Logotipo da web novela (Foto: Divulgação)
Produção Original Star TV
Baseado no argumento original de João Victor Santos
Escrita por Leonardo Lima
Cena 1. Praia
de Pernambuco (Guarujá – São Paulo). Exterior. Dia/Manhã
Sozinha, Marina desabafa sobre a situação das mulheres no
mercado de trabalho.
Marina – Ser mulher
no Brasil tem se tornado difícil. Somos mortas diariamente por sermos mulheres
ou por não se submetermos aos desejos lascivos dos homens. Sou nordestina, com
muito orgulho, mas muitos por ai torcem o nariz para a nossa realidade numa
terra que sofre com a precariedade do governo e a seca do sertão. Consegui crescer em São Paulo em meio de muitos ataques
xenofóbicos, mas luto diariamente contra esse preconceito. Minha vida ganhou
novos rumos, mas o início da minha história será contado agora.
30
anos atrás, Pernambuco, Vila dos Cruzeiros.
Cena 2.
Casa 15. Sala. Interior. Noite.
Mário conversa com Marina na mesa do jantar.
Mário – Consegui
uma boa quantia de dinheiro para comprar nossa casa.
Maria
Claudia – Quanto você conseguiu?
Mário – Seis
milhões de cruzeiros, sairemos dessa pendenga e viveremos uma vida de rei e
rainha.
Maria Claudia – Mário,
tu visse o que acontece com quem se mete em parada errada. [Exaltada].
Mário – Mulher,
só consegui descolar uma graninha com um amigo meu. Qual é o problema disso?
Maria
Claudia – Ainda pergunta Mário? Seus amigos são bicheiros, se ficar devendo
eles, você morre.
Mário – Eu tenho
a garantia paga com eles, fique tranquila.
Maria
Claudia – Espero que não nos coloque numa encrenca, visse
Mário – Você
precisa confiar mais em mim.
Maria
Claudia – Confiar num golpista é o mesmo que defender o satanás.
Mário – Deveria
confiar no teu homem, eu sei o que estou fazendo.
Mário se
retira da sala e vai dormir em seu quarto. Maria Claudia começa a revisar as
bolsas do tutor.
Cena 3.
Fazenda. Sala. Interior. Noite.
Ricardo lamenta a morte do pai com Felício
Ricardo – Vou
sentir muita falta do painho. Ele me fez esse homem que eu sou. Essa fazenda
sem ele, não fará o menor sentido.
Felício – O vosso
painho está nos braços de Deus, descanso nos braços do senhor.
Ricardo – Vou
cumprir a promessa que fiz a painho, antes dele partir.
Felício – Que
promessa é essa?
Ricardo – Vou me
aboletar em São Paulo, e deixar essa fazenda para meus filhos. Mas preciso de
um cabra macho que cuide daqui, enquanto eu estiver na capital.
Felício – Quem
você pensa em deixar essa fazenda?
Ricardo – Vou deixar em suas mãos, você é de
minha confiança, amigo da família há de uma geração.
Felício – Orra
diacho, nem sei o que dizer. Mas Ricardo, eu tenho umas pendências ai com os
caras do jogo do bicho. Eles estão me mandando vários telegramas com ameaças.
Ricardo – Deixa
comigo, esses cabras serão pagos, muito bem pagos por sinal.
Felício – Não
precisa amigo, não quero te dar esse trabalho.
Ricardo – Que
trabalho o que, pelos meus amigos e familiares, sou capaz de vender a minha
alma pro diabo.
Felício se
assusta com a declaração de Ricardo e a vela da santa Nossa Senhora Aparecida
se apaga.
Cena 4.Casa
Grande. Sala. Interior. Noite
Laura diz à Lucimar que vai visitar Maria Claudia
Laura – Lucimar,
meu anjo, estou indo à Vila dos Cruzeiros, cuide bem da casa.
Lucimar – Mas essa
hora senhora? São quase onze horas da noite, é perigoso. Os militares vão te
dar uma dura.
Laura – Oxente,
nem parece que me conhece mulher. Sempre dou um jeitinho, visse?
Lucimar – Esse seu
jeitinho é arriscado, mas enfim, você é quem sabe.
Laura – Quando o
meu cabra macho chegar, serve o jantar para ele. Deixei pronto para ele.
Lucimar – Pode deixar
patroa, ele vai ser bem servido.
Laura – Ótimo,
espero que ele não chegue tarde. Tchauzinho, daqui a pouco estou de volta.
Lucimar observa Laura deixando a casa grande e entrando no
carro.
Cena 5.
Casa 15. Vila dos Cruzeiros. Sala. Interior. Noite
Ao vasculhar as bolsas de Mário, Maria Claudia encontra dinheiro
e uma carta para Laura.
