Desejos Ocultos - #TerceiroCapítulo

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ABERTURA

Desejos Ocultos - Capítulo 003

Novela de Brunoh Franco

Cena 01 • Cenas aéreas • Exterior • Dia

Trilha : Kweller : STU

Ao som da música, passa imagens aéreas do dia amanhecendo na cidade de Sorocaba. 

Corta para a casa de Laís/ quarto de Guilherme.  Ele está curtindo a música, enquanto canta em frente ao espelho. Sandra entra. 

Sandra — Você deveria ser cantor, meu filho.

Guilherme — Eu quero ser MC, mãe. Ser igual esses caras que ostentam, gravam com carros, garotas.

Sandra — Aquilo é tudo artificial, meu filho. Eu quero te ver feliz, mas não cantando funk, no meio da favela. 

Guilherme — A vila Barão não é bairro nobre não, mãe. Além do mais, a senhora nunca me viu indo para os bailes no Nova Esperança, na Vila Helena. Eu estou sempre em casa. 

Sandra — Isso é bom, meu filho. Sorocaba está perigoso.

Guilherme — Mas se eu for estourar, eu vou para São Paulo, Heliópolis, Paraisópolis. Vila Gustavo. Quero surgir do funk lá. 

Sandra — Está louco! Sabe quando vamos para São Paulo? Nunca! Eu quero distância daquela cidade.

Guilherme — Tudo por que brigou com a vó? Ah, mãe. Faz tantos anos isso. Eu não era nem nascido. Só fui lá duas vezes.

Sandra — Eu não quero falar sobre isso.

Laís entra.

Laís — Posso?

Guilherme — Já entrou...

Laís — Eu vim pedir desculpas por ter falado aquelas coisas do seu pai. Eu estava nervosa. 

Guilherme — Eu não vou te desculpar, Laís. Eu sei que você vai sempre faz a mesma merda. 

Laércio entra, está bêbado.

Laércio — Ô, garota, tem um cara te chamando lá fora. Acho que é o pai do seu macho.

Laís — O Sérgio? O que será?

Todos saem.  Laís sai no portão e o recebe.

Laís — Sérgio! O que houve? 

Sérgio — O Henrique. Saiu anteontem à noite e não voltou.

Laís — O Henrique? Mas o que houve?

Sérgio — Nós tivemos uma conversa, sobre a mãe dele. Eu contei toda a verdade e ele não aguentou. Eu tenho medo que ele tenha feito algo.

Laís — Não brinca! Vamos procurá-lo! 

Laís e Sérgio entram no carro. 

Laércio — Vai vendo, Sandra. A Laís vai ter a mesma reação, quando souber sobre o pai.

Sandra olha feio para Laércio e entra para dentro de casa.

Cena 02 • Casarão de Marcos • Interior • Dia

Maura desce as escadas.  Regina, Roberta e Ricardo estão na mesa do café. 

Roberta — Ouvi vocês chegarem pela madrugada.

Regina — Eu também, ouvi o carro. 

Maura — Ah, vocês não imaginam! O Marcos e eu fomos para a igreja. Nós oramos tanto! Tanto! Só nós dois.

Roberta — Estranho. Eu deixei a Laís em casa, fui dar uma volta e não vi a igreja aberta. 

Marcos surge na ponta da escada. 

Marcos — Era noite, minha filha! Sua avó e eu estávamos com a igreja fechada. 

Ricardo — Deveriam ter me chamado. Eu gosto dessas vigílias, é tão abençoado, sabe! 

Roberta — Mãe, olha só, eu queria participar desta agência aqui. (Abre um catálogo), imagine eu, famosa, em São Paulo!

Ricardo — Vaidade?

Marcos — Vaidade, luxúria, ganância, homens! Tudo o que a carne pede. Essas moças que se exibem praticamente peladas, são tudo possuídas pelo espírito da pomba Gira.

Regina — Isso é verdade, minha filha. Ao invés de querer ser como essas moças, você deveria orar por elas. 

Roberta — Vocês julgam como se fosse a coisa mais errada do mundo. 

Ricardo — Mas é! Sabiam que uma vez passou na televisão que a maioria dessas agências fazem as moças saírem com homens depois dos eventos. 

