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O DESTINO DE ALGUNS
Episódio: 07
Escrita por Júlio Cesar M. Vieira.
Supervisão, Colaboração e Adaptação: Morais Filho.
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Narrador-Personagem: Gabriel.
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O céu começou a ser iluminado por raios que cruzavam a imensa e profunda escuridão da noite. Através deles conseguíamos enxergar bem pouca coisa, enquanto adentrávamos cada vez mais a floresta que ocupava toda a nossa visão.
A imensidão das árvores, plantas e folhas... Apenas dava para ver isso... Eu e Caio estávamos desgastados e não conseguíamos dar mais nenhum passo a diante, mas também não podíamos simplesmente ficar parados ali.
Tínhamos que nos esconder dos funcionários que estavam chegando cada vez mais próximo da gente. Era possível ouvir o som de seus veículos cada vez mais altos... Caio chamou minha atenção para uma enorme árvore, que estava a minha direita.
Olhei para ela e fiquei espantando com a sua altura. Como iríamos conseguir subir ali, minhas duas pernas estavam machucadas por conta das mordidas dos cachorros e Caio tinha paralisia na perna esquerda...
- Temos que tentar! Não podemos deixar, eles nos levarem de voltar para aquele lugar! - Caio disse olhando para mim exausto, mas confiante.
Concordei com ele...
Posicionei os meus pés firmes no chão, sentindo um pequeno impacto por causa das feridas, e pedi para ele subir em minhas costas. Com um pouco de dificuldade, Caio conseguiu agarrar em um galho retorcido da árvore e subir.
Em seguida ele se prendeu no galho e esticou sua mão até mim. Eu a agarrei e mesmo tendo um pouco de dificuldade, pelo fato da mão dele estar escorregadia por conta do suor, consegui subir. Assim que Caio me ajudou a subir, vimos os veículos passarem diretamente pela gente.
Nossa respiração estava acelerada e finalmente a chuva começou a cair, o que para nós foi um alívio, pois assim podemos bebê-la utilizando as folhas da árvore.
Nos acalmamos um pouco e Caio me perguntou o que faríamos em seguida. Eu me virei para ele e respondi que não sabia. Era melhor esperarmos até o amanhecer para pensarmos em alguma coisa, já que de dia teríamos o recurso da luz, o que nos daria uma visão melhor sobre o terreno.
Assim que a chuva passou e os raios pararam, o silêncio tomou parte da floresta, mas não por muito tempo. Caio, cabisbaixo, começou a chorar:
- Perdemos todos. Victor, Marcos, senhora Beth, senhor Luís... Foi tudo culpa minha!
- Não fala isso Caio. Se tem algum culpado nessa história, sou eu. Eu convenci o grupo a aceitar a ideia da Alice. E além do mais, eu só dei importância de fato para mim mesmo naquele arrastão que nós fizemos na praia. Apenas estávamos preocupados com nós mesmos, esquecendo que éramos uma família e que precisávamos tomar conta um dos outros. Então, se você quer achar alguém para por a culpa, coloque a em mim. Não se torture...
- Mas você só queria o bem do grupo. Eu apenas atrapalhei... Esses anos todos. Por causa da minha maldita deficiência, nunca pude dar todo o meu potencial. Sempre fui um estorvo... Agora entendo porquê meus pais me abandonaram...
- Não faça isso consigo mesmo! Você não percebeu todas as coisas que conseguimos fazer hoje? Que você conseguiu fazer! Graças a você eu ainda estou vivo!
- Sim, mas é graças a mim também que Victor estar morto. Se vocês não tivessem que me salvar, ele estaria vivo.
Fiquei em silêncio um pouco, pensando o que iria dizer em seguida...
- Caio, você sabe como eu vim parar na rua?
Ele levantou a cabeça, olhando para mim com os olhos cheios d'água e falou:
- Sei, você já contou.
- Então, acontece que eu menti.
- Como assim?! Seus pais não foram mortos por agiotas, que depois destruíram a casa? - Ele perguntou surpreso.
- Não! Eu preferia que a verdade fosse essa... Seria menos dolorosa. A verdade é que meu pai era um alcoólatra que abusava fisicamente da minha mãe. Eu tinha seis anos naquela época... Minha mãe tentava esconder que estava infeliz e sempre me protegia quando o meu... aquele homem tentava me bater. Eu me lembro que minha mãe sempre foi muito sozinha e não tinha nenhum amigo. Eu não sei o que se passava na cabeça dela para não denunciá-lo. Acho que ela não tinha forças, muito menos coragem... Até que um dia, eu cheguei da escola e comecei a ouvir um barulho de água vindo da parte de cima da casa, mais especificamente do banheiro. A porta estava fechada e debaixo dela estava saindo água. Eu, curioso, abri a porta e me deparei com a pior cena da minha vida, meu pai estava afogando minha mãe na banheira. Eu fiquei tão assustado que a única coisa que consegui fazer, foi correr para bem longe dali, sem nunca olhar para trás. Luís e Beth me encontraram dormindo na praça e me acolheram. Até hoje essa imagem permanece em minha cabeça e mesmo fazendo de tudo para esquecer, não consigo.
- Por que você está me contando isso agora? - Perguntou ele enxugando as lágrimas.
- Porque caso a gente consiga sair dessa, tudo isso vai ficar em nossa memória e você, bem ou mal, vai ter que levar esse fardo para o resto da sua vida. Então nada vai adiantar você ficar se culpando e se lamentando pelo que aconteceu. Tudo o que você pode fazer é levantar a cabeça e seguir em frente. É difícil, eu sei, mas eu vou estar ao seu lado para ajudá-lo, porque você é meu irmão. Então se contente pelas coisas que você pode fazer agora!
Ele sorriu... Parece que tinha conseguido acalmá-lo.
Conforme a noite passava ficava cada vez mais cansado até pegar no sono.
Ao amanhecer, acordo com uma enorme dor no braço e nas minhas pernas. O efeito da adrenalina em meu corpo havia passado...
Caio ainda estava dormindo, mas acordou quando ouviu o barulho dos motores dos veículos dos funcionários. Eles estavam voltando, já que não conseguiram nos achar...
Conseguimos! - Assim pensei!
Depois de vermos todos os veículos passarem por nós despercebidos, descemos a árvore e antes de continuarmos Caio me fez a seguinte pergunta:
- Gabriel, antes de continuarmos eu quero que você me prometa uma coisa. Se acontecer algo comigo, qualquer coisa, e se não der para me me ajudar, não hesite em se salvar.
Olhei para ele e respondi pondo as mãos em seus ombros:
- Não precisa se preocupa... Tudo vai ficar...
- Gabriel, apenas me prometa! - Disse ele, insistindo.
- Ahaaaa, tudo bem, prometo. Mas, eu não entendo a sua preocupação. Os funcionários já foram embora. Estamos seguros agora. - Falei a ele.
- Gabriel, não se deixe enganar pelo fato de eles terem indo embora. Essa floresta é gigante e devem ter diversos animais selvagens... ou podem ter mais funcionários por aí... - Caio tentou explicar.
- Chega, eu não quero mais falar sobre isso. Apenas vamos seguir em frente. - Falei ignorando qualquer possibilidade que ele disse.
Adentrando cada vez mais a floresta, começamos a escutar um barulho de água corrente.
Talvez um possível rio. - Nós pensamos.
Conforme nos aproximávamos cada vez mais, a nossa curiosidade crescia para descobrirmos o que era aquele som de água. Porém não demorou muito para ela ser substituída por um sentimento de medo assim que vimos uma matilha de lobos se alimentando com carne humana logo à frente.
CONTINUA...
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