia e te digo, cresci muito e hoje tenho tudo que sempre
sonhei. Assine esse termo de compromisso que você vai ver sua carreira deslanchar.
Vanderlei
confia nas palavras de Anderson e assina o termo. Os cantores comemoram.
CENA 007. CASARÃO
DOS VALENTE. INTERIOR. DIA/TARDE
Alma Dana
prepara a oferenda para despachar no mar e Capitão Godofredo pergunta:
Godofredo – Para que
essa oferenda mulher?
Alma Dana – Pra nos
proteger. Depois daquele arrepio, é melhor nos proteger.
Godofredo – Está certa
meu amor. Irá despachar aonde?
Alma Dana – Na praia
da macumba, lá é um lugar bem discreto.
Godofredo – Ótimo,
vou me arrumar para irmos.
Alma Dana – Ok, eu te
espero aqui.
Godofredo entra no
quarto e Alma Dana vê uma sombra passando pela porta e grita:
Godofredo – O que houve amor?
Alma Dana – Eu vi uma
sombra passando pela porta.
Godofredo abre a porta
e vê uma pessoa toda de preto no morro.
FIM DO CAPÍTULO 10
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