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Escrita por Glalber Duarte.
CAPÍTULO 068
Último Capítulo
CENA
001. RUAS DO RIO DE JANEIRO. NOITE.
(Continuação
imediata do capítulo anterior. FUNDO: “The UnderwaterSiege – John Williams”.
ALAN olha horrorizado para MARIANA, que o olha friamente. Ele engole seco.
MARIANA empurra a arma na cintura de ALAN, intimidando-o).
MARIANA
– Vambora daqui, agora!
ALAN
– MARIANA! Olha o que você fez, eu não posso sair daqui, eu preciso saber como
o LUIZ está!
MARIANA
– Vai me obedecer ou quer levar tiro que nem ele?
(ALAN
olha para LUIZ e olha para MARIANA novamente. Ele cede e os dois andam. CÃM os
mostra de costas, se afastando, até focar em LUIZ, que está caído ao chão).
CENA
002. DELEGACIA. INTERIOR. CELA. RJ. NOITE.
(PEDRO
é jogado na cela, com um monte de homens. O policial fecha a cela e se retira.
PEDRO fica no meio dos presos, que estão em volta dele. Os presos provocam
PEDRO, passando a mão nele).
HOMEM
– Olha só, que bonitinho ele, né?
HOMEM
2 – O que odeia os gays... Nossa... Em nossas mãos, você vai aprender a
amá-los.
(Um
dos homens passa a mão por volta das nádegas de PEDRO, que dá um tapa, tirando
a mão dele de lá, bravo).
PEDRO
– Que é isso? Tá pensando que eu sou o que? Algum viado, por acaso?
HOMEM
3 – Se bem que você é um gostosinho, sabia?
(Um
dos homens empurra PEDRO para o HOMEM 3, que o agarra. PEDRO se solta e empurra
o cara, que cai sentado na cama. Ele levanta e escora o vilão na parede,
enforcando-o).
HOMEM
3 – Assim! Se você quiser sair daqui vivo, vai ter que colaborar com a gente,
ouviu bem?! Vai ter que colaborar!
(PEDRO
encara o HOMEM, que o solta. O jovem respira ofegante e fica sem reação).
CENA
003. RUAS DO RIO DE JANEIRO. NOITE.
(MARIANA
e ALAN andam pelas ruas).
MARIANA
– Você disfarça tá? Não quero ter que te matar aqui a Deus dará. Quero realizar
meu objetivo antes de te assassinar.
ALAN
– O que você quer?! Pra onde está me levando?
MARIANA
– Jura que não sabe? (T) Vamos lá. Explicar... (T) Vou usar você como isca para
soltarem o PEDRO!
ALAN
– Tá achando que vão fazer isso?
MARIANA
– E você acha que vão deixar te matar?
ALAN
– MARIANA se entrega enquanto há tempo, por favor, eu te ajudo, te ajudo a
começar uma nova vida, sim, eu te perdoo por tudo! (T) Pronto! Já te perdoei.
MARIANA
– Perdão não vai te trazer de volta a mim. Nunca! Você me iludiu, me enganou,
me usou. E eu que te amo.
ALAN
– Estava confuso, você não me entendeu.
MARIANA
– E quem me entende?! Você me deixou por “um” qualquer!
ALAN
– Eu nunca tive nada com o SÉRGIO, nunca. Nunca o amei. Você sabe bem de quem
eu gosto e de quem sempre irei gostar.
MARIANA
– Daquele desgraçado, que fez de tudo pra desgraçar sua vida?!
ALAN
– Assim como você agora está tentando fazer comigo! Não pode falar nada.
MARIANA
– Só quero que colaborem comigo e soltem o PEDRO. (T) Sobre você, quem sabe eu
mude de ideia... (T) Agora vamos apressar mais o passo. Estou sem paciência!
(MARIANA
e ALAN andam mais rápido).
CENA
004. CASA DE VITÓRIA. INTERIOR. SALA.
(CARLOS
conversa com VITÓRIA).
CARLOS
– Então foi isso tudo o que aconteceu, tá dando uma pena do ALAN, coitado, isso
tudo acontecer com ele.
VITÓRIA
– Bom que ele foi solto, mas assim, ele perdeu a mãe, infelizmente. Por conta
das armações daquele PEDRO, aquele demônio!
CARLOS
– E você acha mesmo que foi ele quem matou o SÉRGIO?
VITÓRIA
– Eu tenho certeza absoluta. Espero que ele sofra na cadeia!
CENA
005. DELEGACIA. INTERIOR. CELA.
(PEDRO
estende as mãos, de um modo que afaste os caras).
PEDRO
– Calma. Calminha aí... Vocês estão me confundindo. Eu não gosto dessas coisas!
HOMEM
3 – Aqui tu não “tem” o que gostar não, “rapá”! Vai ter que colaborar por bem
ou por mal. Espero mesmo que faça, porque senão... Vai ter que ser a força!
CENA
006. AEROPORTO. EXTERIOR. PISTA DE DECOLAGEM. NOITE.
(O
avião pousa no local).
CENA
007. AEROPORTO. INTERIOR. PÁTIO.
(ÉLCIO
surge, no meio de muitas pessoas. Ele leva sua Bíblia debaixo do braço e suas
malas nos punhos. Cruza o local, até sair do aeroporto).
CENA
008. CASA DE VITÓRIA. INTERIOR. SALA. NOITE.
(CARLOS
fica surpreso com as palavras de VITÓRIA).
CARLOS
– Ai VITÓRIA, desejar mal a alguém é péssimo.
VITÓRIA
– Dane-se! Ele fez muita besteira. Tomara que se foda mesmo.
CARLOS
– As palavras têm poder, hein?
VITÓRIA
– Espero que as minhas realmente tenham.
CENA
009. CELA. INTERIOR. RJ. NOITE.
(O
HOMEM 3 é o primeiro a avançar em PEDRO. Escora o jovem na parede. Ele expressa
horror, nojo. O cara tira a camisa de PEDRO e o agarra, beijando da altura de
seu ombro, até seus lábios. Os dois se beijam. PEDRO chora, de nervoso. O cara
segura PEDRO e o joga na cama, os homens vão atrás. Um deles tira as calças de
PEDRO, o outro, a cueca, deixando o vilão nu. O HOMEM 3 vira PEDRO de bruços,
abre o zíper de sua calça e se lança em cima do rapaz, que expressa dor e
horror. Eles transam. PEDRO fica horrorizado. Se debate, mas os caras o
seguram, imobilizando de fugir. PEDRO grita).
