CORAÇÃO PARTIDO
Capítulo: 001
novela criada e escrita por:
Marcos Castelli
escrita com:
Douglas Vicente
supervisão e edição de texto:
Morais Filho
(CENA 001 - FAZENDA DOS MATARAZZO - SALA - INTERIOR - NOITE)
{Letreiro - Texto: Mato Grosso, 2000}
(Instrumental suspense)
A cena se inicia com José Lorenzo entrando na fazenda de pressa montado no cavalo. Ele desce do cavalo e entra correndo em casa. Odete, que estava sentada na cozinha preparando o jantar, se assusta e vai para sala ver o que está acontecendo. Chegando na sala, ela vê seu marido abrindo todas as gavetas do armário da sala. Ela fica preocupada e pergunta para ele do porquê d'ele estar nervoso.
Odete - Aconteceu alguma coisa?
José Lorenzo - Estamos perdidos, mulher, estamos perdidos!
Odete - Como assim? O que aconteceu?
José Lorenzo - Lembra do justiceiro pra quem eu pedi dinheiro para pagar algumas contas da fazenda?
Odete - Claro que lembro.
José Lorenzo - Ele pediu o dinheiro antes do prazo, e agora eu não sei onde está a merda do dinheiro.
Odete - Mas a gente só tem a metade.
José Lorenzo - Não interessa. A gente tem que dar essa merda de dinheiro pra ele. Maldita hora em que fui pegar dinheiro com justiceiros.
Odete - E agora, o que vamos fazer?
José Lorenzo - Se a gente não achar esse dinheiro, nós vamos ter que fugir.
Odete - Fugir?
José Lorenzo - Se a gente quiser sobreviver, vamos ter que fazer isso. É isso ou a gente morre.
Odete - Não posso deixar que matem o meu filho, isso não.
Odete sai correndo da sala. José Lorenzo continua procurando pelo o dinheiro.
(CENA 002 - FAZENDA DOS MATARAZZO - QUARTO DO JOAQUIM - INTERIOR - NOITE)
Joaquim está deitado na cama, quando sua mãe abre a porta desesperada.
Joaquim - Mãe, aconteceu alguma coisa?
Odete - Arrume suas coisas agora.
Joaquim - Por que?
Odete - Só faça o que estou mandando.
Sem entender nada, Joaquim sai da cama e começa a arrumar suas coisas.
(CENA 003 - FAZENDA DOS MATARAZZO - SALA - INTERIOR - NOITE)
Odete - Olha só no que você nos meteu. Eu ainda pedi pra você esperar mais um pouco, que minha tia estaria mandando o dinheiro pra gente.
José Lorenzo - Mas a gente não podia esperar. Estávamos em risco de pôr a fazenda em um leilão e isso não podia acontecer.
Odete - Mas está acontecendo algo pior. Agora vamos ter que fugir daqui, botando em risco a vida do nosso filho.
José Lorenzo - Espera.
José Lorenzo e Odete ficam em silêncio e ele ouve barulho de pisadas de cavalos correndo.
Odete - São eles.
José Lorenzo - Não entra em desespero. Pega o Joaquim, e foge pelos fundos.
Odete - Mas e você?
José - Só faça o que estou mandando.
Odete corre para o quarto de Joaquim. Ela rapidamente tranca a porta.
Odete - Se apressa, meu filho, temos que fugir o mais rápidos que pudermos.
Joaquim - E o papai?
Odete - Ele vai ficar bem.
Joaquim veste um casaco longo, que tem um bolso grande para que ele possa botar o cordão que sua mãe lhe entrega. Odete abre a janela e os dois saem por trás. Odete cai no chão ao pular da janela, ela machuca seu joelho, que na mesma hora começa a sangrar. Joaquim logo percebe que ela se machucou e tenta ajudá-la a levantar do chão.
Joaquim - Vamos, mãe. Seja forte, não podemos morrer.
Com dificuldades, ela levanta do chão e volta a correr em direção a mata da fazenda.
(CENA 004 - FAZENDA DOS MATARAZZO - CASA - EXTERIOR - NOITE)
José Lorenzo sai e enfrenta os justiceiros.
