Doce Veneno 015

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Escrita por Walef Schener.

Capítulo 15

TEATRO / SP / NOITE

Estela (cutuca a mãe) - É Thaís!

Cândida - Só pode ser um sonho... sabe o que isso significa? 

Estela - O quê?

Cândida - Que estamos livres daquela jararaca e voltaremos ter a nossa vida de volta.

Todos ficam olhando com cara de bobos e Ruth ainda não consegue acreditar.

Thaís (pega o microfone) - Sei que parece estranho, eu estar aqui falando com vocês ao vivo depois de ter sido alvo de um atentado. Devem estar se perguntando como sobrevivi? Se meu tio Otávio Tamborim está vivo? Bem, consegui sobreviver por um milagre que até hoje me pergunto como, apenas tive muita sorte, coisa que meu tio não teve. Mas essa noite tão especial, queria honrar minha prima do coração lhe dando um presente de aniversário (olha pra Ruth), que tanto vem defendendo a imagem de Otávio todos esses dias. 

Cintia que está toda emocionada se levanta do lugar para ir dar um abraço na filha, mas para no meio do caminho quando ver uns policiais entrando.

Thaís - Como todos vocês já sabem, alguém sabotou aquele avião e nada mais justo que prender o responsável. Por tanto, podem prender Mario Ferraz, ele é culpado pela morte de Otávio Tamborim.

Os policiais levantam Mario do lugar e coloca as algemas.

Mario - Não fui eu, ela está mentindo! 

As pessoas ficam olhando o escândalo e Ruth fica parada sem poder fazer nada, apenas olhando pro namorado que está sendo levado pelos policiais. 

Thaís - Espero que tenha gostado do meu presente prima querida. 

Ruth olha com muita raiva pra Thaís e resolve subir no palco pra falar no microfone.

Ruth - A festa acabou! Não vai ter mais cerimônia e nem mais nada! (larga o microfone) - Está contente por acabar com o meu dia?!

Thaís - Te pergunto o mesmo quando tentou acabar com a minha vida. 

Ruth - Se foi eu que tentei te matar por que não me denunciou? 

Thaís - Isso o Mario vai dizer na delegacia. Está pronta pra morar atrás das grades? 

Ruth - Mario jamais sabotaria um avião, e muito menos eu! Vou provar que está mentindo e quem irá morar atrás das grades vai ser você. 

A vilã desce a escada do palco, pega sua bolsa na poltrona e vai embora com sua mãe. Na saída os jornalistas tentam uma palavrinha, mas Ruth nem dá trela e segue seu caminho para delegacia.

Thaís está toda contente agradecendo Cristian pelo espetáculo e quando olha pro lado vê sua mãe em pé, parada. As duas chegam perto uma da outra e se abraçam.

Cintia - Nem estou acreditando que está viva! (abraça mais forte) - Achei que tinha te perdido.

Thaís - Você não me perdeu, agora estou aqui e vamos lutar juntas. 

A família sobem no palco e acaba estragando o momento.

Cândida - Thaís? Como você está linda, nem parece aquela de antes... estamos muito felizes por ter você de volta.

Josias - Você não imagina o tanto que choramos pela sua morte.

Thaís - Devem ter sido muito triste pra vocês, até imagino como foi ficar sem mim. 

Cândida - Então nos dá um abraço? Afinal também somos sua família, né?!

Thaís abre os braços e todos rodeiam ela na maior felicidade.

HOTEL / SP / NOITE 

Saullo (um homem alto, moreno, com físico de academia), entra no apartamento todo vestido no traje social e vê Fabio super feliz estourando um champanhe.

Saullo - Posso saber por que de tanta alegria? 

Fabio - Até que enfim você chegou! (abraça Saullo) - Por um momento achei que o melhor advogado do mundo não vinha mais.

Saullo - Sabe que pode contar comigo pro que der e vier. Agora me conte, qual a novidade? 

Fabio - Minha filha está viva!

Saullo - Ué, não tinha me contado que ela estava morta? 

Fabio - Pois é cara, mas ela apareceu no teatro de São Paulo e está aparecendo em tudo que é noticiário.