Maria
Claudia – Não acredito que esse infeliz é rico e ainda manda
correspondência para minha irmã. Vou ler agora essa porra.
Maria Claudia lendo a carta: Amor,
consegui os seiscentos milhões de cruzeiros para deixar o país. A Maria Claudia
servirá de garantia, para pagar as minhas dívidas em vida. Está tudo pronto
para nossa fuga e vivermos felizes para sempre nos Estados Unidos.
Assinado,
Mário Soares.
Maria
Claudia se enfurece, pega o revólver na cômoda da sala. Ao acordar, Mário vai
para sala e Maria Claudia aponta a arma para o tutor e diz:
Maria
Claudia – Então quer dizer que tem uma fortuna escondida, me coloca
como garantia de suas dívidas e pretende fugir com a rapariga da minha irmã?
Mário –
Claudinha, eu posso explicar! Não é nada disso que você está pensando.
Maria
Claudia – Pensando? Eu li tudo, nada explica a sua falta de caráter
comigo. Eu trabalhando feito uma burra de carga para por pão em nossa mesa,
sofri o pão que o diabo amassou em suas mãos. Fui estuprada, espancada e sendo
submissa aos seus caprichos e vem você e me coloca a cabeça Premium de
bicheiro? Isso eu não admito.
Mário – Você não
tem que admitir, tem que fazer o que eu mandar.
Maria
Claudia – Não sou suas quengas para fazer o que você mandar. E nem
tente se aproximar, senão, eu atiro.
Mário – Você não
seria capaz de matar o macho que te dar alegria na cama.
Mário se aproxima e Maria Claudia dá quatro disparos no peito
tutor, que não resiste as feridas e morre no local.
Cena 6.
Banca do bicho. Centro da Vila dos Cruzeiros. Exterior. Noite
Ao chegar na banca do bicho, Ricardo negocia dívida de Felício
com Duca.
Ricardo – Então
quer dizer que aqui é a famosa banca do jogo do bicho...
Duca – E você é
o filho do capitão Osmar? O que o um menino tão refinado faz aqui?
Ricardo – Vim para
pagar as dívidas do Felício, soubesse que houve um erro nos cálculos e cobraram
muito caro?
Duca – Não houve
nenhum erro de cálculo, visse? Ele que é um sem vergonha, ficou se endividando
com jogos de azar e vinha aqui, pedir dinheiro. Agora, ele tem que pagar tudo,
nem que ele morra pra isso acontecer.
Ricardo – Eu tenho
uma proposta infalível para você e os cabras machos.
Duca – Que
proposta é essa?
Ricardo – Darei um
dos meus sítios para vocês. Nesse meu sítio, poderão deixar o dinheiro que
recebeste aqui, bem seguro. Além disso, gozará de uma vida boa lá.
Duca – Me
desculpe, mas não aceito. Aquele fanfarrão terá que pagar as dívidas, nem que
seja com o sangue ruim da peste dele.
Ricardo – Você está
fazendo uma desfeita?
Duca – Não,
apenas quero que o Felício assuma essa responsabilidade.
Ricardo – Então,
eu trouxe uma maleta com setenta milhões de cruzados. Ainda, darei outra de
minhas terras a vocês, aceitam
Encabulado e nervoso, Duca aceita a proposta.
Duca – Aceito
sim, negócio fechado.
Ricardo e Duca se cumprimentam e o ricaço deixa o local rumo à
São Paulo.
Cena 7.
Casa 15. Vila dos Cruzeiros. Sala. Interior. Noite
Ao chegar à casa de Maria Claudia, Laura depara com Mario morto
e entra em desespero.
Laura – Não
acredito [grita], não acredito que você está morto meu amor. Quem foi a
desgraça que fez uma maldade dessas contigo.
Ao chegar na sala, Maria Claudia assume o crime:
Maria
Claudia – Fui eu, achou que ele iria fugir com esse desgraçado?
Laura – Vagabunda!
Você é quem deveria morrer.
Maria Claudia zomba da cara de Laura e diz:
Maria
Claudia – Pode ficar ai com o seu cabra macho em decomposição, eu já
estou de partida mesmo.
Laura – Ah, mas
você não vai simbora mesmo.
Laura parte para cima de Maria Claudia. A irmã mais velha bate
com um porrete na cabeça de Laura que desmaia.
Maria
Claudia – Agora, vou simbora sim. Piranha.
Maria Claudia limpa o revólver, coloca na mão de Laura, pega o
carro e foge em alta velocidade, despertando a curiosidade dos vizinhos.
Cena 8.
Avenida Paulista. Calçada. Exterior. Dia/Manhã
Marina fala
sobre sua amizade com Helena
Marina
[Narração] – A minha vida como Maria Claudia morreu junto com aquele
assassinato de Mario que cometi. Eu consegui dar a volta por cima, conhecendo
Helena, uma pessoa muito generosa e de bom coração.