Justiceiro 1 - Eu não te avisei que eu queria o dinheiro antes do prazo?
José Lorenzo - Não achei o dinheiro, senhor. Eu te imploro, me dê mais uns dias pra eu poder juntas o dinheiro novamente.
Justiceiro 1 - Nem mais um dia. Eu quero o dinheiro agora, mas já que não tem, vai pagar com sua própria vida. Eu vou acabar com a tua raça, seu pilantra.
O justiceiro ergue a arma e atira em José Lorenzo. O outro justiceiro, que está todo encapuzado, entra na sala e depois volta para fora.
Justiceiro 2 - A mãe e o menino não estão na casa.
Justiceiro 1 - Droga! Devem ter fugido por trás. Atrás deles, agora!
(CENA 005- MATA - EXTERIOR - NOITE)
Joaquim e Odete estão correndo a todo vapor, quando ela tropeça em um galho e cai no chão. Joaquim, desesperado, volta para trás e tenta ajudar sua mãe.
Odete - Eu não vou seguir, meu filho. Você é jovem, tem mais força e energia do que eu. Foge, foge enquanto é tempo.
Joaquim - Eu não vou deixar a senhora pra trás, não posso fazer isso.
Odete - Se eu for junto com você, eles vão perseguir nós dois. Não quero que nada de ruim aconteça com você. Você tem que ser forte, meu filho, tenha coragem e foge.
Joaquim - Mas, mãe...
Odete tira o seu cordão do pescoço. Ela beija o cordão e, em seguida, entrega para Joaquim, que chora e abraça sua mãe.
Odete (chorando) - Eu sempre te amarei, não importa onde eu esteja. Sempre estarei te protegendo de todo o mal. Agora enxuga essas suas lágrimas e siga em frente.
Joaquim (chorando) - Não quero ir, mãe. Eu não quero te deixar.
Odete - Você foi a melhor coisa que Deus poderia ter me dado. Eu dou a minha vida pela sua. Eu te amo, meu filho.
Joaquim chora e Odete lhe abraça.
Odete - Me promete que vai ser muito feliz e que vai se tornar alguém na vida?
Joaquim - Prometo!
Odete - Vá para uma rodoviária e compre uma passagem para São Paulo. Uma amiga minha, que trabalha lá, vai te ajudar.
Joaquim - Tá bom.
Odete abraça seu filho pela última vez.
Odete - Agora vá, antes que seja tarde demais.
Joaquim olha para sua mãe emocionado e sai correndo pela mata. Os justiceiros, que estão montados no cavalo, veem Odete sentada no chão. Eles se aproximam dela e um deles desce do cavalo.
Justiceiro 1 - Olha só quem está aqui.
Odete - Não faça nada comigo.
Justiceiro 1 - Deveria ter pensado nisso antes de não querer pagar a dívida.
(CENA 006 - MATA - EXTERIOR - NOITE)
Correndo pela mata, Joaquim escura barulho de tiros e começa a chorar. Ele continua correndo e bate com a cabeça em um tronco de árvore e por uns segundos fica jogado no chão, mas, ao ouvir a voz de um dos justiceiros, ele rapidamente se levanta e se esconde atrás de uma das árvores.
Justiceiros 2 - Daqui eu sinto o cheiro do perfume dele.
Justiceiro 1 - E não está muito longe. Vamos achar logo esse menino e acabar com a vida dele.
Os justiceiros vão para outra direção. Joaquim sai de trás da árvore e, de repente, alguém vem por trás dele e tapa sua boca. Joaquim arregala os olhos.
(CENA 007 - MATA - EXTERIOR - NOITE)
Manoel - Fica em silêncio.
Manoel tira sua mão da boca de Joaquim.
Joaquim - Manoel?
Joaquim na mesma hora desmaia.
(CENA 008 - AMANHECER NA MATA)
(CENA 009 - CASA DO MANOEL - QUARTO - INTERIOR - DIA)
Manoel entra no quarto com uma caneca na mão. Joaquim acorda assustado, senta-se na cama e pega o copo de leite. Ele começa a chorar ao se lembrar de seus pais. Manoel pega o cordão que estava no bolso de Joaquim e entrega para ele.
