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EPISÓDIO 01
Escrito Por GLALBER DUARTE
Cena 01 – Quarto de CHAPEUZINHO – Int. – Dia.
“Era Uma Vez...”
NARRADOR
Ah, não! De novo não! Palhaçada... Toda hora esse clichê do
“era-uma-vez” em todos os contos de princesas? Como se a protagonista de nossa história
fosse realmente uma princesa... (T) Vamos parar de “blá-blá-blá” e começar logo
a história.
(Chapeuzinho surge em seu quarto. Ela está dormindo. Sua mãe
adentra o local. Ela se enfurece).
(voz entediante)
“Era Uma Vez...”
MÃE
(p/ o narrador) Não vem querendo me interromper com este
estereótipo de “era-uma-vez” não! Nem vem que não tem. (p/ si mesma) Já faz
dias que esta preguiçosa não sai desta cama. Inventou um monte de coisas.
Doenças, menstruação, TPM... Como se eu acreditasse. Ainda mais nesta história
de “TPM”. Ela é uma pirralha que nem sonha em ter estas coisas de adulta. (T)
Exagero, de adolescente. (T) Exagero, de pré-adolescente. (T) Ah, ela tá mesmo
com idade de ter estes problemas. Mas eu conheço muito bem a filha que possuo.
Reconheço suas mentiras. Que são muitas. E/
NARRADOR (histérico)
Chega! Che-ga. “Cê” fala muito, “muié”. Fala pelos
cotovelos, orelha, nariz e sabe lá Deus onde mais. Deixe-me iniciar a história.
MÃE
Ué, mas não já começou?
NARRADOR
Não depois do...
"Era Uma Vez..."
NARRADOR (eufórico)
Ê! (T) Viva! Sem interrupção... (T) Não contando esta daqui,
né?
(pigarro)
"Era uma vez...
Uma família como qualquer outra.
A filha, preguiçosa
E a mãe, batalhadora".
MÃE
Posso continuar, narrador?
NARRADOR
Pois não, mãe! (T) Da Chapeuzinho, é claro.
(Mãe suspira, aliviada. Aproxima-se de Chapeuzinho, lhe
arrancando o edredom, assim tirando-lhe a única parte aquecida do local. Com
este gesto, Mãe faz Chapeuzinho cair da cama. Nem a queda a fizera acordar).
MÃE (histérica)
Acorda, vagabunda, rapariga, arrombada, viada, puta, (...)
Preguiçosa, lerda, molenga, (...) Desgraçada, filha da mãe, sedentária...
Acorda!
(Mãe puxa Chapeuzinho do chão, que enfim acorda.
Estarrecida, emburrada, mal-humorada).
CHAPEUZINHO
"Afê"! Já não se pode mais dormir direito nesta
casa?!
MÃE
Como se você tivesse virado a noite. Se continuasse assim,
colocaria na porta de seu quarto: "Aqui jaz a 'não-princesa' Chapeuzinho
Vermelho". Garota, já tinha até gente pensando que você estava morta. Está
pior do que a Bela Adormecida ou a Branca de Neve, quando fora envenenada.
Ainda bem que não me submeti a lhe dar um beijo. Onde já se viu? A história
seria boicotada pelos falsos moralistas de plantão...
CHAPEUZINHO
Além de ser boicotada por um beijo entre duas pessoas do
mesmo sexo, seria também por incesto e pedofilia... (T) Gente quem, sua
lunática? Esqueceu que moramos numa floresta isolada? Flo-res-ta. I-so-la-da.
Entendeu ou quer que eu desenhe?
MÃE
Como se morássemos no Polo-Norte...
CHAPEUZINHO (tédio)
"Querêda", aqui só tem animais. Seres que não
falam. Ou você dá uma de "Branca de Neve" e fala com os animais?
MÃE
"Me" poupe, Chapeuzinho. Sua avó/
CHAPEUZINHO (interrompe)
Aquela velha exploradora que só quer aproveitar da minha boa
vontade pra levar comida?! (T) Da minha boa vontade não, e sim das suas ordens,
é claro!
MÃE
O Lobo/
CHAPEUZINHO
Aquela bola de pêlos gorda e sedentária?! Cansei de ser
forçada a abraçá-lo e voltar pra casa cheia de cabelo. Já teve até gente que me
confundiu com ele por causa disso...