HOMEM
3 – Grita mais, sua puta! Vadia! Grita, vai! Eu sei que tu tá gostando!
PEDRO
– Me larga, me solta, tá doendo.
HOMEM
3 – Isso, grita mais, isso me deixa com mais tesão! Sua puta!
(O
HOMEM dá alguns tapas no rosto de PEDRO, que está desesperado).
CENA
010. DELEGACIA. INTERIOR. ENTRADA.
(LUCAS
sai da sala do delegado).
LUCAS
– Tô morrendo de fome. Espero que RAMON chegue logo com nossos lanches!
(LUCAS
dá de cara com MARIANA e ALAN entrando. Agora, ela aponta a arma na cabeça do
rapaz. Os policiais pegam suas armas e apontam para ela. LUCAS se surpreende e
também faz o mesmo).
LUCAS
– O que você pensa em fazer, MARIANA?!
MARIANA
– Escutem bem o que irei dizer... Eu quero que liberem o PEDRO, em troca da
vida dessa coisinha aqui. (empurra ALAN pra frente dela) Porque senão... Mato!
Mato-o!
(CLOSE
na face de MARIANA).
CENA
011. RUAS DO RIO DE JANEIRO. NOITE.
(CÂM
baixa, de modo que mostre LUIZ, caído ao chão. Ele se mexe aos poucos. Ainda
está vivo, porém perde um pouco de sangue. O jovem se levanta, se esforça para
levantar e anda meio grogue. CÂM está grogue também. LUIZ procura alguém que
possa o ajudar).
LUIZ
(sussurrando) – Me ajudem, me... Ajudem... Por favor.
(LUIZ
entra em uns becos, se apoia nas paredes. Fica de frente a uma escada. Até que
desmorona, rolando escada abaixo e caindo numa calçada um pouco movimentada.
Logo pessoas correm para ajudar o rapaz. Uma delas liga para o hospital).
CENA
012. DELEGACIA. INTERIOR.
(LUCAS
levanta os braços, de modo que tente tranquilizar MARIANA).
LUCAS
– Calma MARIANA. Você ainda tem tempo de desfazer essa burrada, tem tempo de se
entregar. Prometo que faço de tudo pra diminuir sua pena.
MARIANA
– Eu prefiro a morte! A morte!
ALAN
– MARIANA, por favor, ouça o LUCAS.
MARIANA
– Cala essa sua boca, seu viadinho!
(MARIANA
dá uma coronhada na testa de ALAN, o jovem tonteia, mas continua de pé. O local
atingido sangra. ALAN chora assustado).
MARIANA
– Tentem me dar ordens mais uma vez. A regra desse jogo quem faz sou eu. E só
solto ALAN se cumprirem com o combinado.
CENA
013. CELA. INTERIOR.
(PEDRO,
nu, empurra o HOMEM 3, se desvencilhando dele. O cara fica irado e parte pra
cima do rapaz).
HOMEM
3 – Se você pensa que foi só isso, está muito enganado!
(O
cara sussurra com seus amigos e todos partem pra cima de PEDRO. Eles se despem.
PEDRO fica escorado na parede e arregala os olhos. CLOSE em sua face. CONGELA
nela).
CENA
014. DELEGACIA. INTERIOR.
(RODRIGO
entra no local e se desespera ao ver a cena).
RODRIGO
– Gente, meu Deus! MARIANA largue o ALAN agora!
(MARIANA
se vira com ALAN de refém).
MARIANA
– Ora ora... Se não chegou o maridinho do viado... Agora sim, o circo está
formado. (aponta pra ALAN) A gazela, (aponta pra LUCAS) o palhaço, (aponta pra
RODRIGO) o outro palhaço... (T) Pena que nesse picadeiro, eu sou a atração
principal. E nesse espetáculo, no final, as palmas quem ganha, sou eu!
(CLOSE
em MARIANA).
CENA
015. IML. INTERIOR. RECEPÇÃO.
(FUNDO:
“TeardropsOnMyPillow – Chris Joker Band”. MAURO cuida das papeladas sobre o
corpo de LUCIANA, para encaminhá-lo a funerária. Ao fundo, JOÃO está abraçado a
CAMILA, consolando a mulher. Os dois choram).
CENA
016. RUAS DO RIO DE JANEIRO. NOITE.
(CÂM
mostra pessoas andando, em velocidade rápida na cidade do Rio de Janeiro, entre
elas, MAURO, CAMILA e JOÃO abraçados. Eles choram, desolados).
JOÃO
– Temos que ser fortes, daqui em diante. Inclusive vocês dois.
MAURO
– Eu mal consigo acreditar... Ela estava tão bem... Não entendo como essa vida
nos trás surpresas... Um dia, nós estamos aqui, outro dia, não mais...
CAMILA
– Temos que aproveitar cada momento de nossas vidas como se fossem os últimos.
Temos que amar, valorizar, rir, chorar, viver. Sim, viver intensamente!
(Os
três continuam a andar, CÂM afasta, panoramicamente).
CENA
017. CASA DE ÉRIKA. INTERIOR. BANHEIRO.
(ÉRIKA
pega algo no armário do banheiro e o fecha. Ela se vê no espelho, olha bem para
sua face, percebe que ela está sofrida, acabada. A jovem está transtornada de
tanto chorar. Ela levanta a mão. Segura uma gilete. Ela se despe e entra na
banheira, que já está cheia. ÉRIKA levanta um dos pulsos, introduz a gilete
começa a se cortar. Ela volta a chorar e continua se cortando, o sangue esvai,
se misturando com a água. Aos poucos, a tonalidade do líquido vai mudando, até
tornar-se vermelho. A jovem larga a gilete e fica lá na banheira, imóvel. CÂM
afasta, panoramicamente).
CENA
018. DELEGACIA. INTERIOR.
(FUNDO:
“The UnderwaterSiege”. RODRIGO percebe o ferimento em ALAN).
RODRIGO
– O que é isso na testa dele?!
MARIANA
– É pra ele aprender a não me dar ordens. Quem manda aqui sou eu e só o solto
quando liberarem PEDRO!
RODRIGO
– Para com isso, garota, você não vai conseguir chegar a lugar nenhum.
(MARIANA
gira em torno de si, com ALAN, enquanto diz).
MARIANA
– Eu não, mas vocês, todos vocês vão chegar ao inferno. Vou acabar com cada um,
ouviu bem, cada um!