Joaquim - Ainda não aceito que tudo isso aconteceu em um só dia. Perdi meus pais, perdi minha casa e tive minha vida toda mudada.
Manoel - O importante é que você está vivo e precisa ir embora o mais rápido possível. Você sabe que eu gosto muito de você, trabalhei na fazenda dos seus pais por muitos anos. Só quero o seu bem, porque a qualquer momento ele pode bater na minha porta.
Joaquim - Não se preocupa, Manoel, eu só preciso que você enterre os corpos dos meus pais. Eles merecem ser enterrados.
Manoel - Irei fazer isso. Agora eu vou te levar para a rodoviária e, quando chegar lá, estarei te dando um bom dinheiro para você conseguir chegar ao seu destino.
Joaquim - Eu fico muito agradecido.
Joaquim sorrir para Manoel, mas ainda com um olhar triste e fundo.
(CENA 010 - ESTRADA - EXTERIOR - DIA)
Joaquim se debruça na janela do carro e fica pensativo...
(CENA 011 - RODOVIÁRIA - INTERIOR - DIA)
Manoel - Aqui está a sua passagem para São Paulo e aqui...
Manoel tira do bolso um maço de dinheiro. Divide em duas partes e entrega para Joaquim.
Joaquim - Eu não posso aceitar.
Manoel - Aceite! Você vai precisar muito.
Joaquim - Mas, e você?
Manoel - Deixa de bobagem. Eu sei me virar e você está precisando mais do que eu.
Joaquim - Nunca vou esquecer o que você está fazendo por mim.
Manoel sorri. Joaquim abraça ele, um pouco emocionado. Ele entra no ônibus. Senta no banco da janela e se despede de Manoel. A porta do ônibus fecha e ele parte.
{Letreiro - Texto: Jardim do Vale, SP}
(CENA 012 - CASA DO PREFEITO - FRENTE - EXTERIOR - DIA)
Melissa está na porta de sua casa, impaciente, esperando seu namorado Lucas.
Melissa - Onde foi que ele se meteu? Daqui a pouco está na hora da aula e nada desse irresponsável.
A câmera foca em Lucas, que está em uma bancada de flores. Ele pega um dos buquês e paga a senhora. Ele vai andando todo contente em direção da casa do prefeito. Melissa, que ainda está impaciente, vê seu namorado na porta de sua casa e sorri.
Melissa - Por quê demorou tanto? Sabe que não posso pegar muito sol. (Ela tira o sorriso da cara).
Lucas - Não seja dramática. Só atrasei dois minutos, e isso porque estava comprando essas rosas para você.
Melissa se aproxima de Lucas. Ela pega as rosas, sorrir para Lucas e depois surpreende ele jogando as rosas no chão e pisando nelas.
Lucas - Melissa!
Melissa - Isso é pra você aprender a não fazer eu te esperar. Onde se viu, uma dama como eu esperar por um homem? Não deveria ser ao contrário?
Lucas - Mas eu já te falei o motivo...
Melissa - Quieto. Perdeu uma bela oportunidade de cheirar o meu cangote. Sabe, passei aquele perfume, que te deixa tão, mas tão...
Melissa pisa no pé de Lucas, que estava se aproximando de seu cangote. Lucas grita de dor. Melissa fecha o portão da sua casa.
Melissa - E vamos. Porque não quero chegar atrasada na minha aula.
Melissa anda.
Lucas - Que garota difícil.
Lucas vai correndo atrás dela.
(CENA 013 - ESCOLA JARDIM DO VALE - PÁTIO - EXTERIOR - DIA)
Estela e Júlio estão se beijando atrás da árvore da escola. Ela parece estar gostando do beijo, mas ela para de beijar ele e o empurra para trás.
Estela - Melhor a gente não se beijar na escola.
Júlio - Por que?
Estela - Eu posso ficar mal falada.
Júlio - Isso não vai acontecer, minha pérola preciosa. Se esqueceu que em breve vou te pedir em namoro?
