ALMA GUIA - PRIMEIRO CAPÍTULO
CENA 01 - SERGIPE BRASIL / TARDE
Ano 1996, duas irmãs gêmeas (de 12 anos) correm super felizes nas areias cristalizadas, brincando na tal conhecida Ilha dos Namorados, que faz encontro com o Rio Vaza-Barris.
O alicerce Edgar Menezes, aproveita cada momento especial com suas filhas.
Nas paradas para banhos em áreas delimitadas do São Francisco, e navegação em canoas por corredores estreitos da Gruta do Talhado, estavam eles (...), admirando a natureza.
Edgar - Vem aqui minhas filhas, fiquem perto do papai! (abraça as meninas como se fosse um escudo) - Não quero vocês longe de mim; devemos ficar todos juntos!
A passeata de canoa estava perfeita, até uma terrível tragédia acontecer.
Uma canoa com três bandidos se aproxima, e de repente vários tiros são disparados.
As pessoas entram em desespero, gritando, outras até caindo e se jogando na água; tudo para sobreviver.
A guarda civil mais próxima é acionada para pegar os bandidos. Enquanto isso, Edgar Menezes aproveita que está perto da terra firme e tira suas filhas da canoa o mais rápido possível.
Na casa de praia, Luciana Menezes está terminando de arrumar a cozinha, quando do nada se assusta com seu marido e suas filhas entrando correndo desesperados.
Luciana - O que é isso? (deixa um pano sobre a mesa) - Aconteceu alguma coisa?
Edgar - Eles voltaram amor, precisamos pegar nossas trouxas de roupas e sair daqui, antes que seja tarde demais!
Luciana - Meninas, temos que fazer aquela mesma viagem e preciso que cada uma guarde aquilo de mais importante na sua mochila!
As meninas vão para o quarto sem questionar e o clima continua tenso.
Luciana - Até agora não entendo essa insistência deles de nos perseguir, principalmente em querer te ver morto?!
No quarto, as meninas guardam suas coisas na mochila...
Cristina - A mamãe disse pra gente guardar apenas o que é importante!
Andressa - Meus ursos de pelúcia são importantes, sem eles não consigo dormir sozinha.
Cristina vai até a irmã e toma a mochila a força, jogando tudo no chão.
Andressa - O que está fazendo?
Cristina - Refaz, não quero estas porcarias nos atrapalhando na viagem como da outra vez; você já é grandinha suficiente pra dormir sozinha.
Do nada, passos são escutados pelas meninas e sombras de pessoas refletem dentro do quarto pelos buracos estreitos da parede, fazendo que elas não inicie uma nova briga.
Na cozinha...
Edgar - É isso que não entendo, quem está querendo nos matar?!
O chefe dos bandidos entra dentro da casa e fica de frente com o casal.
Beto - Ora, Ora, parece que desta vez o casal não teve muito tempo pra fugir como das outras vezes! (expressa sarcasmo, segurando um revólver)
No quarto...
Cristina - Vem, precisamos pular a janela e pedir ajuda!
As irmãs gêmeas pulam a janela com todo cuidado e vão andando com bastante cautela até determinado local, até começar a correr.
Na porta de entrada da casa, dois capangas estão em pé de vigia e um deles acaba vendo as meninas fugindo.
Os dois olham um para o outro e decidem ir atrás delas, porque afinal, nada pode passar por despercebido.
As meninas percebem que os capangas estão perseguindo, e elas continuam correndo sem parar.
Cristina - Precisamos nos separar; cada uma dá um jeito neles como sempre fizemos das outras vezes.
Andressa - Combinado!
Elas se abraçam e continuam correndo sem parar; cada uma no seu caminho.
No correr do desespero, Cristina avista seu amigo de rua Marcos, e imediatamente não pensa duas vezes em pedir ajuda.