LUCAS
– Não faça isso. MARIANA, o PEDRO já está condenado. Do que vai adiantar você
pedir pra soltá-lo? Ficariam foragidos e mais dia ou menos dia, estariam
presos!
MARIANA
– (risos) Você acha mesmo que seremos presos, acredita ainda que a justiça
desse país presta? (T) Vamos sim, fugir e ficarmos foragidos. Porque a justiça
brasileira é uma merda!
RODRIGO
– Pai... Eu acho que não temos outra alternativa.
(LUCAS
retira as chaves do bolso e as observa pensativo. Nessa hora, RAMON entra na
delegacia, com os lanches).
RAMON
– LUCAS, estava tão che-/
(A
chegada de RAMON distrai MARIANA. O rapaz percebe o que está acontecendo e se
assusta).
RAMON
– O que está acontecendo aqui?!
(ALAN
percebe que MARIANA está distraída e empurra a jovem, se soltando dela. MARIANA
cai ao chão).
RODRIGO
– Vem ALAN!
(ALAN
corre até RODRIGO. MARIANA se levanta rapidamente e atira. FUNDO: “Sinfonia das
Montanhas, Pt. 2 (O Mistério das Pedras) – Marcus Viana”. CORTES nas faces de
LUCAS e RAMON. Eles estão desesperados. EM CÂM lenta, mostra RODRIGO puxando
ALAN pra si e girando, impedindo que o amado leve o tiro. RODRIGO protegeu ALAN
e foi baleado nas costas. ALAN, de frente para RODRIGO, olha horrorizado pra
ele, que se escora em ALAN e cai ao chão. LUCAS, num impulso, atinge em cheio,
MARIANA, na altura da cintura. A jovem cai imóvel ao chão. LUCAS e RAMON se
aproximam de RODRIGO, que desfalece, perdendo muito sangue. ALAN está segurando
RODRIGO nos braços, desesperado).
RODRIGO
– Não fiquem tristes, finalmente chegou minha hora!
ALAN
– RODRIGO, calma, você vai ficar bem!
RODRIGO
– Não, ALAN, eu tô sentindo. Eu cumpri minha missão aqui... Deveria te
proteger. E foi isso que fiz na última ação da minha vida.
ALAN
– Não diga isso, não, isso não pode acontecer. Olha, você vai se curar, vai
ficar bem, os médicos virão aqui, eles vão te salvar!
RODRIGO
(tossindo sangue) – Não tem mais jeito. Parece até que mereci isso, sim,
mereci. Sempre fui um cara ruim, eu destruí sua vida. Acho pouco, bem pouco!
ALAN
– Não RODRIGO, você... (T) (engole seco) Você salvou a minha vida, me fez amar
de verdade, mudou completamente por causa desse amor.
RODRIGO
– Quem deve ser elogiado aqui é você que, por mais que eu tivesse feito essas
coisas, nunca me esqueceu.
ALAN
– Verdade é que não conseguimos controlar nossos sentimentos, mas, se eu ainda
continuo te amando, é porque tenho esperanças ainda em te ter. Tenho sim,
porque você vai sair dessa!
(LUCAS
desliga o telefone celular e o guarda no bolso).
LUCAS
– Os médicos virão em alguns instantes, filho. Por favor, não vá me deixar, não
vá deixar ALAN agora! Nós precisamos de você.
RODRIGO
– Eu não vou aguentar... Chegou minha hora... Eu só tenho o que agradecer a
vocês... Pai me perdoa por não ter te dado orgulho, por ter sido um garoto bem
problemático, por ter te dado muito trabalho... (T) A você RAMON... Eu fiz uma
merda tamanha... Eu quem mandei e te espanquei naquele dia...
(RAMON
fica horrorizado. LUCAS o abraça).
RODRIGO
– Eu sou todo errado mesmo, se não quiser me perdoar, eu entendo... Quase tirei
tua vida por conta desse preconceito, essa coisa que cega as pessoas, que faz
elas nutrirem ódio por outras que tem preferências, definições diferentes do
que as delas... Julgam as outras, pondo Deus no meio. Mas Deus não é isso que
muitos dizem. Ele é amoroso, principalmente. Eu acredito nisso. Agora sim. (T)
Tenho convicção de que minha história acaba aqui. (T) Eu consegui enxergar o
que é o amor. (T) (olha nos olhos de ALAN) Só você, ALAN, só você foi capaz de
me mudar, me fazer enxergar o que é esse sentimento que, por mais que me
fizesse sofrer, me fez viver. Porque eu vivi por você e agora morro pelo mesmo
motivo. Onde quer que eu esteja... Sempre te amarei... Sempre!
(RODRIGO
desfalece, sua cabeça entorta para o lado).
ALAN
(assustado) – RODRIGO? RODRIGO (balança o rapaz) Fala comigo! RODRIGO, meu
Deus, RODRIGO, fala comigo, RODRIGO!
(RAMON
segura o pulso de RODRIGO).
RAMON
– Sinto muito...
(CLOSE
em ALAN, ele se desespera. O instrumental volta a tomar conta da cena. Ele olha
para LUCAS, que está desolado. O jovem chora).
ALAN
– Não, RODRIGO, você não pode ter feito isso comigo, RODRIGO, isso é uma
brincadeira. (balança o jovem) RODRIGO, meu amor, você vai ficar bem, acorda,
RODRIGO, acorda!
(ALAN
tem uma crise de histeria e grita inúmeras vezes por RODRIGO. RAMON acode o
jovem, o retirando de perto de RODRIGO. ALAN grita, desesperado. Ele corre até
LUCAS, que o abraça bem forte. RAMON vela o corpo de RODRIGO, enquanto LUCAS e
ALAN se consolam. MARIANA grita de dor. Está viva, porém, imóvel. LUCAS e ALAN
choram, abraçados. CÂMERA escurece).
CENA
020. CEMITÉRIO. INTERIOR. RJ. MANHÃ.
(O
enterro é dado, cenas curtas dos familiares de LUCIANA – MAURO, JOÃO, CAMILA e
ALAN – são mostradas. Eles caminham pelo cemitério, ajudando a carregar o
caixão da mulher. Os quatro choram incessantemente. Um tempo passa e eles saem.
Até que LUCAS, acompanhado de RAMON, surge no cemitério, com uma coroa de
rosas. FUNDO: “Magicamente – Bebeto”. RAMON espera ao fundo, enquanto LUCAS
caminha, chorando. Ele lembra dos momentos que passou com LUCIANA. Chega ao
túmulo dela e coloca a coroa. O rapaz fica lá, observando o objeto. Passa as
mãos, deslizando, dando a volta pelo local. Ele para, RAMON se aproxima e o
abraça pelas costas).