Estela - Então por que não pede logo? Não vejo a hora de todos saberem da gente.
Júlio - Eu só não te pedi em namoro, oficialmente, porque... porque estou esperando a oportunidade boa para fazer isso. Quero que esse dia seja muito especial.
Estela - Todos os dias com você são especiais.
Júlio - Tenta me entender, por favor.
Estela abaixa sua cabeça. Júlio com suas mãos levanta a cabeça dela.
Júlio - Não fica triste, tudo vai se resolver. Logo, logo vamos estar juntos por aí e todo mundo vai ficar com inveja da gente. Eu vou te fazer a namorada mais feliz mundo.
Estela - Você promete?
Júlio - Prometo! Por você, eu prometo tudo.
Estela sorri. Júlio beija Estela.
(CENA 014 - INTERIOR DO ÔNIBUS - INTERIOR - DIA)
Joaquim, que estava dormindo, se assusta após o ônibus passar uma parte da rua com buracos. Mas ele volta a relaxar.
Joaquim - Mãezinha! Minha mãe amada. Por que isso foi acontecer com a senhora? Meu pai, eu também não esqueci do senhor. Sem o senhor, eu não teria aprendido a tirar leite da vaca (riso). Eu nunca vou me esquecer de vocês dois.
Ele pega em seu bolso o cordão que sua mãe lhe deu antes de morrer. Ele chora e bota o cordão em seu pescoço.
Joaquim - Recomeçar... É isso.
(CENA 015 - CASA DA JOSEFINA E LUÍS - SALA - INTERIOR - DIA)
Josefina sai da cozinha com uma xícara de chá. Ela entrega para seu marido, Luís Carlos, e senta no sofá ao lado dele.
Josefina - Estou tão preocupada.
Luís Carlos - Com o que?
Josefina - Não sei muito bem o que é, mas tenho sentido umas dores no peito. Será que aconteceu alguma coisa com o nosso filho?
Luís Carlos - Notícia ruim chega rápido. Se tivesse acontecido alguma coisa com ele, já estaríamos sabendo.
Josefina - Eu não sei. Tem alguma coisa me dizendo que algo está acontecendo.
Luís Carlos - Então liga pra ele e você vai ver que eles estão bem.
Josefina - Vou ligar mesmo.
Josefina tira o telefone do gancho e disca o número da casa do seu filho.
Josefina - Está chamando.
Chama por 5 vezes. Josefina bota o telefone no gancho, ela se levanta do sofá e vai para janela.
Josefina - Que angústia é essa?
Ela bota a mão no peito, preocupada.
(CENA 016 - ESCOLA JARDIM DO VALE - PÁTIO - EXTERIOR - DIA)
Melissa e Lucas entram na escola. Melissa encontra algumas amigas da sua classe, enquanto Lucas para pra conversar com Júlio.
Lucas - Bom dia!
Os dois se complementam.
Júlio - Por que minha irmã está te olhando daquele jeito?
Lucas - Ela não gostou que eu cheguei dois minutos atrasado para buscar ela.
Júlio - Você sabe que minha irmã não gosta de esperar por ninguém.
Lucas - Mas eu sou o namorado dela.
Júlio - Não interessa. Agora eu tenho certeza que ela vai fazer você pagar por isso.
Lucas - Eu sei como domar a fera.
Júlio - Só quero ver.
Ele dá uns tapinhas nas costas do Lucas e sai andando.
Lucas - Eu ainda vou fazer o que eu quero com ela. Ah, se vou.
(CENA 017 - RODOVIÁRIA DE SÃO PAULO - INTERIOR - DIA)
Joaquim desce do ônibus. Ele fica impressionado com o tamanho da rodoviária. Ele olha para um lado e para o outro.
Joaquim - Onde será que eu pego o táxi?
Ele se aproxima de um homem, que está com um terno elegante.
Joaquim - Moço? Será que você poderia me ajudar?
Homem 1 - Claro. Do que precisa menino?
Joaquim - É que cheguei agora e é minha primeira vez em São Paulo.