Cristina - Ei Marcos, preciso muito da sua ajuda! (olha pra trás) - Aqueles mesmos homens de sempre estão nos perseguindo, mas desta vez eles nos acurralaram! (expressa medo)
Marcos - Calma, venha comigo até o meu esconderijo, lá você estará mais segura!
Enquanto isso, Andressa corre pelo meio de uma praça e acaba esbarrando numa freira pelas costas.
Irmã Merazete - Que isso Jesus amado, põem a mão! Que não seja o Diabo! (faz o sinal da cruz e vira pra menina com os olhos arregalados que está terminando de se levantar do chão) - Posso saber por que a mocinha quase me derrubou?!
Andressa - Me desculpa moça, mas preciso chegar até a polícia, meus pais correm grande perigo! (responde quase ficando sem ar)
No quarto de uma casa...
Irmã Merazete - Fiz uns biscoitos de chocolate, receita única da Catedral Aparecida Do Norte! (entrega o prato e um copo de leite) - Fique tranquila, a polícia vai prender os bandidos, e logo você vai estar com seus pais.
Andressa - Obrigada Irmã, por cuidar da minha pessoa e deixar eu ficar na sua casa.
Irmã Merazete - Bom, na verdade esta casa é alugada, minha verdadeira moradia está meio longe daqui, sabe... apenas estou de passagem por conta de um congresso de freiras.
Andressa - É verdade que vocês freiras são os anjos do criador? Porque somente isso explica eu estar aqui, me fartando em biscoitos, segura e salva! (fala meio com a boca cheia)
Irmã Merazete (expressa admiração) - Pelo seu tamanho, pode se ver que já é uma menina bastante esperta.
Andressa - Na verdade minha irmã que é esperta; queria conhecer a tal Catedral da Aparecida Do Norte!
Irmã Merazete - Quem sabe um dia, com seus pais e sua irmã... será uma honra recebe-los na casa do senhor; o coração dele ficará repleto de felicidade! (pega um terço marrom da cômoda) - Agora vamos rezar, para que sua irmã esteja segura e que seus pais continuem vivos.
A freira aproveita que Andressa está concentrada na oração com os olhos fechados, e sai do quarto sem fazer nenhum barulho.
Merazete (encosta a porta) - Finalmente vou me ver livre daquele convento imundo e fedorento; agora eu tenho quem possa ficar no meu lugar, ou não me chamo Meratriz! (ri discretamente)
CENA 02 - CAMPO DAS UVAS / SÃO PAULO / TARDE
Uma grande vinícola está prestes a entrar para o marco da história. O vinho Vallere é o mais fabricado e considerado o melhor de todos na pequena cidade de Recanto, sendo um primordial nas degas das famílias.
No Campo de Uvas, o vento bate forte querendo levar cada folha saudável embora.
O dono Renato Vallere, caminha quase todos os dias no seu vinhedo, acompanhando cada plantação, cada colheita e cada tratamento, pois as uvas são para ele sua grande paixão.
Renato - Posso te falar uma coisa? As minhas duas maiores riquezas estão aqui, e sem elas, não sei o que faria! (dá uma uva na boca de Aline) - Você e as uvas, são tudo na minha vida!
Aline Ventura - Confesso que nunca esperaria que me amasse tanto, o quanto ama as uvas.
Renato - Para com esse ciúmes bobo, já dei inúmeras provas do meu amor por você, e não é atoa que hoje vamos nos casar.
Aline Ventura - Aí... (enche o peito de felicidade) - Verdade, estou tão feliz!
Renato - Te amo!
Aline Ventura - Eu também te amo!
Os dois se olham sem parar, e se beijam loucamente como todo casal apaixonado.
A loja de vinhos fica localizada bem no centro da cidade, e por incrível que pareça, os clientes não param de entrar para levar um bom vinho Vallere.
No escritório...
Henrique - Amigo, os pedidos não param mais de chegar, cada canto deste país está querendo teus vinhos.