Saullo - Fico feliz por ti. Agora mudando de assunto, vamos ficar morando nesse hotel? 

Fabio - Apenas por um tempo, até eu conseguir de volta tudo que Otávio tirou de mim.

Saullo - De jeito nenhum, esse tempo pode demorar bastante. Amanhã mesmo vou comprar uma casa e nos mudamos.

Fabio - Você e esse seu jeito de ficar só no conforto. (os dois ri) - Mas pegue aqui (entrega uma taça de champanhe), vamos comemorar juntos.

Eles brindam e ficam conversando sobre Thaís estar viva.

TEATRO / SP / NOITE 

Margarete - Foi o melhor espetáculo que já vi na minha vida, você arrasou filho, e você também Thaís.

Thaís - Obrigada! Se não fosse por você e seu filho nem sei como tinha conseguido chegar até aqui.

Regina (chega) - Vim aqui pra te dar um abraço, você aceita?

Cintia - É muita cara de pau, depois de ser cumprisse com marido pra roubar a fortuna da minha filha...

Regina - Eu jamais apoiaria Augusto numa malandragem dessa, não tenho o perfil de Miriam. Se meu marido fez isso, quero dizer que estarei aqui pra ajudar no que for preciso.

Thaís - Eu acredito em você! (dá um abraço na Regina)

Cintia olha pro lado respirando fundo de nervoso e Regina vai embora.

Cândida - Praticamente todos os convidados foram embora, vamos pra casa?

Thaís - Vamos!

Cintia - Achei que ia pra minha casa filha, lá na mansão você não pode ficar. 

Thaís - E por que não?

Cintia - Ruth conseguiu ter posse de tudo e se você estiver lá, é capaz da polícia te tirar á força.

Margarete - Sua mãe tem razão, é melhor se ajeitar num lugar calmo e depois enfrentar a serpente.

Thaís - Mas mesmo assim, vou na mansão só pra ver a cara da Ruth.

DELEGACIA / NOITE 

Ruth chega com sua mãe na delegacia toda apavorada procurando pelo Mario e vai conversar com o delegado.

Ruth - Você não pode acreditar naquela caipira, ela está mentindo!

Miriam - Imagina que absurdo, um delegado prender alguém por uma denúncia sem provas, apenas na base dos fatos. Devia ser afastado do cargo por falta de capacidade.

Delegado - Em primeiro lugar, se a senhora me desacatar outra vez mando te prender aqui mesmo! (Miriam fica sem jeito) - E segundo, ninguém fez denúncias sem provas, a Thaís fez o relatório dela e mostrou uma gravação do aeroporto, mostrando que Mario é o responsável pelo atentado.

O delegado chama as duas para assistir o vídeo no seu computador e Ruth vê tudo, inclusive o beijo que Mario deu na Thaís. 

Delegado - Se quiserem chamar um advogado podem chamar, mas acho muito difícil ele ser inocentado. 

Ruth - Posso falar com ele?

Delegado - Cinco minutos no máximo e somente você. 

Ele chama um agente e pede pra levar Ruth até a sala que Mário aguarda. A vilã entra e o agente fecha a porta ficando do lado de fora. Mario levanta da cadeira e vai logo beijando ela.

Mario - Você veio me tirar daqui né? Sabe que estamos juntos nessa.

Ruth - Me larga! (se afasta dele) - Como pode ser tão idiota? Você é um asno, imbecil! Larguei tudo lá no teatro pra vim te tirar daqui e quando chego o delegado tem um vídeo seu no aeroporto fazendo o serviço, e se não bastasse, ainda beija a caipira. Tá achando que tenho cara de idiota? (Mario baixa a cabeça) - Olha pra mim! Acha mesmo que pode me enganar? Há quanto tempo está apaixonado pela caipira?

Mario - Foi apenas um jeito de engana-la, ela tinha me visto e eu não tive outra escolha. Na hora nem me importei porque o avião ia cair mesmo. Como eu ia saber que Thaís ia viver?