RAMON
– Pense que, onde quer que LUCIANA esteja ela tá bem... Deve ter sido terrível
pra mesma tudo o que aconteceu...
LUCAS
– Ao pensar que amanhã estarei enterrando a pessoa mais importante da minha
vida... Meu mundo desabou. Não sei se terei forças para prosseguir.
RAMON
– Você tem. Você tem sim e eu irei te ajudar!
(RAMON
beija o rosto de LUCAS. CÂMERA afasta).
CENA
021. DELEGACIA. INTERIOR. CELA. RJ. TARDE.
(CORTA
A MÚSICA. FUNDO: “The Indianápolis Story”. CLOSE vagaroso em PEDRO, que está
deitado no chão, horrorizado pela noite que teve. Ele está sem reação, só consegue
tremer, enquanto os presos caçoam dele).
HOMEM
– Ih, olha lá a bichinha que não aguentou a jeba do negão!
HOMEM
2 – É frouxo... Todo cheio de frescurinha.
HOMEM
3 – Mal ele sabe que não tô satisfeito. Hoje tem mais!
(PEDRO
arregala os olhos. CONGELA).
CENA
022. HOSPITAL. EXTERIOR. NOITE.
(CLOSE
na fachada do hospital. CORTA A MÚSICA).
CENA
023. HOSPITAL. INTERIOR. RECEPÇÃO. RJ. NOITE.
(ALAN
anda de um lugar para o outro. CARLOS ora. VITÓRIA se levanta, para
tranquilizar o jovem).
VITÓRIA
– Tenta manter a calma, cara. Ficar andando de um lado para o outro não vai
resolver nada.
ALAN
– Eu já perdi o amor da minha vida. Não posso perder meu melhor amigo.
VITÓRIA
– Vamos fazer que nem o CARLOS. Rezar, orar, eu não sei. Mas vamos pedir a Deus
pela vida do LUIZ.
ALAN
– Eu tô preocupado com a MARIANA também.
VITÓRIA
– Com aquela vagabunda?! Ela vai ter o que merece!
ALAN
– Eu não consigo sentir ódio de ninguém, por mais que essa pessoa tenha me
feito mal. Não consigo desejar nada de ruim a ela.
VITÓRIA
– A vida dá voltas e nessas, ela vai cair! Se não já caiu, né? (T) Agora, você
fica calmo. Tenha fé, porque tudo vai se ajeitar.
(ALAN
para, pensa, põe a mão na consciência).
ALAN
– Você tem razão. Só vou me fartar fisicamente e emocionalmente se eu ficar assim.
(ALAN
se aproxima de CARLOS).
ALAN
– Vamos falar com Deus!
(ALAN
se ajoelha, VITÓRIA se aproxima e os três falam com Deus).
CENA
024. CASA DE ÉRIKA. INTERIOR. SALA. RJ. NOITE.
(PABLO
se levanta impaciente).
PABLO
– Eu quero saber o que você quer dizer de tão importante pra mim!
ÉRIKA
– Tenha paciência, logo eu vou dizer!
(Alguém
abre a porta. CLOSE na face de PABLO, após, CLOSE na face da pessoa, que fecha
a porta. É LOLÔ, que fala, se aproximando).
LOLÔ
– Oi irmã! O que você quer falar comigo?
ÉRIKA
– Enfim... Eu sei bem que você, irmã e você, PABLO, sentem algo um pelo outro.
E assim, quero te fazer uma pergunta definitiva, PABLO. Quero saber quem você
escolhe.
PABLO
– Como assim?!
ÉRIKA
– Eu quero que decida de uma vez com quem você quer passar o resto de sua
vida... Ou até o amor durar.
PABLO
– Você sabe muito bem de quem eu gosto.
ÉRIKA
– Tanto sei que eu te faço essa pergunta: Quem você escolhe? Eu ou a LOLÔ?
(CORTES
nas faces de PABLO, LOLÔ e ÉRIKA).
CENA
025. RECEPÇÃO. NOITE.
(Um
MÉDICO surge no local. ALAN, CARLOS e VITÓRIA se levantam rapidamente).
CARLOS
– E aí doutor, como está meu irmão?
ALAN
– E a MARIANA?
MÉDICO
– Bom, eu tenho uma notícia boa e uma notícia ruim... Qual é a que vocês
preferem receber primeiro?
(CLOSE
na face de ALAN).
CENA
026. RECEPÇÃO. INTERIOR.
(ALAN
fica assustado, leva as mãos à cabeça).
ALAN
– Eu não posso acreditar, não, não pode estar em coma, não!
(CARLOS
abraça ALAN).
CARLOS
– Calma, a vontade de Deus está sendo feita!
MÉDICO
– O tiro levado resultou nisso, pegou na bacia. Além do mais, sofre grandes
riscos de ficar sem andar...
(ALAN
chora. CARLOS se vira ao médico).
CARLOS
– E a boa notícia?
MÉDICO
– Essa daqui...
(Alguém
surge na recepção, CÂMERA foca nos pés da pessoa e sobe, até focar no rosto).
LUIZ
– O tiro pegou de leve em mim!
MÉDICO
– Ele pegou no ombro, superficialmente. (p/ LUIZ) Apenas recomendo um bom
repouso, que logo a ferida irá cicatrizar.
CARLOS
– Pode deixar que, se depender da gente, ele vai ficar bem rapidinho.
MÉDICO
(p/ ALAN) – Sobre a MARIANA, só Deus mesmo poderá salvá-la, só Deus. Ela está
passando por uma cirurgia bem complicada, parece que a bala se encaminhou na
altura da espinha dorsal. Só um milagre de Deus pra fazê-la andar!
CENA
027. HOSPITAL. INTERIOR. QUARTO DE CIRURGIAS.
(FUNDO:
“The UnderwaterSiege”. Os médicos realizam a cirurgia em MARIANA. Eles abrem o
local atingido pela bala e lá iniciam o procedimento pra retirar o objeto
letal).
CENA
028. CEMITÉRIO. INTERIOR. RJ. DIA.
(FUNDO:
“PrayYou Catch Me – Beyoncé”. CORTES nas faces de CARLOS, LUIZ, LUCAS, RAMON e
ALAN. Eles choram caminhando, enquanto atrás, carregam o caixão de RODRIGO. Até
focar no sepultamento do rapaz. ALAN não cessa de chorar. Perdeu o amor da sua
vida. Todos os presentes jogam rosas no caixão, enquanto os coveiros jogam
terra).