Homem 1 - Já sei. Você está perdido?
Joaquim - Sim. Queria saber onde que pego um táxi.
O homem elegante aponta a porta da entrada da rodoviária.
Joaquim - Muito obrigado.
Homem 1 - Tenha cuidado. São Paulo é uma cidade muito perigosa, não fale com ninguém.
Joaquim - Pode deixar.
Joaquim sorri. Ele vai andando até a porta de saída. Saindo da rodoviária, ele faz sinal para o táxi, que para. Ele entra no táxi.
Joaquim - Por favor. Me leva para a cidade Jardim do Vale.
Taxista - No bairro nobre ou no bairro pobre?
Joaquim - Bairro nobre.
Taxista - Certo.
(CENA 018 - ESCOLA JARDIM DO VALE - SALA DE AULA - INTERIOR - DIA)
Estela e Gael estão conversando.
Gael - Você mais uma vez caiu na lábia daquele pilantra.
Estela - Não fala dele dessa maneira. Ele me prometeu que, antes do meu aniversario, vai me pedir em namoro na frente de todos.
Gael - Quando isso de fato acontecer, você me chama. Ele diz isso pra você todos os anos e nunca faz nada do que te promete.
Estela - Para de querer ficar se metendo na minha vida. Eu amo o Júlio, e tenho certeza que ele também me ama.
Gael - Olha só a pessoa que você está se transformando. Tudo isso por causa de um garoto que nem liga pra você e que só está te cozinhando. E quando você cozinhar, ele vai querer comer o que cozinhou. E você sabe quem é a comida.
Estela - Não fala essas barbaridades. O Júlio é diferente.
Gael - Ele é igual a todos os meninos dessa cidade. E quando acontecer o que eu já estou prevendo, eu só vou te dizer uma coisa: Eu te avisei.
Júlio, Lucas e Melissa entram na sala e sentam em seus lugares.
Melissa - Não adianta me pedir desculpas.
Lucas - Eu já fiz de tudo. O que você quer mais?
Melissa - Joias. Eu quero joias.
Lucas - Mais joias? Mas só essa semana eu te dei umas dez.
Melissa - Toda dama, como eu, merece uma joia. E quero uma bem bonita e exclusiva.
Lucas - Você quer levar a minha família a falência.
Melissa - Para de ser pão duro. Sua família é multimilionária. E ainda por cima são donos de uma das joalherias mais famosas do mundo.
Lucas - Eu mereço.
Melissa - Se quiser o meu perdão, vai ser assim, do meu jeito.
Melissa cruza suas pernas e presta atenção na aula.
Lucas - Tenho que dar um jeito nisso.
(CENA 019 - CIDADE JARDIM DO VALE - EXTERIOR - DIA)
O táxi onde está Joaquim, chega na cidade.
Joaquim - Pode me deixar aqui mesmo. Eu vou caminhando até o meu destino.
Taxista - Como quiser.
O táxi para perto da escola. Joaquim abre a porta do carro. Ele desce do táxi e fecha a porta.
Joaquim - Que cidade bonita.
Ele vai caminhando até chegar na casa dos seus avós. Ele para em frente a entrada. Ele respira fundo e aperta a campainha.
Joaquim - Será que é aqui mesmo?
Josefina abre a porta. Ela fica surpresa ao ver Joaquim. Ela rapidamente desce para a entrada e abre o portão.
Josefina - Joaquim.
Ela abraça seu neto.
Josefina - Cadê os seus pais? Onde eles estão?
Joaquim - Os meus pais... eles...
Ele entristece.
Josefina - Não. Não me diga que...
Josefina chora.
Josefina - Como isso aconteceu? Entra meu filho, entra.
(CENA 020 - CASA DA JOSEFINA E LUÍS - SALA - INTERIOR - DIA)
Josefina e Luís Carlos estão sentados no sofá um ao lado do outro. Enquanto isso, Joaquim está sentado em uma poltrona confortável.
Joaquim - E foi isso que aconteceu.
Josefina - Eu não posso acreditar que o meu filho e sua mãe morreram. Ainda mais dessa maneira tão cruel.