Cena 9. Rodoviária
de Pernambuco. Interior. Noite.
Maria
Claudia é chamada e pergunta a atendente
Maria
Claudia – Tem passagens para qual estado?
Atendente – Para São
Paulo, é o que temos no momento, mas posso fazer por um preço camarada para
você. Ok?
Maria Claudia –
Perfeito, que horas o ônibus desembarca
Atendente – Daqui a
pouco, a meia noite. Se assente e te desejo uma boa viagem.
Maria
Claudia – Fico muito agradecida.
Ao se sentar no banco num local vazio, Helena puxa assunto com
Maria Claudia.
Helena – Pois é,
esse Brasil está terrível. Muito violento.
Maria
Claudia – Oxente, o que houve senhora?
Helena – Mataram
um rapaz na Vila dos Cruzeiros, e uma mulher está sendo acusada pelo crime e
presa.
Maria
Claudia fique assustada e Helena nota hematomas no corpo da jovem.
Helena – Que
hematomas são essas?
Maria
Claudia – O homem que foi assassinado na Vila dos Cruzeiros, abusava de
mim desde criança. Ele me explorava. Essa mulher é a minha irmã e esposa dele.
Eu matei aquele energúmeno, porque não aguentava mais sofrer nas mãos desse
vagabundo. Ele me colocou como garantia das dívidas dele.
Helena –
Misericórdia! Agora está explicado, você está deixando Pernambuco para melhor a
vida em São Paulo? É isso?
Maria
Claudia – Não é só isso, quero deixar esse estado mesmo. Cansada de
sofrer.
Helena
observa a mala e diz:
Helena – O que
carrega nessa bolsa?
Maria
Claudia – Minhas roupas e seiscentos milhões de cruzeiros.
Helena – Olha,
precisamos trocar essas malas para a polícia não te pegar, ouviste bem?
Maria
Claudia – Perfeitamente.
Maria
Claudia e Helena entram na fila do ônibus e são revistadas pela polícia, que
liberam as moças.
Cena 10. Casa
15. Vila dos Cruzeiros. Sala. Interior. Noite
Após
acordar, Laura se explica para o delegado Benjamin.
Laura – Senhor delegado, me escuta, eu não
matei o meu marido.
Benjamin – Explique-se com o juiz, e não comigo.
Eu apenas estou cumprindo o meu trabalho.
Laura – Eu seria
incapaz de matar alguém. A bandida da minha irmã, Maria Claudia matou e estou
presa pelo crime que não cometi.
Benjamin – Você foi
pega no local e com a mão na arma do crime e quer me convencer que é inocente?
Laura – Eu sou
inocente, eu juro por tudo que é de mais sagrado na vida.
Benjamin – Se
adiante senhora Laura, senão, terei que te tirar a força daqui.
Laura deixa
a casa aos choros e entra na viatura. Os vizinhos se revoltam com a atitude da
irmã caçula de Maria Claudia.
Cena 11.
Avenida Paulista. Calçada. Exterior. Dia/Manhã
Marina
[Narrando]: As vidas de todos mudaram dentro de muito tempo.
Laura foi condenada a vinte e cinco anos de prisão pela morte de Mario. Ricardo
chegou em São Paulo, conheceu Luma, se casaram e tempos depois, nasceu Felipe,
em seguida, veio Milena. Eu fiz umas mudanças graças à Helena quando cheguei à
capital. Quer saber mais? Siga a história a seguir.
Cena 12.
Pensão Florência. Quarto. Interior. Tarde
Helena
sugere que Maria Claudia seja uma grande socialite.
Helena – Maria Claudia, por que não investe um
pouco do seu dinheiro em você? Nunca pensou em ser socialite?
Maria
Claudia – Oxente, o que é
isso? É um palavrão novo?
Helena – Socialite é ser uma pessoa com classe,
refinada, culta, e claro, dona de vários negócios. Você mudando de visual, se
destaca entre os milionários.
Maria
Claudia – Ah entendi, mas eu tenho medo desse negócio de ser isso ai.
Vai saber quais são as intenções desse povo.
Helena – Amiga, vou te ajudar a ser uma grande
dama. Já pensou também num novo nome, pois Maria Claudia poderia despertar as
atenções de que você se encontra fugitiva.
Maria
Claudia – Sempre quis me chamar Marina Alencar, era um nome que achei
lindo. Minha mãe ouvia radio novela e existia uma personagem chamada Marina.
Helena – A partir
de agora, você passa a se chamar, Marina Alencar.
Helena dá aulas de etiquetas para Maria Claudia, alfabetiza e
ensina boas maneiras. A dona da pensão muda o visual da jovem e Maria Claudia
muda seu nome no cartório para Marina Alencar.
Cena 13.