CENA
029. CEMITÉRIO. INTERIOR. CAPELA.
(ALAN
e LUIZ entram na capela. ALAN está desolado. LUIZ o abraça).
ALAN
– Eu não aceito isso, nunca irei aceitar nessa minha vida. RODRIGO se foi, a
única pessoa que eu amei de verdade nessa minha vida!
LUIZ
– Calma, ALAN, ele deve está com Deus.
ALAN
– Não irei conseguir superar isso.
LUIZ
(afasta) – Ei! E eu? Eu gosto de você. Irei te ajudar a prosseguir.
ALAN
– Eu nunca vou prosseguir, nunca! Minha vida acabou a partir de agora.
(ALAN
se retira. LUIZ vai atrás).
CENA
030. RUA. RJ. DIA.
(LUIZ
pega no braço de ALAN).
LUIZ
– As vezes precisamos perder algo pra prosseguirmos.
ALAN
– Eu não tenho mais razão para continuar, perdi a pessoa que mais amo.
LUIZ
– Foi vontade de Deus, devemos respeitar.
ALAN
– Vontade mais injusta. Separar duas pessoas que se amam. Mas Deus julga isso
como pecado, né?
LUIZ
– Eu realmente não sei, os religiosos exageram. Deus é amor, somente. Ele quer
nos ver bem, felizes.
ALAN
– Se Deus quisesse me ver feliz, ele não teria tirado RODRIGO de mim!
(ALAN
se afasta).
CENA
031. UNIVERSIDADE. INTERIOR. SALA DOS REITORES. RJ. TARDE.
(CORTA
A MÚSICA. CARLOS e VITÓRIA entram na sala e dão de cara com ÉRIKA saindo. Eles
estranham, porém se aproximam até um dos reitores).
CARLOS
– Vocês me ligaram e pediram para chamar a VITÓRIA... O que aconteceu?
REITOR
– Queríamos falar sobre algo, mas, por causa dos acontecimentos recentes,
suspendemos as aulas...
VITÓRIA
– Eu tô nervosa. Fale de uma vez!
REITOR
– Vocês são os ganhadores do concurso e dança e ganharam a viagem ao clube!
(VITÓRIA
sorri e abraça CARLOS, festejando).
VITÓRIA
– Gente! Nós a-rra-sa-mos!
REITOR
– Parabéns! Até o fim do ano, não se esqueçam de passar seus dados e tudo mais.
CARLOS
– Muito obrigado mesmo!
(CARLOS
beija VITÓRIA).
CARLOS
– Será nossa lua-de-mel antecipada.
VITÓRIA
– Está me pedindo em casamento?
CARLOS
– Quem sabe...
CENA
032. HOSPITAL. INTERIOR. QUARTO. RJ. NOITE.
(FUNDO:
“TeardropsOnMyPillow”. ALAN está no quarto, observando MARIANA, que ainda está
em coma. O jovem está triste).
CENA
033. HOSPITAL. INTERIOR. RECEPÇÃO.
(ALAN
surge na recepção e LUIZ o aborda).
ALAN
– Você deveria estar descansando.
LUIZ
– Não posso fazer isso, sabendo que você não está bem.
ALAN
– Eu vou conseguir superar. Tenho forças.
LUIZ
– Como MARIANA está?
ALAN
– Em coma. O MÉDICO disse que ela não vai morrer, porém tem grandes riscos de
ficar sem andar. Fico péssimo por isso...
LUIZ
– Depois de tudo o que ela te fez?!
ALAN
– Eu realmente não consigo ter ódio dela, apesar de tudo. Deus fará justiça por
mim. Ou não.
LUIZ
– Te admiro e muito por ser assim. Dela, eu quero distância. MARIANA acabou com
a vida do RODRIGO.
CENA
034. CASA DE LOLÔ. INTERIOR. SALA.
(ÉRIKA
surge na sala, carregando algumas malas. LOLÔ e PABLO a indagam. FUNDO:
“WheelsOf Love – Gino Vannelli”).
PABLO
– Será que é isso mesmo o que você quer?
LOLÔ
– Não teria como voltar atrás?
ÉRIKA
– Não, não mesmo. Vocês se merecem, se amam, desde o início. Percebi que eu
empataria esse namoro. (T) Por mais que você diga que me ama, nunca irá
esquecer minha irmã, sua paixão por ela é desde a juventude.
PABLO
– Você não sabe o que está falando, eu te amo.
ÉRIKA
– Me ama da boca pra fora... Vocês serão felizes sem mim.
LOLÔ
– Fica irmã, por favor, eu deixo ele pra você.
ÉRIKA
– Estou farta de me contentar com suas sobras... (T) Agora eu quero batalhar
pelo meu. (T) Já fiz transferência da faculdade e eu vou fazer intercâmbio no
Canadá. (T) Não quero ficar presa aqui nesse país por um amor que eu nem sei se
vai dar certo. Espero que respeitem minha decisão!
(ÉRIKA
sai. PABLO fica sem reação. Ele se vira a LOLÔ. CONGELA nela).
CENA
035. PASSAGEM DE TEMPO.
(Imagens
de pontos da cidade são mostradas. Passagem de tempo, noite, dia, tarde e assim
sucessivamente. Carros cruzam pelas ruas do local, pessoas andam. LUCAS e RAMON
se entregam cada vez mais ao amor. MAURO, JOÃO e CAMILA preparam a remarcação
do casamento, ele é adiado, por conta dele ter sido desmarcado. LUIZ e ALAN se
unem mais, o protagonista é consolado pelo amigo. ÉLCIO visita algumas igrejas
no lugar onde está. RAQUEL é cada vez mais usada por Deus, pregando a palavra.
ÉRIKA passeia pelas ruas nevadas do Canadá, depressiva, pensando em PABLO, que
está junto de LOLÔ, mas ele não consegue esquecer ÉRIKA. MARIANA acorda e um
dos médicos fala com ela).
CENA
036. HOSPITAL. INTERIOR. QUARTO. RJ. TARDE.
(LETREIRO:
“Dias depois...” CLOSE vagaroso no quarto do hospital. MARIANA está em prantos.
ALAN e LUIZ entram no local).
MARIANA
(desesperada) – Eu quero que vocês me matem, isso, eu quero a morte, quero
ficar perto da minha mãe, mas isso eu não aceito, não aceito!