Joaquim - Minha mãe deu a vida dela em troca da minha. Eu vou sentir muita falta dela.
Luís Carlos - Não sei nem o que falar. O meu único filho morreu, nem sei quando foi a última vez que vi ele. Eu queria tanto ter me despedido dele.
Joaquim - Eu também não me despedi do meu pai. Tudo que eu tenho agora, são vocês. Vocês são a única família que eu tenho.
Josefina - Você pode contar com a gente pra tudo que quiser.
Luís Carlos - O seu pai foi um grande homem e morreu como um guerreiro.
Joaquim - Foi muito desesperador ouvir os barulhos do tiro. Ainda mais quando eu senti que eles estavam mais perto de mim. Se não fosse o ex-capataz que trabalhou na fazenda dos meus pais, acho que eu teria morrido.
Josefina - Não fala isso nem brincando. Estou muito feliz que você nos procurou.
Luís Carlos - Aqui você está seguro e longe de todas maldades.
Joaquim - Mas alguém mora aqui com vocês?
Josefina - Tem sim. O nome dele é Gael.
Luís Carlos - Gael, é um menino bom. Tenho certeza que ele vai gostar muito de você.
Josefina - Mas tem um porém: Você terá que dividir o quarto com ele, até que a gente possa arrumar o seu pôr ompleto.
Joaquim - Não vejo problema algum.
Josefina - Bom saber. Agora vá tomar um banho, trocar essa roupa e descansar.
Joaquim - Será que eu poderia dar uma volta na cidade depois que eu tomar banho? Não estou com cabeça pra descansar.
Josefina - Pode sim. Mas muito cuidado.
Joaquim - Tá bem.
Joaquim se levanta da poltrona. Josefina e Luís Carlos ficam com pena de seu neto.
Josefina - Vai ser muito duro pra ele.
Luís Carlos - Ah, se vai.
(CENA 021 - CASA DO PREFEITO - SALA - INTERIOR - DIA)
Rafael desce para sala. Ele está descendo a escada. Ele ver uma caixa com doces em cima do sofá e seus olham brilham.
Rafael - Finalmente doce.
Rafael vai andando de pressa e agarra a caixa com doces. Ele pega várias balas e enfia dentro da boca.
Rafael - Ai que saudade de comer um docinho.
Em silêncio, sua esposa, Valéria, desce a escada. Ela vai se aproximando dele e ela grita:
Valéria - Rafael!
Rafael se assusta e acaba se engasgando com as balas. Rafael faz sinal de sufoco para Valéria. Ela começa a dar tapas em suas costas e ele cospe as balas.
Rafael - Você quase me matou.
Valéria - Quem vai acabar te matando são esses doces que você come escondido. Sabe que não pode comer. Não se esqueça que você é diabético.
Rafael - Isso não é da sua conta. Se eu morrer, que seja comendo algo que eu gosto.
Valéria - Ah, então você prefere morrer? (Ela cruza seus braços).
Rafael - Falei por impulso.
Valéria - Você tem que cuidar da sua saúde. Não quero que morra antes de se tornar o presidente, futuramente.
Rafael - E o que você está fazendo em casa? Não era pra estar na reunião com suas amigas da cidade?
Valéria - Na verdade estou atrasada. E não vai pensando que eu vou deixar esses doces aqui pra você.
Rafael - O que vai fazer com esses doces?
Valéria - Fazer? Eu vou jogar no lixo.
Rafael - Não faça isso.
Valéria pega a caixa de doces. Ela sai para fora da casa.
Rafael - Que desgraça.
CENA 022- CASA DA CARMEN - SALA - INTERIOR - DIA
Carmen e suas amigas que estão muito elegantes estão sentadas no sofá. Algumas delas estão com xícaras e conversando uma com as outras. Valéria, entra na mansão.
Valéria - Me desculpa pelo o atraso.
Carmen - Que nada amiga (levanta do sofá). Você quase se atrasou, foi por pouco.
Valéria - Estava passando por uma casa de doce. Aí comprei alguns docinhos pro nosso chá da semana.