Raul - E os que já enviamos, estão pedindo mais, muito mais!!! (abraça Renato de lado) - Vai ser preciso aumentar a fábrica, pois com tantos pedidos assim, não vamos dar conta do recado.
Alberto - Com certeza, temos que dar um jeito nisso o mais rápido possível!
Renato - Sem preocupações rapazes, tenho tudo em projeto. O sucesso apenas está começando, e não vamos deixar ele escapar por coisinhas bobas. (pega um vinho Vallere e abre) - Bora comemorar cada venda, cada lucro e cada acordo fechado. (coloca vinho nas taças e entrega aos amigos) - Positividade, é o que mais precisamos neste momento!!!
Eles brindam a cada venda realizada, o Campo de Uvas aumenta sua produtividade, progredindo cada vez mais, trazendo consigo riquezas sem fim, e conquistando mais famílias de todo canto do Brasil.
CENA 03 - MANSÃO VALLERE / SÃO PAULO / TARDEZINHA
A correria para o casamento está a todo vapor, e Aline Ventura olha-se para o espelho de três face para terminar de fazer sua maquiagem.
Vera - Chega de tanta maquiagem filha, você está linda!
Aline Ventura - Quero estar esbelta mamãe, com todos me olhando e vendo que eu estou bem de verdade!
Vera - Em falar nisso, não sei se foi uma boa ideia o médico te dar alta, sua doença se alastra cada dia mais, um perigo mercer de tanta exposição.
Aline Ventura - Tenha calma mamãe, vai dar tudo certo! (passa um lápis na sobrancelha) - O médico apenas reconheceu o meu amor pelo Renato e caiu em si, e disse o quanto precisamos nos casar.
Vera - Eu sei minha filha, mas você teve sérios problemas no seu parto, e isso afetou muito a sua saúde!
Aline Ventura - Por favor, não toque mais nesse assunto! A Melissa não tem culpa da minha saúde! (levanta e pega Melissa do berço) - Quero que a minha filha cresça com muita saúde e fique longe dessas pessoas ruins.
Vera - Sabe muito bem, que se essas pessoas descobrirem que você teve uma filha antes do casamento, sua honra e dignidade estarão enterradas para sempre.
Aline Ventura - Estamos quase no ano 2000 mil e nada muda! Essas pessoas precisam aprender a entender que nem todos precisa seguir o mesmo rótulo!
Vera - Isso vai demorar... Me dê a Melissa, você precisa terminar de se arrumar.
Aline Ventura (entrega) - Será que o Renato já está na igreja? Não o vejo desde do Campo das Uvas! (expressa preocupação)
Vera - Não precisa temer, o Renato te ama quanto aquelas uvas, e garanto que estará te esperando no altar.
Aline Ventura dá um lindo sorriso de felicidade e de repente começa ter uma tontura.
Vera - O que foi filha? (coloca Melissa no berço e segura Aline) - Está tendo aquelas mesmas tonturas?
Aline Ventura - Foi nada demais, já estou bem! (respira fundo) - Agora vamos, que ainda precisa me ajudar com o vestido de noiva.
No closet, Aline se empolga com seu vestido de noiva (transparecendo imensa felicidade) enquanto as costureiras fazem os últimos reajustes.
CENA 04 - SERGIPE BRASIL / TARDEZINHA
Enquanto Beto caminha de um lado para o outro assobiando, Edgar fica pensando em algo pra reverter a situação.
Luciana - Pelo menos fala por que está atrás da gente? Precisamos resolver isso logo; não podemos mais ficar nessa caça de gato e rato!!!
Edgar - Se foi algo que fizemos de errado, nos fale, porque estamos sem entender, e quanto mais rápido resolvemos isso, melhor!
Beto - Garanto que desta vez vamos resolver! (destrava o revólver e aponta para Edgar)
No meio do clima tenso, Edgar aproveita um jarro de vidro encima da mesa e joga contra o bandido.