(MARIANA
está agitada, ALAN se dirige ao MÉDICO).
ALAN
– O que ela tem? O que foi que aconteceu?
MÉDICO
– Eu sinto muito, mas sua amiga está paraplégica!
(FUNDO:
“The UnderwaterSiege”. CLOSE em ALAN, ao fundo, ouve-se os gritos
descontrolados de MARIANA. Os olhos do jovem se enchem de lágrimas).
CENA
037. DELEGACIA. INTERIOR. SALA DO DELEGADO.
(CORTA
O INSTRUMENTAL. LUCAS bota sua carteira aberta na mesa. RAMON bate palmas,
eufórico).
LUCAS
– Dentro de alguns meses, finalmente poderei suceder ALEXANDRE. Serei delegado
daqui.
RAMON
– Eu fico muito, mais muito feliz por isso. Fico assim pela sua felicidade.
LUCAS
– Eu te amo, RAMON, te amo muito!
(LUCAS
beija RAMON. Após, um policial entra com um MÉDICO do IML).
POLICIAL
– O resultado da autópsia do SÉRGIO saiu... (se refere ao MÉDICO) Ele vai lhe
dizer.
RAMON
– Finalmente vamos descobrir quem matou SÉRGIO!
(VOLTA
O INSTRUMENTAL. LUCAS convida o MÉDICO para entrar, RAMON sai. LUCAS senta-se
frente ao MÉDICO).
CENA
038. CELA. INTERIOR. RJ.
(PEDRO
está apático dentro da cela, emagreceu muitos quilos e está depressivo.
Sentado, quieto, no chão, abraçando as pernas, de cabeça baixa. Um dos HOMENS
pega PEDRO pelos cabelos, levantando-o).
HOMEM
– Você não tem o que descansar não, seu baitola. Aqui é gozou, descansou e
parte pra mais outra.
(PEDRO
já nem reage mais, não tem forças. Ele é empurrado contra a parede. O HOMEM
baixa as calças dele e suas calças também e começa a transar violentamente. O
HOMEM morde a orelha de PEDRO, com tesão. Até que o jovem desfalece no chão. O
HOMEM olha pra baixo e se choca. PEDRO começa a sangrar incessantemente).
CENA
039. HOSPITAL. INTERIOR. QUARTO.
(ALAN
se aproxima de MARIANA).
ALAN
– MARI, calma. Eu vou cuidar de você.
MARIANA
– Não, eu quero a morte, médicos, me matem!
ALAN
– Se acalma, por favor...
MARIANA
– Eu não sou mais digna dessa vida, eu vou ao inferno, eu fiz cada besteira.
ALAN
– Mas eu te perdoo por tudo, eu vou cuidar de você, te ajudar.
MARIANA
– Eu não preciso da sua ajuda!
LUIZ
(se aproximando) – Pois é, MARIANA. Ninguém sabe o dia de amanhã. Terá ajuda da
pessoa que você tentou desgraçar a vida. (T) Tentou, mas não conseguiu!
MARIANA
– Eu não quero saber de vocês, seus malditos!
(LUIZ
se vira a ALAN).
LUIZ
– Tem certeza que quer cuidar dela?
ALAN
– Absoluta! Não guardo mágoas, rancores. O que aconteceu, foi pra acontecer.
Deus permitiu isso, não posso fazer mais nada.
CENA
040. DELEGACIA. INTERIOR. SALA DO DELEGADO.
(LUCAS
se levanta, chocado).
LUCAS
– Eu não consigo acreditar nisso!
FLASHBACK
“(SÉRGIO,
ao ter terminado de discutir com PEDRO, saiu do local em disparada. Perplexo,
não sabia o que fazer. PEDRO estava certo, por mais que SÉRGIO amasse ALAN,
nunca o teria para si, pois sabia que ALAN amava RODRIGO. SÉRGIO entra em sua
casa na comunidade e vasculha a sala, procurando algo. Encontra e põe no bolso.
Corre pelas ruas, desesperado. Chega à sua outra casa, cruza a sala, sobe as
escadas e entra no quarto onde ALAN está. SÉRGIO observa o amado, chorando. Sai
do local em disparada, desce as escadas novamente e se encaminha à cozinha.
Tira o objeto do bolso. É chumbinho. Ele pega um copo com água e abre o pequeno
frasco. Hesita, porém segue firme e coloca o conteúdo do frasco na boca. Após,
bebe a água toda. Cambaleia, surgindo na sala. Sai à varanda e lança o frasco
longe, que se quebra no chão, ao atingi-lo. CLOSE nos cacos, ao fundo, vê-se
SÉRGIO entrando novamente na casa. Ele tosse sangue, muito sangue. Se encaminha
ao centro da sala e desfalece. Morre, ali mesmo)”.
FIM
DO FLASHBACK
MÉDICO
– De acordo com as nossas investigações, o jovem SÉRGIO não foi assassinado,
mas sim, se suicidou. Não encontramos nenhuma arma do crime no local e de
acordo com os exames, a morte foi provocada por veneno, o famoso “chumbinho”.
LUCAS
– Então PEDRO esteve certo o tempo todo! Ele não matou mesmo SÉRGIO. Preciso
avisá-lo!
(LUCAS
sai em disparada do local).
CENA
041. CORREDORES DA DELEGACIA.
(LUCAS
cruza pelos corredores. Adrenalina).
CENA
042. CELA. EXTERIOR.
(LUCAS
está imóvel no local. CÂMERA se aproxima até dentro da cela onde PEDRO está. O
jovem está caído, em volta, uma poça crescente de sangue. Um dos HOMENS se
dirige à LUCAS).
HOMEM
– Tentamos gritar... Fizemos isso, mas não deu tempo. Ele tá morto!
(Trecho
00:50 pra frente do instrumental é rodado. LUCAS se vira à CÂMERA, CLOSE em seu
rosto, expressa horror).
CENA
043. IMAGENS DO RIO DE JANEIRO. TARDE/NOITE/DIA.
(Imagens
da mudança de tempo da cidade. CLOSE no céu, rapidamente muda. Amanhece na
cidade).
CENA
044. HOSPITAL. INTERIOR. QUARTO. DIA.
(ALAN
está no telefone-celular e se choca com a notícia que recebe. CORTA O
INSTRUMENTAL).
ALAN
– LUCAS me diz que isso não é verdade, pelo amor de Deus!
LUCAS
(ao fundo) – Você se choca com isso?