Carmen - Ótimo!
Carmen e Valéria sentam no sofá.
Carmen - Vamos começar a reunião.
Todas se calam.
Valéria - A reunião de hoje é sobre algumas regras que a gente tem que botar na cidade. E uma delas são pessoas indesejadas, que moram nessa parte da cidade.
Carmen - Sabe o filho daquela vizinha que veio pra cá há pouco tempo? Fiquei sabendo que a mãe dele pegou ele chupando o que não devia.
Valéria - São esses tipos de gente que temos que expulsar daqui. Eles são um mal exemplo para nossos filhos.
Carmen - E o que você tem em mente?
Valéria - Punir esse tipo de gente.
Carmen - Punir? Como assim?
Valéria - Eu vou explicar.
A conversa fica em off.
CENA 023 - CASA DA JOSEFINA E LUÍS - QUARTO - INTERIOR - DIA
Joaquim sai do banheiro. Enrolado na toalha ele senta na cama. Uma blusa está em cima da cama. Ele pega a blusa e cheira ela.
Joaquim - Que blusa cheirosa.
Gael - Você gostou?
Joaquim se assusta e joga a blusa no chão.
Gael - Não precisa ficar com medo. Eu sou o Gael, o menino que veio de Portugal, para fazer o intercâmbio na cidade. E você?
Joaquim - Me chamo Joaquim.
Gael - Então você é o neto da Josefina e do Luís Carlos?
Joaquim - Sim.
Gael - Seja muito bem vindo. Espero que sejamos amigos. É que na verdade eu não tenho amigos.
Joaquim - Será que você me empresta alguma roupa sua? É que eu vim e não trouxe nada.
Gael - Pode pegar o que você quiser.
Joaquim - Muito obrigado. Será que poderia sair do quarto?
Gael - Ah, claro. Se precisar de algo é só me chamar.
Gael sai do quarto e fecha a porta.
CENA 024 - ESCOLA JARDIM DO VALE - ENTRADA - EXTERIOR - DIA
Estela e Júlio estão na porta da escola.
Júlio - Então a gente se ver mais tarde?
Estela - Claro que sim.
Júlio - Então te espero no lugar de sempre.
Estela - Tá bom.
Júlio vai embora...
Estela - Como ele pode ser tão perfeito assim?
Melissa se aproxima dela.
Melissa - Então amiga, vamos no shopping?
Estela - A minha mãe não quis me dar dinheiro.
Melissa - Não tem problema. Se esqueceu que eu sou a filha do prefeito? Quem manda aqui é o meu pai.
Estela - Se é assim vamos.
Melissa - O motorista do meu pai daqui a pouco está chegando.
Estela - Olha só o seu namorado jogando bola.
Melissa - É a coisa mais linda né?
Ela admira o seu namorado.
CENA 025 - CASA DA JOSEFINA E LUÍS - ENTRADA - EXTERIOR - DIA
Joaquim sai da casa de seus avós. Ele fecha o portão e deixa seu cordão cair no meio da rua.
Joaquim - Ai, meu cordão.
(Instrumental suspense)
Joaquim vai para o meio da rua e abaixa-se para pegar seu cordão. O cordão está preso em uma das pedras da rua, ele puxa e não consegue soltar.
Joaquim - Solta.
Um carro vem em direção a Joaquim, que está distraído tentando puxar o cordão que está preso.
Corte para Lucas que olha a cena.
Lucas - Menino. Menino, olha o carro.
Joaquim não escuta Lucas. O carro vai se aproximando cada vez mais de Joaquim. Então Lucas deixa a bola cair no chão e corre em direção a Joaquim. Melissa que está de longe grita:
Melissa - Lucas!
Lucas corre o mais rápido que pode. Ele empurra Joaquim, que consegue soltar o cordão que estava preso. Lucas é quase atropelado, mas o carro freia na hora.
Motorista - Olha por onde anda, moleque.
Lucas vai correndo até Joaquim. Ele pega nas mãos dele.
Lucas - Você está bem?
Ele olha para Joaquim e sorri. Joaquim também sorri para Lucas.
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