Logotipo da web série (Foto: Divulgação)
O DESTINO DE ALGUNS
Episódio: 06
Escrita por Júlio Cesar M. Vieira.
Supervisão, Colaboração e Adaptação: Morais Filho.
°°°°°°°°°°°°°°°°°_°
Narrador-Personagem: Gabriel.
____________
Ainda não havia acabado... Tínhamos que fugir do terreno que englobava toda a clínica do doutor. Enquanto eu e Caio nos lamentávamos pela morte de Victor, alguém vinha se aproximando da caçamba de carne, onde nós estávamos.
Nos escondemos entre as carnes e tripas da caçamba e ficamos em silêncio. Um dos funcionários, responsável pela retirada do "entulho" por assim dizer, chegou perto da caçamba e viu o corpo de Victor lá dentro. Ele estranhou, já que não era comum cadáveres estarem ali, e inclinou seu corpo para conseguir retirá-lo dali.
Quando ele estava quase conseguindo, Caio parou de se esconder e apareceu enfiando a serra, que havia pego no abatedouro, no olho do funcionário.
Aquilo me surpreendeu de uma tal maneira que eu não conseguiria imaginar. Eu não estava esperando que Caio fizesse isso. De todos nós, ele era o mais calmo e quieto, quase nunca conversava. Acho que ele se cansou apenas de observar a nossa família sendo morta...
De eles nos utilizarem apenas como se fôssemos animais...
Quando eu vi os olhos de Caio eu pude ver o que ele estava sentindo naquele momento: Uma mistura de ódio e tristeza. Ele se tocou que para sobreviver, era preciso matar qualquer pessoa que ficasse em nosso caminho.
O funcionário caiu no chão gritando de dor, sem entender o que acabara de acontecer. Para finalizá-lo, Caio pegou a faca que estava na minha mão, saiu da caçamba e cortou a garganta dele. Em seguida ele parou e olhou para mim com o seu corpo todo cheio de sangue dizendo com um olhar psicótico:
- Pronto, agora ele não vai atrair os outros.
A esse ponto, eu já estava com um pouco de medo dele, mas falei mesmo assim que tínhamos que ir embora, antes que alguém sentisse a falta daquele funcionário e viesse procurá-lo. Porém ele falou algo que me deixou mais preocupado com a sua sanidade:
- Mas e quanto a ele? Não podemos deixá-lo aqui. Nós temos que levá-lo junto, não é mesmo? -- Disse ele desesperado olhando para Victor.
Caio estava lunático. No fundo ele não queria acreditar que Victor havia morrido. Eu rapidamente dei um tapa na cara dele e falei o puxando:
- Acorda Caio. Ele está morto! E se não sairmos daqui, nós iremos ser os próximos. Agora, venha logo!
Depois que saímos da caçamba de carne, consegui ver melhor a área em que estávamos. Era como se fosse uma enorme fazenda, porém sem aqueles bichos tradicionais e sem celeiros ou algo parecido.
Com cuidado, fomos andando nos escondendo pela grande mata do terreno, até que de repente vimos o doutor saindo de dentro da clínica com mais alguns funcionários armados.
O doutor olhou o corpo do funcionário que Caio havía matado e se certificou que ainda estávamos pela área, pedindo para todos nos procurarem pelo local. A nossa sorte é que já estava de noite e isso junto com o mato alto, nos ajudava a passar despercebidos pelos funcionários, mas não podíamos ficar por muito tempo alí. Uma hora ou outra, eles iriam nos encontrar com suas lanternas e seus cães farejadores. Tínhamos que nos apressar...
Nos aproximamos das grades do terreno e percebemos que teríamos problemas para fugir, já que na saída haviam guardas e as grades eram muito altas, sem contar que tinha arame farpado em seu topo e Caio não conseguiria escalar, por causa da sua paralisia na perna esquerda.
Com tudo percebemos, que dava para passar por debaixo da grade, já que ela não estava completamente fixa no chão. Tudo o que tínhamos que fazer era cavar um pouco a terra para abrir mais espaço e nos permitir passar.
Começamos a fazer isso, até que de repente uma luz iluminou a gente -- Era um grupo de 4 funcionários que estavam a mais ou menos três metros de distância de nós; cada um segurando um cão que começaram a rosnar pra gente assim que nos viram.
Todos os funcionários foram avisados, inclusive o doutor, de nossa localização.
Nós conseguimos cavar o suficiente para a gente passar pelo buraco, porém eles soltaram os cachorros para impedir que nós escapássemos.
Caio passou primeiro pelo buraco e conseguiu sair. Em seguida me deitei no chão e comecei a me rastejar pela passagem que havíamos feito.
Meu corpo estava quase todo fora daquele lugar, só faltava minha perna direita que infelizmente foi pega por um dos cachorros.
Gritei de dor, mas mesmo assim continuei a lutar, enquanto os funcionários se aproximavam cada vez mais.
Caio me deu a mão e começou a me puxar desesperadamente e pediu para eu não soltá-la de maneira nenhuma. Sinto outra mordida na minha perna esquerda e me contorço novamente.
Comecei a chorar e falei que não iria consegui; para ele ir sem mim, mas Caio não queria me largar de jeito nenhum.
- Chute os cachorros! -- Disse ele histericamente.
- Não consigo! Está doendo muito! -- Respondi a ele balançando a cabeça.
- Eu não vou aceitar que você simplesmente morra aqui, depois de ter me salvado. Eu só tenho você da minha família agora! Eu não quero perder mais ninguém! Gabriel, lute por favor! -- Falou ele chorando.
Por algum motivo as suas palavras me deram forças e vontade de continuar lutando para sobreviver. Acho que era porque, ele não era mais o Caio lunático de alguns minutos atrás; ele finalmente caiu em si e voltou para a realidade.
Com grande esforço e muita dor, consegui movimentar minhas pernas repetidas vezes, fazendo com que eu me soltasse das mordidas dos cachorros, os chutando, e ser capaz de sair pelo buraco.
Sem tempo, para comemorarmos essa pequena "vitória" começamos a correr para longe dali, é claro, com dificuldades pois agora não era apenas Caio que tinha problemas na perna.
Os funcionários abriram os portões imediatamente e montaram em seus veículos para nos pegarem.
Estávamos por nossa conta e risco em um terreno desconhecido, onde não era possível enxergar quase nada por conta da escuridão que assolava o local.
O pior de tudo é que não sabíamos para onde estávamos indo. Apenas estávamos seguindo em frente sem olhar para trás!
Continua...
Comentários
Postar um comentário