ALAN
– Apesar de tudo, ele é meu primo!
LUCAS
– Eu te entendo... Mas ele mereceu isso, acho até que foi pouco. Foi
incriminado por algo que não cometeu...
ALAN
– SÉRGIO se matou por mim... Por mim. Vou levar essa culpa pelo resto da vida.
LUCAS
– Mas você nunca o amou, ALAN. Pelo contrário, deixou bem claro. Ele poderia
superar.
ALAN
– Mas o amor de verdade é assim, não conseguimos esquecer.
LUCAS
– E seu coração, como anda?
ALAN
– Batendo forte, muito forte pelo RODRIGO. Um dia iremos nos encontrar, esse
dia chegará.
LUCAS
– Pode ser mais cedo do que você imagina!
ALAN
– Como assim? (T) LUCAS? LUCAS? (T) Merda! A ligação caiu!
(ALAN
se vira a MARIANA, que está dormindo).
ALAN
– Não sei como eu a irei revelar que PEDRO está morto!
CENA
045. HOSPITAL. INTERIOR. RECEPÇÃO. NOITE.
(ALAN
e LUIZ conversam com o MÉDICO, que trouxe MARIANA, na cadeira de rodas, para o
local).
MÉDICO
– Ela está com alta, mas vocês sabem. Nada de esforços, nem físico, nem
emocional. MARIANA tem que ficar um bom tempo em casa.
ALAN
– Pode deixar MÉDICO, ela ficará bem.
LUIZ
(p/ ALAN / sussurra) – Você vai leva-la para sua casa mesmo?
ALAN
– O único jeito.
LUIZ
– E se ela descobrir que PEDRO morreu?
ALAN
– Farei de tudo pra que isso não aconteça!
MARIANA
– O que vocês dois estão cochichando aí? Estão zombando de mim, né? (bate nas
próprias pernas) Só porque essas merdas resolveram parar, só porque eu nunca
mais nessa vida irei andar. Mas caçoem, sim, vocês podem!
ALAN
– Calma MARIANA, que isso! Não estamos falando nada de mais.
MARIANA
– Eu mereço esse calvário! Se quiserem me deixar na rua, me deixem. Eu acabei
com a vida do “bonito” lá.
ALAN
– Não, MARIANA! Ele poderia ter ficado bem.
LUIZ
– Se não está, não é?
ALAN
– Como assim?
LUIZ
– Onde quer que ele esteja ALAN. Está muito melhor do que aqui.
(ALAN
fica confuso).
ALAN
– Vamos logo, senão fica tarde.
(ALAN
pega na cadeira de MARIANA e empurra a jovem, saindo do local, com o amigo. Ele
e LUIZ acenam para o MÉDICO).
CENA
046. CASA DE MAURO. INTERIOR. SALA.
(CAMILA
está em prantos, pela morte de PEDRO. JOÃO a consola).
MAURO
– Merecer, ele mereceu, mas essa morte foi terrível.
JOÃO
– Não desejaria isso nem ao meu pior desafeto.
CAMILA
– Espero que Deus tenha compaixão de nosso filho...
(Nesse
momento, ALAN, LUIZ e MARIANA entram na sala, eles ouvem a frase de CAMILA.
CLOSE em MARIANA, a jovem está encabulada).
MARIANA
– Deus ter compaixão de PEDRO? Por quê?
JOÃO
– Não tá sabendo que ele faleceu?
ALAN
– Tio, não!
(MARIANA
fica desesperada).
MARIANA
– Eu não posso, não posso acreditar nisso, PEDRO não, ele não me deixou!
JOÃO
– Agora que eu comecei, vou terminar... Ao que tudo indica, PEDRO foi vítima de
estupro na cadeia, por diversas vezes, até não aguentar...
(FUNDO:
“Night Search”. MARIANA grita, louca, histérica. Ela se debate na cadeira de
rodas. Manobra o objeto e sai em disparada da casa. ALAN corre atrás dela).
CENA
047. CASA DE ALAN. EXTERIOR. VARANDA/RUA. RJ. NOITE.
(MARIANA
corre com a cadeira de rodas. ALAN vai atrás, mas se atrapalha, tropeça e cai
ao chão. MARIANA toma distância e chega à calçada, onde despenca da cadeira e
cai na rua movimentada. ALAN se levanta, MARIANA olha pra ele, CLOSE na face de
ALAN. Barulho de buzina de caminhão. A expressão facial de ALAN muda: De
preocupação a horror. LUIZ chega).
LUIZ
– ALAN, cadê a MARIANA?
ALAN
– Ela... Ela... Ela...
(ALAN
se levanta, não consegue falar. Ele abraça fortemente o amigo. CÂMERA se afasta
deles, até se aproximar no enorme movimento de curiosos na rua. CLOSE no corpo
de MARIANA, que está irreconhecível. A alma da jovem desencarna. Ela tenta fugir,
mas almas malignas seguram-na, puxando para baixo do asfalto – alusão ao
inferno – CÂMERA afasta do local).
CENA
048. PASSAGEM DE TEMPO.
(Imagens
da cidade do Rio de Janeiro são mostradas. Os enterros de MARIANA e PEDRO são
dados. CAMILA está inconsolável. RAQUEL é ungida como obreira da igreja. Ela
está feliz da vida. ÉLCIO prega em várias igrejas do estado. Começam os
preparativos do casamento de JOÃO e CAMILA. CARLOS e VITÓRIA se amam. PABLO
resolve separar-se de LOLÔ, por amar ÉRIKA de verdade).
CENA
049. IGREJA. EXTERIOR. RONDÔNIA. DIA.
(ÉLCIO
se aproxima de uma igreja, a mando de Deus. Ele observa uma mulher impondo
ordens a um jovem).
MULHER
– Depois que terminar isso daí, quero que lave a louça da igreja (T) Olha, vá
atender ao moço que vem vindo, porque eu tenho unhas a fazer, quero estar
maravilhosa para a festividade. Não demora, quero essa igreja um brinco!
(A
MULHER se retira. O jovem se aproxima de ÉLCIO).
ÉLCIO
– Aqui que é a igreja “Deus e Amor”?
JOVEM
– Sim, sim. Ela mesma, por quê?
ÉLCIO
– Vejo que você é um grande rapaz. Poderíamos ter uma conversa em particular?
Tenho algo de Deus a te dizer.
JOVEM
– Sim, mas você sabe, é bem rápido, senão minha tia capa meu couro (risos
forçados, tristes).