Avenida Paulista. Calçada. Exterior. Dia/Manhã
Marina [Narrando]: Nasci de novo agora como Marina. Depois de
frequentar várias festas da alta sociedade, conheci Olavo. Anos se conhecendo,
acabamos namorando, noivando, se casando e fruto desse relacionamento, nasceu
Adriano. Não esperava muita coisa, mas descobrir que seu marido esconde um
grande segredo, foi como uma facada nas costas para mim. O que será que vai
acontecer
Cena 14.
Grand Hotel. Cobertura Alencar Saldanha. Quarto. Interior. Noite
Olavo liga
para Duca e fala sobre os negócios do jogo do bicho e Marina escuta a conversa.
Olavo – Como
andam as coisas ai em Pernambuco?
Duca – Andam
capengando, cadê o dinheiro? Precisamos dele.
Olavo – Vou
mandar pra vocês. Ah, descobri que Maria Claudia, melhor dizendo, Marina são a
mesma pessoa. Vai querer a cabeça dela na bandeja?
Duca – Agora não
é o momento, depois acertarei as contas com essa vadia.
Olavo – Perfeito,
agora terei que desligar o telefone. Estou muito cansado.
Olavo
desliga o telefone e depara com Marina armada.
Olavo – Meu amor,
o que faz aqui e armada?
Marina – Então
quer dizer que é o chefão do jogo do bicho de Pernambuco.
Olavo – Marina, não sei do que você está
falando.
Marina – Peguei
sua agenda, cheio de número do povo do jogo do bicho da Vila dos Cruzeiros.
Pensa que sou idiota? Seduziu-me para cair nessa armadilha pra depois me matar.
Olavo – Quer
saber da verdade? Sim, eu arquitetei esse plano para depois te matar. Você não
pode reclamar de nada, conseguiu o que queria. Ascendeu-se socialmente, tem meu
sobrenome na certidão e herdeira de tudo isso. Até que você não é tão burra
assim.
Marina –
Desgraçado, tentou me fazer de otária esses anos todo.
Olavo – Está ai,
uma coisa que você foi esses anos todo. Otária, vadia, vagabunda. Tanto que
pariu um filho e colocou no mundo. Você pra mim, não passa de um pedaço de
carne, mulher mesmo, se dá ao valor. Golpista [Grita].
Marina aperta o gatilho e dispara três tiros no peito de Olavo.
A socialite limpa a arma e deixa o local do crime. Alguns minutos depois,
Iracema chega ao quarto e se depara com o corpo de Olavo. Na sala, Adriano fica
assustado e Marina ampara o filho.
Cena 15.
Grande Hotel. Cobertura Saldanha Alencar Quarto. Interior. Dia/Manhã
Marina
[Narrando]: Naquele dia, Grand’ Hotel parou, o clima pesou. A
morte de Olavo se tornou misteriosa para todos. A polícia, imprensa, e outros
veículos entraram no local do crime. Após dois dias, eu assinei um documento na
qual, assumia os poderes do Grand’ Hotel e do Grupo Gama.
Cena 16.
Grand’ Hotel. Salão de festas. Interior. Dia/Manhã
30
anos depois
Marina convoca a imprensa para apresentar o projeto da extensão
do Grupo Gama.
Marina – Estou
feliz em receber vocês a essa coletiva da extensão residencial do Grupo Gama.
Jornalista – Mas qual
é a proposta dessa extensão?
Marina – Abrigar
pessoas de classe C e D. Além disso, terá o custo abaixo do que é oferecido
aqui no Grand’ Hotel, que é um
espaço luxuoso. A extensão terá um prédio comercial para atender a necessidade
de quem mora distante da cidade grande. Campinas fica distante da capital, a
ideia é gerar emprego e valorizar a imobiliária local.
Jornalista – Você
pretende manter a preservação ambiental?
Marina –
Obviamente, não tenho pretensão em desmatar o local para criar essa extensão.
Embora tenha sido custoso, eu fiz investimentos de tecnologia eólica e proteção
solar nas casas.
Fred – Dona
Marina, como você pretende barrar as manifestações do Mundo Melhor contra a
extensão em Campinas?
Marina – Não fui
informada pela assessoria do Grand’ Hotel sobre nenhuma manifestação.
Fred – Então vá
lá fora, pois está acontecendo essa manifestação.
Marina e os jornalistas vão a entrada do salão do Grand’ Hotel.
Fred filma os cem jovens envolvidos na manifestação e Marina diz:
Marina – Que
baderna é essa na frente do meu hotel?
Adriano sai do meio do povo e enfrenta a mãe.
Adriano – Nosso
hotel, dona Marina Alencar Saldanha. E para o seu governo, essa extensão não
vai ser construído no terreno em Campinas, terá que passar por cima do nosso
cadáver.
Afrontada, Marina olha com ódio para todos.
Fim do capítulo
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