MÃE (manhosa/encabulada)
O Caçador... (risos envergonhados)
CHAPEUZINHO
Aquele compridão?! Só você que vê algo atraente nele. O cara
só quer saber de se enfeitar “toda”. Toda mesmo, pois ele é mais “afetado” do
que uma pessoa afetada por uma doença.
MÃE
Ah, filha, ele não “desmunheca” tanto assim. Apenas é um
pouquinho “solto”, exagera um “tiquinho”. (T) Ele recentemente, passou no
projeto da cura gay. Concluiu com êxito. Virou homem agora.
CHAPEUZINHO
Putz... (tenta segurar, mas solta uma gargalhada) Prefiro
nem comentar sobre esta baboseira. (T) E então, o que “cê” quer?
MÃE
Sua avó está precisando de comida. Você tem que ir levar.
CHAPEUZINHO
Praquela velha morta de fome?! Por que você mesma não vai?
MÃE
Não sou nenhuma desocupada pra isso. Tenho mais o que fazer!
CHAPEUZINHO
Pra ficar flertando com aquele “purpurinado” do Caçador cê
tem tempo, né?
MÃE
Ai garota para de ciúmes... Deixe sua mãe viver feliz/
CHAPEUZINHO
Com a indiferença do Caçador?! Afê!
MÃE (orgulhosa)
Ele vem almoçar aqui hoje...
CHAPEUZINHO (evasiva)
Ih! Eu não fico aqui pra ver esta bizarrice nem morta! Ter
que deparar com um gay que força a ser hétero? Nunquinha. (T) Cadê a cesta,
mãe?
(Chapeuzinho e Mãe saem do quarto).
Cena 02 – Sala de Estar – Int – Dia.
(A mãe de Chapeuzinho estende sua mão, que carrega a cesta,
repleta de alimentos).
MÃE
Cuidado filha. Vê se não demora, hein?
CHAPEUZINHO
Prometo voltar após o Caçador ter vazado daqui.
(A mãe de Chapeuzinho a beija, com ternura, em seu rosto).
MÃE
A mãe ama você, filhota.
CHAPEUZINHO (melosa)
Também te amo, mamãe. (T) (normal) Êpa! “Vâmo pará” de
melação, pois não sou abelha. Deixe-me ir.
(Chapeuzinho sai. Sua mãe vai até a porta).
MÃE
Não se esqueça do casaco. E não vá pela floresta!
CHAPEUZINHO (ao fundo)
“Como se eu estivesse sem casaco...”
(A mãe se volta à sala. Para. Pensativa. Volta em si.
Animada).
MÃE
É melhor eu preparar uma comidinha bem gostosa, pra ver se
conquisto de vez aquele gato do Caçador.
(A mãe sai de cena, enérgica).
Cena 03 – Floresta – Dia.
(Chapeuzinho cruza por algumas pessoas. Só se ouve a voz
delas, ao fundo).
HOMEM
“Lá vai a office-girl...”
CHAPEUZINHO
E lá vem o perneta do Saci!
HOMEM 2
“Lá vai a escrava de vovozinhas...”
CHAPEUZINHO
E lá vem o “pé-virado” do Curupira...
“Chapeuzinho fala com mais uns muitos “malas” em pessoa, até
passar por todos os mesmos. Ela, então, começa a cantarolar...”
CHAPEUZINHO
“Comé-quié”?! Agora vou ter que cantar?
NARRADOR (sereno)
É, Chapeuzinho, é... (sério) O que está no roteiro, cê tem
que fazer!
(Chapeuzinho bate o pé, olhando pro “nada”, já que o
Narrador não aparece na cena, só sua voz).
CHAPEUZINHO
Eu não sou obrigada a nada!
NARRADOR
Também não vai ter cache no final da história, tá?
CHAPEUZINHO (nervosa)
Não! Perai! Afê! Fazer o que, né?
NARRADOR (entediado)
Continuando...
“Chapeuzinho passa a cantarolar...”
CHAPEUZINHO
“Eu vou, eu vou, pra casa agora eu/”
NARRADOR (interrompe)
“Pra casa” de quem, querida? Tu não estás na história da
“Branca de Neve”, muito menos em direção à sua casa.
CHAPEUZINHO
Não enche, tá? (T) (pigarra) “Vamos passear no bosque,
Enquanto seu Lobo não vem.
Uhu!
Vamos passear no bosque,
Enquanto seu Lobo não vem!”
(Chapeuzinho dança, toda descontrolada, enquanto canta).
“De repente, tão mais que de repente, Lobo aparece, para
assustar Chapeuzinho”.
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