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O DESTINO DE ALGUNS
Episódio: 03
Escrita por Júlio Cesar M. Vieira.
Colaboração, Supervisão e Adaptação: Morais Filho
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Narrador-Personagem: Gabriel.
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- Tínhamos que correr antes deles nos pegarem...
Nos esgueiramos pelo duto de ar até chegar no final dele. Estávamos todos nervosos pelo que acabara de acontecer com o senhor Luís. Nossa respiração estava pesada e eu não conseguia parar de me culpar pelo que aconteceu.
Victor, que estava na frente, parou e falou que estava vendo uma espécie de depósito, mas não conseguiu enxergar direito pela fresta do duto. Ele abriu com cuidado a tampa e viu que não tinha ninguém por perto.
Saímos um a um sem fazer barulho e nos espantamos quando vimos que aquele depósito que o Victor havia falado era, na verdade, um abatedouro de pessoas. Corpos e tripas espalhados por todo chão do local fez com que Caio vomitasse.
Em seguida ouvimos passos de alguém se aproximando da gente. Rapidamente nos escondemos atrás das caixas de papelão em silêncio. Um enorme homem gordo chegou perto de onde nós estávamos com um grande facão cheio de sangue.
Ele parou de andar, ficou de frente onde nós estávamos escondidos e olhou para o vômito de Caio.
Ficamos desesperado e não sabíamos o que fazer...
- Tem alguém aí... -- Comentou o cara, olhando diretamente para as caixas.
Ele ergueu o facão e no momento em que ia conferir as caixas, um outro homem abriu as portas do depósito segurando uma coleira com um cachorro, avisando euforicamente da nossa fuga. Os dois começaram a conversar e aproveitamos para nos esconder em outro lugar.
Através do cartão de identificação no peito deles, vimos que o nome do "açougueiro" era Richard e do que estava segurando o cachorro, Calvin.
Este havia avisado a Richard que havíamos fugido e que o doutor mandou vistoriar todo os lugares. Em hipótese alguma, poderíamos escapar.
Calvin soltou o cachorro que correu instantaneamente na direção do vômito de Caio. Ele começou a latir, fazendo com que os dois fossem atrás dele...
- Isso já estava aqui antes ? -- Perguntou Calvin, desconfiado, a Richard.
- Pra falar a verdade, eu estava prestes a averiguar, até você chegar. -- Respondeu Richard, revirando as caixas.
- Então parece que eles estão aqui! Vamos continuar procurando. -- Concluiu Calvin.
Aquele gesto do cachorro, me deu uma ideia de como nos livrarmos daqueles dois caras.
- Ei, tive uma ideia. -- Falei, cochichando para eles. -- Tudo o que nós temos que fazer é nos livrarmos do cachorro.
- E como vamos fazer isso? -- Perguntou os dois ao mesmo tempo.
Olhei para o pedaço de carne que estava do nosso lado e para a Câmara de refrigeração, onde eles colocavam a carne para não estragar, e a joguei lá dentro.
O cachorro rosnou e, atraído pelo barulho, entrou na Câmara seguido por Calvin e Richard. Quando eles entraram lá, saí do meu esconderijo o mais rápido que pude e empurrei a porta para trancá-los, porém ao perceberem correram e tentaram me impedir pressionando a porta contra mim.
Caio e Victor vinheram me ajudar, e juntos conseguimos prendê-los lá dentro. Eles ficaram furiosos e começaram a bater na porta, mas era inútil, já que ela era feita de aço.
- Vamos embora, antes que chegue mais gente. -- Victor disse às pressas.
Pegamos alguns objetos afiados e pontudos, como facas e serras, para nos defendermos caso viesse mais gente e nos dirigimos até a saída. Quando estávamos prestes a ir embora, Richard nos chamou pela pequena janela que havia na Câmara e nos deu um alerta:
- Eu não faria isso se fosse vocês! Todos sabem que vocês fugiram e redobraram a guarda. Eles não pretendem deixar vocês escaparem.
Todos nós nos olhamos assustados com o aviso dele, mas respirei fundo e disse que tínhamos que tentar. Caio, porém, estava se sentindo muito cansado e não conseguia dar nenhum passo, devido a sua paralisa do lado esquerdo da perna.
- É assim que vocês pretendem escapar daqui? Quer um conselho? Livre-se dele! Pelo menos as chances de vocês dois sobreviverem aumentariam. -- Disse Richard para eu e Victor.
- Ele tem razão. Vai ser mais fácil vocês conseguirem fugir sem mim. -- Falou, inocentemente, Caio.
- Não vamos abandonar ninguém. Somos uma família e permaneceremos juntos. -- Respondi.
- É isso aí! Me ajude a pegar o Caio, Gabriel! Vamos levá-lo. -- Victor disse, me apoiando.
No momento em que pegamos Caio, Richard nos ofereceu um acordo.
- Ei garotos, vocês querem mesmo fugir daqui? Eu sou a melhor chance de vocês conseguirem sair daqui vivos. Se me tirarem daqui, eu ajudo vocês a passar pelos funcionários.
- Ei, o que pensa que está fazendo? Não vai mesmo ajudá-los, vai? -- Calvin perguntou, confrontando Richard.
Eu e Victor nos olhamos e pensamos se isso era o melhor a se fazer. Não sabíamos se podíamos confiar nele, mas parecia que não tínhamos outra opção. Como iríamos passar pelos funcionários, ainda mais agora, todos procurando pela gente? Nós tínhamos que arriscar!
- Tudo bem, mas antes nós queremos uma prova de que você irá mesmo nos ajudar. -- Exigi a Richard.
Quando falei aquilo, Calvin chegou por trás de Richard e tentou esfaquea-lo pelas costas na tentativa de impedi-lo de nos ajudar, porém conseguimos avisá-lo antes de ele conseguir realizar tal ato. Os dois começaram a brigar lá dentro, e o cachorro não parava de latir.
- Temos que ajudá-lo! -- Disse.
Corri até a porta da Câmara de Refrigeração e consegui abri-la, porém o cachorro veio em minha direção e pulou em cima de mim.
Tentei empurrar o cachorro, mas ele começou a me morder repetidas vezes. Victor se aproximou e deu uma facada no animal, o fazendo parar e me salvando.
Quando Victor me ajudou a levantar, fomos até a Câmara e vimos que Richard conseguiu se livrar de Calvin o matando, mas havia vários arranhões pelo o seu corpo em consequência da briga.
- Vocês vão ficar parados aí? -- Perguntou ele, todo sujo de sangue.
Ajudamos Richard a levantar, porém outros 5 funcionários chegaram armados no depósito em decorrência dos altos barulhos da briga. Ele rapidamente nos trancou na Câmara e foi averiguar a situação.
- Não façam barulho! --Alertou ele.
Restava saber agora se ele nos ajudaria ou nos entregaria. Um peso saiu das minhas costas, quando eu vi os funcionários irem embora. Parece que Richard estava mesmo disposto a cumprir o nosso acordo. Parece que ele tinha tomado conta da situação...
Não sei por que, mas estava com a sensação de que estava faltando alguma coisa...
Em instantes lembramos de Caio. Tínhamos o deixado lá fora. Os funcionários pegaram ele e o levaram para fazer a próxima retirada de órgãos.
Enquanto víamos eles o levarem, sofríamos em silêncio... Chorávamos em silêncio... Gritávamos em silêncio pela perda de mais um membro de nossa família!
Continua...
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