Roberta — Mas eu não vou fazer isso! Eu só quero desfilar, eu tenho altura, tenho corpo e beleza.

Maura — Tudo o que você não deveria se preocupar! Você deveria ter pensamentos em viver para Cristo! E não se tornar uma vagabunda qualquer.

Roberta — A senhora está me ofendendo, Vó. Eu não quero ser isso aí, eu só queria realizar meu sonho. Mas esqueçam, eu nunca terei a aprovação de vocês para nada!

Roberta sai e sobe para o quarto.

Instrumental Triste

Roberta senta em sua cama e começa a chorar.

Roberta — (Chorando) Por que, meu Deus? Por quê? Por que eu tenho que ser diferente? Tenho que viver como meus pais querem? Tenho que seguir o que a igreja pede? Por quê? Eu só queria ser livre, ser eu e realizar todos os meus desejos...

Roberta olha as fotos das garotas. 

Roberta — Mas não é só isso que eu quero. 

Roberta pega uma foto de Mia Khalifa, atriz pornô.

Roberta — Eu quero ser como ela, quero ser como ela, famosa como ela. Nem que para isso eu tenha que me deitar com quantos homens e mulheres forem precisos.

Roberta olha para o espelho.

Cena 03 • Ruas de Sorocaba • Exterior • Dia

Instrumental Piano Triste

Henrique está sentado na praça, ele está bebendo uma garrafa de vodka pura e fumando um cigarro.  Guilherme se aproxima.

Guilherme — Henrique? 

Henrique olha para Guilherme.

Henrique — Gui!! Ah, meu Deus! Eu não quero que me veja nesta situação.

Guilherme — A Laís está procurando por você, cara!

Henrique — Não ligue para ela! Por favor! Eu não quero que ela me veja assim.

Guilherme olhou nos olhos de Henrique. Ele estava completamente bêbado. 

Guilherme — Eu vou ajudar você, Henrique. Vou chamar um Uber e vou te levar para casa.

Henrique — Não! Casa, não! Meu pai está lá. 

Guilherme — Não. Ele saiu com a Laís. Venha, eu vou ajudá-lo. 

Henrique — Por quê? Minha vida é uma merda! Eu sou uma merda, Gui. Sua irmã não me merece. Eu só faço merda. 

Guilherme — Não diga isso! Você é uma pessoa incrível, Henrique! A Laís ama você, seu pai também. Beber não vai resolver sua situação. Seja homem! Enfrente tudo isso em sã consciência!

Henrique — Você é tão novo e está me dizendo essas coisas. Eu tenho a maior admiração por você, Gui. 

Guilherme — Eu que admiro você, Henrique. Com todos os defeitos, você faz minha irmã feliz, e mesmo ela sendo rude comigo, eu quero vê-la feliz. Não a decepcione, vamos comigo. 

Henrique sorri para Guilherme.

/Corte rápido...

Casa de Henrique • Quarto • Interior • Dia

Henrique está deitado só de cueca. Guilherme entra com um copo d'água e um comprimido.

Guilherme — Olhe, isso vai te fazer bem, Henrique. Durma, eu vou para casa. Qualquer coisa, me ligue.

Henrique — Gui... Obrigado. Você não é só um cunhado, você é como um irmão.

Guilherme — Você também. Agora, gente dormir.

Guilherme se retira.

Cena 04 • Casa de Laís • Interior • Dia

Sandra está lavando louça. Laércio entra. 

Laércio — O que tem para comer?!

Sandra — Nada. Eu ainda não fiz nada. 

Laércio — Imprestável! Eu passei o dia na rua, procurando emprego e você não faz nada? 

Sandra — Se quer comer, vá e faça. 

Laércio — Como é? (Laércio se aproxima de Sandra). Você pensa que está falando com quem, sua cachorra!

Sandra — Laércio, por favor. Fique longe de mim.

Laércio segura firme no braço de Sandra. 

Sandra — Você está me machucando! 

Laércio — Machucando? Você vai sentir dor na hora que eu meter a mão na sua cara! 

Laércio levanta a mão para bater em Sandra.

Guilherme — (Surge) Tire a mão dela, pai!

Sandra e Laércio olham para Guilherme, parado na porta de casa.

Guilherme — Que decepção, pai... Que decepção!

Congelamento

Fim do capítulo