Edgar - Corre!!! (pega na mão de Luciana pra fugir)
Furioso, Beto não pensa duas vezes e atira, acertando a bala bem nas costas de Edgar, deixando o pai das gêmeas caído no chão sem reação.
Luciana (grita) - Edgar!!! (expressa desespero) - Meu amor, acorda! (dá uns beijos na boca de Edgar) - Olha pra eu, você vai ficar bem!
Beto - Para de criar esperanças por algo que nunca mais vai existir! (Luciana olha sem entender) - Saia da frente, um tiro na cabeça vai acabar com todo esse sofrimento.
Luciana - Não saio, não saio!!!
Beto - Qual parte ainda não entendeu que o final da vida de vocês acabou?!
A polícia chega no local (cercando toda a casa) e pede que o bandido se renda, e saia com as mãos na cabeça.
CENA 05 - MANSÃO VALLERE / SÃO PAULO / NOITE
Após tantos anos, a família manteve o clássico carro de aluguel, seguindo a tradição dos casamentos.
Enquanto a noiva não descia, alguém misteriosamente dava um jeito de sabotar os freios do Packard.
Duas horas depois, Aline Ventura desce a escada toda feliz e encontra o motorista para fazer suas honras.
No caminho em alta velocidade não permitida, o motorista percebe que tem algo de errado.
Aline - Mais devagar, não precisa correr tanto!
Motorista - Não estou conseguindo...
Um caminhão de madeira avança contra mão com farol alto, forçando o motorista desviar e perder todo o controle do volante.
O Packard é arremessado para fora da pista (passando das grades de proteção da ponte), e caindo beira abaixo entre as árvores do Vale Rústico.
Na igreja, os convidados começam achar estanho o atraso da noiva.
Henrique - Coitado do Renato, está nítido o quanto está preocupado com a tamanha demora.
Vera - Toda noiva atrasa! (fala enquanto segura Melissa no colo) - Apesar que nossa filha está demorando mais que o normal! (expressa preocupação) - O certo era pra você estar com ela, para entrarem juntos na igreja como se deve e não ficar aqui se lamentando, colocando preocupação na gente! (desvia os olhares)
Henrique - Se ela mandou um recado por escrito querendo vir sozinha... o que eu poderia fazer!
Renato continua olhando sem parar a porta da igreja, com o coração apertado e batendo forte (quase saindo pela boca), e algo faz que toda essa aflição acabe de uma vez por todas.
Aline Ventura aparece entrando na igreja com seu lindo vestido de noiva, esbanjando um sorriso radiante.
Vera que está muito inquieta... acaba percebendo algo estranho na atitude de Renato e fica observando.
O cenário muda completamente, fazendo que os móveis da igreja e as pessoas desaparecessem.
Os noivos caminham até ficarem de frente e demonstram o maior sentimento através de seus olhares, o amor.
Os dois começam a dançar ao som de uma valsa e uma onda branca de fumaça se alastra no lugar (escondendo o pouco que sobrou) e quando Renato estende sua mão... surge um vento muito forte e começa puxar Aline com toda força.
As paredes e o teto começam a trincar como se estivesse tendo um terremoto, prestes a desmoronar...
Aline - Socorro!!! (estende a mão) - Me ajuda, não deixe que eu vá embora para sempre!
Renato - Não... (fica desnorteado) - O que está acontecendo?
Vera - É isso que eu te pergunto genro querido, o que está acontecendo?!
Renato volta pra realidade e percebe que está no meio do salão, e nota os olhares dos convidados sob sua pessoa.
Henrique - Se quiser, podemos te trazer algo pra tomar; assim, você relaxa um pouco e para de soar frio!
Renato - Algo terrível aconteceu!
Um policial entra na igreja no mesmo instante e anuncia a morte de Aline, fazendo Renato ficar de joelhos, e gritar pelo nome de sua amada.
Renato - ALINEEEEE!!!
(Congela em Renato)
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