Ruth - Mas ela viveu, e por incompetência sua! (olha pros lado bem nervosa) - Vai saber se meu tio também não sobreviveu, já pensou? 

Mario - Se ela apareceu sozinha seu tio deve ter partido, pois não faz sentido Thaís voltar sem ele.

Ruth - O jeito agora é não deixar essa caipira lazarenta tomar o que tanto conquistei. Tudo vai continuar sendo meu e ninguém vai tomar de mim.

Mario - E quanto a minha pessoa? Vou mofar na cadeia?

Ruth - Eu ia até chamar o Augusto pra te salvar e tentar reverter o caso, mas não é garantido que juiz te dará liberdade. O jeito é você armar alguma fulga na prisão com bandidos de confiança.

Mario - Acha fácil chegar na prisão já querendo armar fulga? Alguém pode até me matar.

Ruth - Aqui é Brasil, qualquer bandido consegue fugir da cadeia e todos vão concordar quando souber que tem dinheiro na parada. Só tenta conseguir um telefone quando estiver preso e me liga dizendo o dia da fulga que irei te buscar com a grana.

Mario - Então serei um foragido?

Ruth - Melhor do que ficar na cadeia, não acha? Até lá vou achar algum jeito de reverter a situação e colocar a caipira na cadeia. 

Os cinco minutos acaba e o agente entra na sala pedindo pra Ruth se retirar. 

Mario é levado pra tirar foto de frente, de lado, segurando sua placa com seu número da prisão e em seguida, é levado para o presidiário.

Dentro do carro...

Miriam - Eu avisei, que esse plano de vocês ia dar errado. 

Ruth - Deu errado pela burrice de Mario, minha inteligência continua forte como antes. 

Miriam - Agora precisamos esconder qualquer fato criminal que liga você dos documentos falsos. 

Ruth - Eles estão bem escondidos na empresa, nem Augusto sabe o esconderijo.

Miriam - Mas ele pode dar de boca com dentes e contar tudo. 

Ruth - Ele não seria tão idiota, se fosse o meu tio aí sim, eu me preocuparia.

Miriam - Por meio das dúvidas vou ter uma noite com ele e acertaremos o nosso pacto. 

Ruth - Você está mesmo pegando Augusto? Sabe que se Regina descobrir é um barraco imenso que vai se formar na família, né?

Miriam - Regina é sonsa, não consegue ver o que acontece no palmo do nariz. 

Ruth - Só não me envolva nesse circo quando pegar fogo. Agora vamos para casa, quero dormir e tentar esquecer desse pesadelo. 

Miriam - Não vamos ao menos comemorar seus últimos minutos de aniversário? 

Ruth - Estou sem vontade para comemorações. Por que o destino fica me derrubando mãe? Tudo que eu faço dá errado, sempre do mesmo jeito.

Miriam - Não sei filha, as vezes o destino não quer que as coisas seja do jeito que você quer.

Ruth - Pois a partir de hoje o destino vai aceitar as coisas do jeito que eu quiser, não vou deixar me derrubar outra vez! Quem irá ser derrubado é ele, quando me ver vitoriosa. 

Um vento muito forte passa pelo local e como a janela do carro do motorista está aberta, as poucas coisas que tem caem tudo e em seguida tudo fica normal.

Ruth - Que vento foi esse? (olha assustada)

Miriam - É melhor ficar calada, não fica querendo brincar de dona do mundo se não quem vai cair, vai ser você.

Ruth continua com medo e Miriam dá partida no carro e elas vão embora.

MANSÃO TAMBORIM / NOITE 

A família está toda na mesa, vendo Thaís apreciar o cardápio. 

Tina - Está gostando?

Thaís - Está divino Tina, não sei como aguenta trabalhar no apartamento das cobras e aqui ao mesmo tempo. Você merecia um salário triplo.

Tina - Sabe o que é, aqui eu só cozinho, quem arruma tudo são eles. (aponta pra família)

Thaís - Sério?

Candida - Também não é bem assim, o que Tina quis dizer é...

Ruth (aparece) - Mas que palhaçada é essa na minha casa? Desde de quando empregados sentam na mesa de patroa? 