ÉLCIO
– Eu entendo!
(ÉLCIO
e o JOVEM se retiram dali).
CENA
050. RUAS DE RONDÔNIA. DIA.
(O
vento bate nas árvores. ÉLCIO e o rapaz conversam pelo caminho).
JOVEM
– E então é isso tudo pelo o que eu passo. Eu não sei. Sinto-me bem conversando
contigo. Você é um grande homem de Deus.
ÉLCIO
– Assim como Davi, que foi o último a ser chamado para ser ungido, é você.
Muitos não dão nada por ti, muitos te tratam mal, te humilham, mas a glória da
última casa será melhor do que a primeira. Sim, Deus vai te exaltar, vai fazer
com que você seja tão usado na casa dele, quanto sua tia, sua avó e os outros.
JOVEM
– Eles não me entendem, não cuidam de mim, só me dão ordens.
ÉLCIO
– Mas Deus te conhece, sabe da bondade em seu coração. Ele sabe que você é uma
boa pessoa. Só não mude por causa desses problemas e nem se afaste de Deus por
causa disso. Ele vai te exaltar, assim como fez com José. Foi vendido pelos
próprios irmãos.
(O
JOVEM chora, emocionado).
JOVEM
– Eu nem sei o que lhe dizer, só tenho o que agradecer.
ÉLCIO
– Não me agradeça, eu não faço mais do que minha obrigação de pregar a palavra
de Deus e fazer a vontade dele. Não sou nada!
(ÉLCIO
abraça o JOVEM).
ÉLCIO
– Cumpra as ordens de sua família, eles precisam de você. Irão precisar ainda
mais, quando Deus lhe conceder sua exaltação. Não se abata por nada, crie mais
forças, além das que tem e prossiga. Não desista, não pare!
JOVEM
– Deus te abençoe! Farei assim como me diz.
ÉLCIO
– Não é de mim isso, mas sim, do Senhor!
CENA
051. IGREJA. EXTERIOR. RJ. DIA.
(FUNDO:
“Nem Luxo, Nem Lixo – Rita Lee”. CÂMERA mostra pontos da igreja, no exterior.
Sobe das escadarias até a cruz, no topo, afastando-se e mostrando o local por
completo).
CENA
052. IGREJA. INTERIOR. ALTAR.
(JOÃO
está nervoso, ele se vira a MAURO).
JOÃO
– CAMILA está demorando. Muito! Parece que desceu pelo vaso.
MAURO
– (risos) Larga de besteira! Ela logo estará chegando aí.
(CAMILA
surge na porta da igreja).
MAURO
– E não é que a bendita não morre tão cedo?
(A
marcha nupcial é tocada. CAMILA está deslumbrante no vestido. Ela é levada por
ALAN até o altar. O jovem puxa a orelha de JOÃO, dando broncas, irônico. Após
isso, se dirige ao lado de LUIZ. Os presentes no local sentam-se. A música toma
conta do local e o casal declama o que é pedido pelo padre).
PADRE
– E eu vos declaro marido e mulher. Podem se beijar!
(JOÃO
olha para CAMILA, os dois sorriem e após, se beijam intensamente).
CENA
053. IGREJA. EXTERIOR. DIA.
(JOÃO
e CAMILA saem da igreja, ovacionados e cobertos por uma chuva de arroz. Ela
fica no topo das escadarias e vira-se de costas, com o buquê nas mãos. Os
personagens da trama estão presentes no local).
CAMILA
– Vamos lá! Dou-lhe uma... (T) Dou-lhe duas... Dou-lhe três!
(CAMILA
lança o buquê, CÂMERA segue o trajeto do buquê, até parar em mãos
desconhecidas. Todos os olhares se voltam à pessoa que pegou. FUNDO: “PrayYou
Catch Me”. CLOSE na face de ALAN, ele não acredita. Os outros presentes se
afastam como se soubessem de tudo o que se trata. ALAN corre até a pessoa, ela
é RODRIGO. ALAN tateia o rosto do amado, incrédulo).
ALAN
– Mas, mas, mas... Como assim?!
RODRIGO
– Desculpa ALAN, desculpa por tudo. Eu expliquei a todos, menos a você. Queria
fazer uma surpresa e pelo jeito, quase te matei de susto.
ALAN
– (ri nervoso) Eu não posso acreditar no que estou vendo!
RODRIGO
– Eu não morri. Pelo contrário...
FLASHBACK
“(Os
médicos se preparam para fazer a autópsia em RODRIGO, mas percebem que o jovem
está vivo).
MÉDICO
– Parem! Ele tá vivo! Tá vivo!”
FIM
DO FLASHBACK
RODRIGO
– Tive um choque emocional, pensaram que eu estivesse morto, mas não, eu
resisti. Eu me mantive vivo, consegui ter forças por causa desse amor que eu
sinto por você.
ALAN
– Onde você esteve esse tempo todo? E o enterro? Você estava no caixão, não
estava?
RODRIGO
– Não, não estava no caixão. O velório foi com o caixão fechado, não percebeu?
(T) Contei com a ajuda de meu pai, RAMON e LUIZ. Corria risco de vida, né? E se
MARIANA fugisse? E se PEDRO saísse da cadeia? (T) Também estava muito mal, à
beira da morte, praticamente. (T) Meu pai me isolou num hospital e eu fiquei
esse tempo todo lá me recuperando.
(ALAN
chora. RODRIGO leva suas mãos ao rosto dele, enxugando).
RODRIGO
– Ei! Não precisa ficar assim. Limpa esse choro, eu tô aqui com você! Estou
aqui por você. Voltei, pra você!
(RODRIGO
beija o rosto de ALAN e se aproxima da CÂMERA, deixando o jovem no local).
RODRIGO
– Pra vocês, uma história termina aqui. Uma trama cheia de conflitos, dramas,
amores, desamores... E o importante que, apesar de tudo, o amor prevaleceu e a
vontade do público venceu. (T) Obrigado por acompanhar essa história por quase
dez meses, obrigado por serem pacientes, por terem moldado a trama com suas
sugestões ou críticas... (T) Só temos o que agradecer... (T) Pra mim e pro
ALAN, nossa história começa aqui, nossa linda história de amor, sem dúvidas e
com uma única certeza: Só o amor importa!
(RODRIGO
volta a se aproximar de ALAN, os dois se beijam, felizes, apaixonados. RODRIGO
abraça ALAN e o gira pelo ar. CÂMERA congela e enfim,
chegamos ao...)
FIM
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