Thaís - Então é verdade, vocês viraram serviçais nessa casa.

Ruth - E você Thaís, não basta ter feito aquele escândalo na frente da mídia, agora invade a minha casa tentando bancar a dona de tudo? 

Thaís (levanta da cadeira) - Quem invadiu essa casa foi você e sua mãe, tanto que falsificaram documentos dizendo que Otávio deixou tudo pra vocês.

Miriam - É muita petulância, eu devia dar uns tabefe nessa tua cara de mosca morta. 

Thaís (se aproxima) - Bate! Quero ver se tem coragem, sua velha ridícula.

Ruth (entra na frente) - Você não fala assim com minha mãe, sua lazarenta!

A vilã ergue a mão pra dar um tapa na cara da Thaís mas a mocinha segura o braço dela.

Thaís - Enquanto estive fora, aprendi a ter reflexo das coisas, você não pode comigo.

Ruth - Isso que vamos ver!

Ela empurra Thaís pra cima de uma mesinha com vaso e a mocinha cai junto com tudo. Thaís se levanta e puxa Ruth pelos cabelos e joga ela em cima de outra mesinha, dando dois tapas na cara da vilã.

Miriam - Parem vocês duas, vai acabar quebrando tudo. 

Tina e a família ficam assistindo a briga e Miriam resolve chegar por trás da Thaís puxando também pelos cabelos. 

Thaís - Me larga velha!

A mocinha consegue se virar e empurra Miriam pra cima do sofá.

Thaís - Isso é pra vocês verem que não tenho medo de vocês.

Ruth levanta descabela e vai até a mesa para pegar uma faca.

Ruth - Sai da minha casa agora, vagabunda!!!

Thaís - Essa casa é minha, não sua!

Ruth - É minha! (fala num tom bem arrogante) - Ou sai daqui agora, ou vou te furar toda!

Tina - É melhor você ir Thaís, deixa as coisas se acalmar.

Thaís - Eu vou, mas não pense que tudo está ganho Ruth, você ainda vai pagar pelo que fez comigo e com nosso tio.

A mocinha sai da casa e Miriam vai até a filha dando um abraço de conforto.

Miriam - O que estão olhando? O espetáculo acabou, saiam!

A família sobe para o quarto com cara de risos e Tina volta pra cozinha.

Miriam - A mamãe está aqui. (massageia o cabelo da filha) - Aquela ordinária vai pagar por tudo que fez com a gente.

Ruth - Oh se vai, Thaís vai se arrepender de ter nascido.

A lua vai desaparecendo no céu e o sol aparece...

IMPÉRIO / SP / MANHÃ

Ruth está na mesa em seu escritório e Augusto chega vendo uma marca roxa no braço da vilã.

Augusto - O que houve no seu braço? 

Ruth - Bati numa mesinha da sala quando aquela caipira desgraçada me empurrou ontem na minha casa.

Augusto - Pera, deixa ver se eu entendi. A Thaís foi até a mansão e vocês duas saíram nos tapas?

Ruth - Você veio até aqui pra fazer pergunta idiota?

Augusto - Desculpa, é que tem um cliente querendo falar com você. 

Ruth - Fala pra ele que não estou, tenho coisas mais importantes pra resolver do que ficar conversando com gentinha. 

Fabio - Desculpa a invasão, mas já fui entrando, não aguentei esperar.

Augusto - Vou deixar vocês dois sozinhos. (sai e fecha a porta)

Ruth - Olha, estou muito ocupada e não posso falar com você nesse momento, volte outro dia.

Fabio - Não quer pelo menos saber quem sou eu?

Ruth - Não quero saber, nem quero saber do que gosta, do seu tipo sanguíneo se é que sabe. Por tanto, vai caindo fora da minha loja antes que eu chame os seguranças.

Fabio - Você é idêntica a sua mãe, diria até que o lado ruim ficou em você porque a Miriam só é manipuladora.

Ruth - Quem é você pra ter essa intimidade toda pra falar da minha mãe?

Fabio - Sou Fabio Tamborim, pai da Thaís e irmão de Otávio.

(Congela na Ruth)